Decisões

636 81 16
                                    

Depois de três dias, ficou difícil continuar com o sigilo sobre tudo que estava acontecendo.  Eu precisava contar pra alguém e desta vez, diferente das outras vezes em que algo importante acontecia na minha família, decidi que a primeira a receber a bomba seria minha mãe, afinal, cedo ou tarde ela ia ficar sabendo e achei melhor poupar a fúria dela por não ter ouvido da minha boca.

Cheguei na Johnsons empreendimentos imobiliários logo cedo e segui pelos corredores sob a observação curiosa dos empregados. Quando adentrei a ante sala a secretaria pessoal da minha mãe me encaminhou até o escritório, onde aguardei por mais vinte minutos, até ela terminar uma reunião com corretores na sala ao lado.

一 Noah? 一 ela questionou intrigada.

一 Oi mãe. Precisamos conversar.

一 O que você ou a sua filha desmiolada fizeram dessa vez? Ah não me diga, são gêmeos?  一 Ela questionou de forma irônica.

Expliquei todos os últimos acontecimentos pra Suzan, em todos os detalhes que eu lembrava e quando finalmente terminei, ela ficou me encarando por instantes depois  levantou -se  e caminhou até a imensa parede de vidro que impunha uma vista deslumbrante dos arranha-céus e parques centrais de Toronto.

一 Vai pode dizer, você me avisou  一 falei cortando aquele silêncio que estava me deixando doido. 一 Você disse pra mim afastá-la dos Callinham, que eram perigosos e eu não fiz isso. Pode falar...  Wu sei que toda essa merda é minha culpa.

Ela voltou-se a mim com um suspiro, eu pude ver seus olhos levemente marejados. Durante todos a minha vida eu vi minha mãe chorar pouquíssimas vezes, ela era uma fortaleza fria, calculista e inquebrável na maioria do tempo, mas apesar de nem sempre demonstrar sabia o quanto ela amava as meninas.

一 É ... É inacreditável que hoje em dia uma garota ainda tenha que passar por isso. 一Disse voltando a se sentar e pude ver o esforço que ela fazia pra controlar a emoção. 一 Estamos num dos melhores países do mundo, ela estuda numa escola com excelência acadêmica e ... Por Deus, ela não devia estar passando por isso. Como ela está?

一 Ela não lembra de nada, não tem ideia de quem tenha sido, está confusa e desolada.

一 E você tem certeza que foi aquele infeliz do primogênito do maldito Callinham?

一 Certeza eu não tenho, mas tudo que te contei, eu não consigo pensar em outra coisa. Oi foi ele ou ele sabe o que aconteceu. 

一 Nogento... Qual o problema desses homens? Hoje em dia se consegue sexo de graça com dois cliques num aplicativo. Isso é inadimissivel, que tipo de doente faz uma coisa dessas com uma menina? 一 Disse inconformada.  一 O que ela está pensando em fazer?

一 Eu ainda não sei, achei que ela precisava de um tempo pra pensar. Mas sinceramente mãe eu não sei, eu sei o que é certo, mas só de pensar em tudo que a Juliet vai ter de enfrentar se escolher fazer a coisa certa eu não sei se é a coisa certa, consegue entender?

一 É, por incrível que pareça eu consigo e se fosse outro tempo eu diria pra pagarmos um bom terapeuta e tentar esquecer disso.  Mas eu sei que  isso vai destrocar a Juliet, de uma maneira ou de outra, ela precisa superar isso e nos dois sabemos que empurrar a sujeira pra baixo do tapete, só trouxe mais problemas pra nossa família.

一 Desta vez minha mãe estava  completamente certa, idependente de levar aquilo a justiça ou não, Juliet teria que viver o resto da sua vida com toda aquela dor. No entanto, independente do que eu e minha mãe pensávamos ou de todo o apoio financeiro e emocional que pudéssemos dar a ela, a decisão era da Juliet e eu sequer havia trocado nesse assunto com ela. Segundo a psiquiatra, ela estava progredindo na terapia, mas ainda se recusava a conversar sobre os últimos acontecimentos e devíamos respeitar o tempo dela.

Minha Vida em Perfeitas Escalas - EM ANDAMENTO Onde histórias criam vida. Descubra agora