Troca justa

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Syara

Eu vou com você! - Lyan me diz procurando qualquer sinal positivo em meus olhos.

- Lyan- eu disse, procurando uma maneira gentil de expressar o que eu precisava dizer.
- Eu sei que isso pode ser difícil de entender, mas é melhor para nós dois se não ficarmos juntos. Eu sou uma rainha com responsabilidades, e não posso abandonar meu povo no mundo mágico.
Lyan procurou em meus olhos por qualquer sinal de esperança, mas eu sabia que não podia lhe dar falsas ilusões.
Ele então fez uma pergunta que eu temia ouvir:
- Não existe nada? Nenhuma possibilidade de ficarmos juntos?"
Eu poderia dizer que havia.
Eu fechei os olhos, tentando controlar minhas emoções. No entanto, minha expressão entregou o que eu estava sentindo e, antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, Lyan me beijou.
Seus lábios eram macios e seus carinhos me envolviam. Eu comecei a retribuir, mas logo me afastei, sabendo que aquele beijo poderia custar nossa amizade.

Seus olhos verdes se arregalaram com a surpresa, mas ele logo entendeu a situação.
- Isso não pode acontecer, Lyan. Já é difícil demais ter que te deixar aqui nas circunstâncias atuais, imagine dentro disso - tentei falar calmamente, ajustando minha postura.
- A gente nunca mais vai se ver? - ele perguntou sentando no sofá e olhando pela janela.
- Eu posso vir ao mundo natural, mas não posso viver aqui. Aos 22 anos, já começo a ficar ligada a Meríades - respondi sentando na minha mesa, próxima ao sofá.
- Sya, eu... Eu sempre imaginei que você iria para Meríades, mas essa profecia complica tudo. Te coloca em risco, em algo desconhecido. Não consigo imaginar um cenário longe de você - ele disse, levantando-se e vindo em minha direção, sem deixar de olhar nos meus olhos.
- Lyan, só tenho 30 dias aqui, os últimos em que não preciso carregar o peso das responsabilidades sobre mim. Não quero tornar tudo ainda mais difícil. Você sabe que eu te amo - falei de uma vez, levantando-me e ficando de frente para ele.
Ele sorriu, aquele sorriso que eu amava, mas pude sentir a dor nele também.

Não sei por quanto tempo nos beijamos, mas paramos quando o telefone dele começou a tocar repetidamente - era o pai dele.
Ouvi-o pedir desculpas enquanto se afastava para atender o telefone. Enquanto isso, eu fiquei parada olhando para os carros e pessoas passando pela avenida mais movimentada de São Paulo - sabia que sentiria falta disso.
No entanto, eu precisava ser honesta com Lyan. Não podia dar-lhe falsas esperanças, já que nossos caminhos eram diferentes. Ele me chamou pelo nome.
"Sya", disse suavemente.
- Lyan, isso não pode acontecer de novo. Vai ser complicado e acabará machucando nós dois. Minhas responsabilidades já são difíceis o suficiente - não quero me lembrar dos nossos últimos momentos com dor", disse sinceramente.
- Eu entendo, Syara. Ainda estou tentando lidar com tudo o que está acontecendo - disse ele, pegando suas coisas.
Não pude suportar vê-lo sair, não queria olhar nos olhos dele depois de ter conhecido seus beijos.

A porta da sala se abriu e fechou, e com a saída dele, seu perfume se dissipou pelo ar. Foi então que finalmente pude chorar, algo que raramente fazia.
Ao longo dos anos, conheci meu destino e o que teria que assumir - minha profecia me ensinou a não me apegar demais ao mundo natural, afinal, eu não pertencia a ele. Mas Lyan e eu éramos apenas crianças quando nos conhecemos. Com o passar do tempo, não consegui evitar que meus sentimentos por ele crescessem. No entanto, pude impedir de demonstrá-los, de compartilhá-los com Lyan.
Sabia que não poderíamos ser felizes para sempre. Não poderíamos ficar juntos sem um prazo de validade, pois como poderia amar alguém e ter que deixá-lo para sempre quando o dever me chamasse? Seria injusto, egoísta e desleal da minha parte, coisas que vão contra meus maiores valores.

O meu dever devia vir antes da minha felicidade, pelo menos aqui no mundo natural. Se eu tivesse sido criada em Meríades seria mais fácil, se Lyan fosse de Meríades, tivesse poderes, poderíamos ficar juntos para todo o sempre, mas não foi assim, o destino sempre tirando com minha cara.

Eu já havia me preparado para esse momento, já havia ensaiado nossa conversa e despedida, mas não imaginei que fosse doer tanto.

Passei o dia inteiro no modo automático, trabalhando no escritório, e agora mamãe e eu estávamos voltando para casa, no fim da tarde, para mais um momento difícil, Papai queria conversar comigo urgentemente no jantar.

Enquanto eu desço os degraus em direção à cozinha, ouço a voz dele conversando com minha mãe.
- Boa noite, minha filha - diz papai, beijando o topo da minha cabeça.
- Boa noite, papai - respondo, me sentando à mesa que já estava posta.
- Tudo bem? - ele se senta ao lado de mamãe, ambos do outro lado da mesa.
- Está tudo bem - minto - e você?
- Estou bem também - ele sorri forçado. Acho que herdei isso dele - não sabemos disfarçar muito bem.
- Então, o que queria falar comigo? - sou direta, servindo-me da lasanha que mamãe preparou. Mamãe observa tudo atenta, pronta para intervir em qualquer faísca que houver.
- Bem... prefiro ser direto. Acho que seria importante para você chegar ao palácio alguns dias antes do seu aniversário.

Uau, é incrível como herdei tantas qualidades de alguém em particular.
- Por quê? - perguntei, arqueando a sobrancelha e aguardando sua resposta.
- Bem, seria interessante se você chegasse antes porque eu preciso apresentá-lo a algumas pessoas e situações antes do início do ensaio - ele tentou esconder algo.
- Com quantos dias de antecedência?perguntei, já sabendo que o "tempo" seria um problema.
- Haverão algumas comemorações nas províncias, se iniciando em Anistal e outras que são importantes para a comunicação com nossos líderes que cuidam das províncias. É importante que você tenha uma ótima relação com todos eles em sua coroação no próximo ano - ele disse enquanto começava a comer o jantar.
- Quantos dias de antecedência? - perguntei novamente, percebendo que ele não tinha respondido e já imaginando o motivo.
- As festas começam em cinco dias - ele disse de uma vez, soltando o ar que segurava.

Soltei o talher com delicadeza sobre a mesa, observando a troca de olhares entre mamãe e papai, enquanto tentavam adivinhar minha reação. Eu não pretendia surtar, pelo contrário, tinha uma condição a ser cumprida em troca da minha presença nas festividades.
- Irei com uma condição - disse com seriedade, fitando-os nos olhos. Papai pareceu surpreso, pois geralmente eu ficaria calada e não responderia de imediato.
- Qual é a condição, Sya? - Eles me olharam tensos.
- Quero uma reunião particular com o sábio e a feiticeira mais antigos da Província de Videns amanhã, no Palácio de Meríades - eu disse firmemente.
Senti a hesitação e o receio em seus olhares.
- Como assim, Syara? - Mamãe falou irritada. - Eu não aceito isso!
- Essa é a minha condição. Caso contrário, Meríades só me verá no dia do meu aniversário - juntei as mãos, mantendo o contato visual com meus pais. "- e por favor, marquem a reunião para a tarde, assim eles podem chegar ao palácio tranquilamente para o chá da tarde.

Papai se ofereceu para solicitar uma reunião com Albus e Serita para atender ao meu pedido, mas mamãe parecia descrente. Ela achava que os sábios e feiticeiros de Videns eram responsáveis ​​pela profecia, mas eu acreditava que não. Afinal, Videns tinha sido ameaçada por muitos anos, mas eu não conseguia imaginar alguém daquela cidade sendo o responsável pela guerra. Eu sabia que eles não tinham nada a ver com isso.
Segundo eles, a profecia também foi uma surpresa após milhares de anos sem nenhuma previsão.

Papai, aceitou e por sua vez, concordou em solicitar uma reunião com Albus e Serita para atender ao meu pedido.
- Ótimo! - eu disse, retomando o jantar - Mas deixe claro que não quero falar sobre a profecia, por favor papai. Não quero que Albus e Serita se sintam intimidados ou com medo de me encontrar por causa disso! - eu vi a surpresa nos olhos deles.
- Então, para que você quer uma reunião com eles, Sya? - papai perguntou calmamente.

- Uma vez encontrei um livro antigo na biblioteca que falava sobre os poderes exclusivos dos Reis de Meríades, mas estava escrito em uma língua muito antiga que eu não consegui decifrar. Foi só na semana passada que comecei a conseguir entender o que estava escrito e percebi que o livro falava sobre um dom de conceder poderes ou algo semelhante. - Meus pais soltaram um suspiro e me olharam quando contei a eles sobre minha descoberta.
- Por que você quer saber sobre isso, Syara? - perguntou minha mãe, com um tom de brabeza em sua voz.
Eu expliquei que talvez, se essa possibilidade fosse real, eu poderia usar o poder para permitir que Lyan também pudesse viver em Meríades. Esse pensamento havia me rondado nos últimos dias enquanto eu lia alguns dos livros que meu pai havia trazido da biblioteca do palácio de Meríades para mim em meu quarto.

A profecia de Syara Onde histórias criam vida. Descubra agora