Filhos criados, Trabalho dobrado

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O

uvi Liv gritar com a filha e revirei os olhos enquanto escovava os dentes naquele banheiro minúsculo e excessivamente feminino. Não que eu me incomode com o arranjo de flores disputando espaço entre dezenas de potes de cremes e perfumes. No entanto, aquelas toalhas cor de rosa bordadas com arabescos  brancos e o protetor de assento decorado no sanitário me faziam me sentir engolido pela casa da Barbie.

Mas voltando ao que realmente importa,  Michaela ou Mika como carinhosamente a chamávamos, tinha quinze anos e estava passando por uma fase difícil, aquela fase sabe, que praticamente todas as crianças e adolescentes com pais separados passam chamada;

"Eu odeio o namorado(a) da mamãe/papai."

E pra meu azar;
O cara era eu.
O primeiro namorado depois de um turbulento divórcio do casamento que durou quase vinte anos.
Azarado? Não, eu prefiro usar o termo corajoso.

— Mika volta aqui, não bata as portas, mocinha —  ouvi Liv gritar seguida de mais uma batida de porta — Abre essa porta agora!

Okay talvez os dois — Pensei encarando meu reflexo no espelho.

— Ele vai dormir toda a noite aqui? Vai transar com ele na cama que o meu pai comprou? — ouvi ela berrar.

Lavei o rosto e respirei profundamente, mas minha vontade era de ir lá e dizer pra garota.

"Se liga, seu pai era um idiota que distribuía o pênis pras estagiárias e por isso sua mãe chutou a bunda dele e se você me odeia por estar fazendo a sua mãe feliz você é tão babaca quanto ele" 一 pensei. Mas como Liv disse, o problema não era eu, seria a mesma coisa com qualquer cara que ela trouxesse pra casa, era algo que as duas tinham de resolver juntas e aos quarenta e poucos, você cria uma certa sensatez, mesmo que não queira, então, apenas tentava evitar ao máximo os conflitos.

— Desculpe por isso —  Liv me abraçou por trás se aconchegando em minhas costas.

— Talvez devêssemos comprar uma cama nova, pra mim não me sentir culpado enquanto fazemos sexo selvagem — falei e ela riu me dando dois soquinhos nas costas. Me virei e a aconcheguei no meu peito.

Liv era uma mulher pequena, de olhos amendoados e pele morena clara, no momento estava com os cabelos lisos e castanhos, mas ela realmente adorava mudá-los, então volta e meia, ela aparecia com uma novidade.
E eu, ah! Eu estava completamente apaixonado, desde o dia em que nos conhecemos num estúdio de tatuagem na zona sul de Toronto.
Ela tinha acabado de se divorciar e decidiu fazer tudo que antes o marido a impedia. Uma tatuagem? Não, claro que não, Liv era uma verdadeira artista, ela fazia um curso e agora também estampava a sua arte em pele humana. E eu adorava me exibir por ser a primeira pessoa que ela tatuou.

— Eu achei que com o tempo ela ia se acostumar com a ideia — suspirou pesarosa — mas parece que está pior a cada dia. Porque ela não é boazinha como as suas filhas?

— Filhos acostumarem com a ideia de que os pais, juntos ou divorciados precisam ter vida além deles? Isso nunca, desiste. Eu ainda não sei o que a minha mãe quer com o idiota do novo marido dela... — Dei os ombros —  E boazinhas? De que filhas está falando, porquê não é das minhas — disse a enredando pela cintura  — Nem sempre elas gostavam que eu saísse ou namorasse, a Emma teve um tempo que quase me deixou louco! E aliás eu acho que elas só aceitaram você porque me querem longe do pé delas, então está tudo certo.

— Elas sempre foram uns amores comigo, já a Mika te trata a patadas.

— Te tratam bem porquê você é adorável e não tem como não gostar de você — falei dando um selinho que se prolongou através do rosto e pescoço.

Minha Vida em Perfeitas Escalas - EM ANDAMENTO Onde histórias criam vida. Descubra agora