|O que seria de nós sem o destino?
DOR. SINTO MEU CORPO ser puxado com brutalidade para algum lugar. Meu grito fica preso na garganta, nem um mísero som sai, apenas a dor se intensifica.
Frio. A água gelada envolve todo o meu corpo, mas não vejo nada, nem ao menos um sinal de luz. Só sinto a água gélida congelar até meus ossos.
Pressão. Meus ouvidos estão zumbindo, minha cabeça dói e meu corpo nem ao menos se move.
Silêncio...
Acordo pela quarta vez, meus olhos aos poucos se acostumam com a pouca claridade. Uma fresta da cortina deixa a luz fria de Forks entrar.
Me levanto da cama olhando meu reflexo suado e pálido pelo espelho e me assusto com o que vejo, realmente estou péssima. Caminho devagar até o banheiro sentindo minhas pernas bambearem com as memórias quase vívidas em minha mente e tomo um banho lento. Cada parte do meu corpo se relaxa embaixo da água como se o pesadelo não passasse de uma coisa que nunca sequer existiu ou uma memória que foi por água abaixo. Saio do box me enrolando na toalha, escovo os dentes e então vou até o guarda-roupa vestindo a peça que tinha separado noite passada, calça jeans larga com uma blusa de lã com gola alta e por cima minha jaqueta de couro. Calço minhas botas e solto o cabelo antes de dar uma última olhada na minha aparência. Estava bem melhor do que quando acordei, minhas bochechas agora tem leve tom avermelhado e meus olhos parecem mais suaves do que antes.
Saio do quarto do quarto fechando a porta atrás de mim, desço as escadas ignorando os quadros com fotos de família, algo que parecia distante agora. Família. Encontro meus pais na cozinha, Jacob comendo seu habitual ovos com bacon e minha mãe com sua xícara de café que lhe dei com uma pintura que fiz quando tinha sete anos.— Bom dia. — murmuro sem um pingo de humor.
Eles me encaram enquanto me sento a mesa e depois se entreolham como se eu não estivesse ali. Já estava acostumada com esses gestos, mesmo eles só sendo usados a pouco tempo. Era cansativo.
— Bom dia filha, tudo bem? — minha mãe pergunta dando um sorriso carinhoso.
Admiro a sua beleza, ela é tão jovem e a imortalidade caiu como uma dádiva a ela, mesmo já tendo seus 37 anos ela ainda aparenta ter minha idade. Seus cabelos castanhos ondulados que chegam a altura de sua cintura, seus olhos castanhos extremamente gentis e seu sorriso carinhoso que herdei são as coisas que mais chamam a atenção nela. É linda como uma obra de arte.
Sorrio de volta e balanço a cabeça em confirmação. Não quero contar sobre meus pesadelos e muito menos dar explicações para os dois.
— Está sim, só estou com sono. — bocejo e pego um bacon que estava no prato.
Apesar de tudo eu ainda podia dormir, e isso para mim era uma dádiva dos próprios deuses, uma válvula de escape quando nada ia bem. Eu apenas dormia.
Meu pai me observa atentamente tentando decifrar algo que parece indecifrável ao seus olhos, ele sabe que tem alguma coisa errada mas não vai perguntar. Ele nunca pergunta, não mais.
— Assim que você acabar seu café, nós saímos. — murmura e se levanta me dando um beijo rápido no rosto. Por algum motivo prendo a respiração até ele se afastar. — Estarei te esperando lá fora.
Sirvo o suco de laranja no copo e viro de uma vez colocando o copo na mesa novamente agora vazio e sorrio sem mostrar os dentes. Jacob apenas pega as chaves do carro e dá um beijo em minha mãe como despedida.
— Até mais tarde, Winter. — ela diz enquanto eu faço o mesmo gesto em seu rosto. — Qualquer coisa estarei na casa de Carlisle. — assinto e saio da cozinha pegando meu celular na estante da sala.
Entro na picape e coloco o cinto ignorando os olhares de meu pai, até que ele apenas desvia a atenção e da a partida no carro entrando na estrada.
Desde pequena me lembro que tive uma afinidade muito grande com ele, sempre contei tudo e ele sempre me entendeu muito bem, mas de um tempo para cá as coisas mudaram e nos afastamos. Ele vive na Reserva fazendo patrulhas para deixar tudo seguro e em ordem, e meio que se esqueceu um pouco de mim, o que não julgo, se eu pudesse também me afastaria.
— Floquinho? — chama me tirando de meus devaneios. Lhe encaro e murmuro um "hm". Faz muito tempo que ele não me chama assim, era um apelido que eu amava, mas hoje só passa de uma recordação ruim — Filha, está tudo bem? Você está quieta demais e metade do planeta sabe que você não é assim.
Você se importa?
— Está sim. Só estou com sono, fiquei até tarde no notebook.
Não era mentira, eu realmente havia passado boa parte da madrugada pesquisando sobre as famílias da Reserva. Queria saber a ligação do novo garoto com isso tudo, mas nada parecia fazer sentido.Realmente, nesse mundo nada fazia sentido.
Meu pai não fez mais perguntas e o resto do caminho foi em completo silêncio. Assim que chegamos no meu avô vejo alguns dos meninos reunidos em frente a casa, desço do carro e a passos lentos vou até eles com um sorriso no rosto. Fazia muito tempo que não os via, e estava morrendo de saudade.
— Oi gente! — exclamo abraçando Embry de lado que me abraça de volta me tirando um pouco do chão.
Logo o pessoal me olha sorrindo também, como se eu pudesse ser a suposta salvação do dia.
— Olha só quem resolveu aparecer! — Seth diz me dando um abraço de urso. — Como está nossa pirralha preferida?
Seth me trata como irmã mais nova, sempre diz que Leah é uma irmã mais velha pé no saco e que ele sempre quis ter uma irmã mais nova. Tudo bem que as vezes eu entendo o porquê de Leah querer arrancar a cabeça dele e trata-lo ainda como criança, Seth apenas tem tamanho.
Começamos a conversar sobre um assunto aleatório, mas de longe dava para perceber que eles estão apreensivos.
— Algum problema? — Jacob pergunta ao se aproximar. Ele cruza os braços e olha para os meninos que agora estavam em completo silêncio. — O que o garoto fez agora?
— Logan perdeu o controle de novo. — a Clearwater mais velha declara e vejo a expressão de meu pai mudar. — Mas dessa vez não foi culpa dele, Jacob.
— Foi culpa do Paul, ele sabe que Logan ainda está perdido e ele provocou. Paul também perdeu o controle e os dois acabaram brigando feio. — Jared explica
Meu pai olha para mim. Pela sua carranca sei que ele está pensando que era melhor eu ter ficado em casa. Cruzo os braços e nego com a cabeça, fazendo-o bufar e cerrar os punhos com certa força. Eu não iria para casa, nem que ele mandasse os meninos me arrastarem até lá.
— Onde eles estão? — pergunta já sabendo a resposta óbvia.
Eles estavam na casa de Billy.
— Lá dentro com Sam e seu pai. — Quil responde.
Meu pai entra na casa com tinta vermelha desgastada batendo a porta e me concentro para tentar ouvir a conversa. Silêncio. Segundos depois uma voz que reconheço muito bem grita: "Os dois para fora agora!". Os garotos ficam em silêncio esperando para ver o que vai acontecer, todos apreensivos e eu os entendo, eu por algum motivo também estou.
Escuto o barulho da porta se abrindo e vejo Jacob sair e sendo acompanhando por Sam. Meu avô sai e seus olhos se arregalam ao me ver, sorrio para ele, até avistar Paul sair sendo seguido por um garoto que aparenta ter a minha idade. Ele é bem alto e seus cabelos negros atingiam os olhos, os cobrindo do que quer que ele esconda. O garoto caminha de cabeça baixa e para a alguns metros na frente de meu pai.
O silêncio arrebatador se instala e ele levanta a cabeça olhando tudo em volta como se estivesse procurando algo, nossos olhares acabam se encontrando no processo e me sinto em outro mundo, como se mais nada existisse a nossa volta além de nós dois. Flashes de imagens começam a passar pela minha cabeça, imagens nossas de um futuro meio distante que poderia rapidamente se concretizar com um bastar de piscar de olhos. Minha pele formiga e um nó se instala em minha garganta.
Quando você a vê, não é mais a terra que te segura aqui. Ela te segura. E nada mais importa além dela. Você faria qualquer coisa por ela, seria qualquer coisa por ela. Você se torna qualquer coisa que ela precise que você seja. Seja como seu protetor, ou como um amante, ou um amigo, ou um irmão.
Quando tudo acaba, sinto meus olhos se arregalarem. Olho para as pessoas em volta e vejo todos pasmos com o que acabou de acontecer.
Logan acabou de ter um Imprinting comigo!
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𝐁𝐥𝐨𝐨𝐝𝐦𝐨𝐨𝐧
General Fiction"O que adianta ter a imortalidade e não ver sentido em viver?" Como dizem: O amor pode curar tudo. Mas será que é realmente verdade? Nunca sabemos quem realmente as pessoas são, muito menos o que carregam no peito. O que realmente sabemos é que o ó...