Uma noite muito louca - Pt I

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Confesso que apesar de entender a minha filha e saber que aquela decisão parecia ser muito consciente e fiel ao caráter dela, aquilo me deixou muito mais preocupado do que se ela tivesse decidido interromper a gravidez. Afinal, como se já não fosse ruim uma gestação de risco em uma adolescente com problemas cardíacos, agora, essa criança era fruto de um estupro. Como ela lidaria com isso? Como nós todos lidariamos com essa situação?

E é claro que eu entendo que esse bebê é tão vítima quanto a minha filha, mas como trazer ao mundo e principalmente como criar uma criança saudável mentalmente sabendo a forma que ela foi concebida? Ela mesma havia dito que não sabia se queria  ser mãe daquele bebê. Seria egoísmo dela decidir ter esse bebê sem ter a mínima ideia de como as coisas seriam depois do parto, apenas pra manter suas convicções intactas? Ou o egoísta era eu por achar um absurdo minha menina exercer seu direito de escolha de uma forma que eu não julgava correta?  Minha cabeça estava a mil, mas mascarei tudo com um sorriso amarelo e um:

一 Você ainda tem um tempo pra pensar bem sobre isso querida. 一 falei pousando a minha mão sobre a dela 一 Eu falei com uma advogada, ela quer conversar com você sobre tudo isso, nós precisamos decidir que providências vamos tomar.

一 Pai, eu não sei como aconteceu, eu juro eu não lembro de nada, num momento eu tava me divertindo com o Theo e nossos amigos e no outro eu estava acordando em casa com uma puta dor de cabeça. Tinha tanta gente naquela festa, eu ... Eu não tenho ideia do que aconteceu. Eu nem sei se eu quero saber o que aconteceu. 一 ela disse com um suspiro.

一 Eu também não quero, mas precisamos. Esse cara não pode ficar impune Juliet. E eu acho que eu sei quem foi.

一 Eu já disse que, eu tenho certeza que não foi o Theo pai...

一 Também não acho que foi o Theo 一 falei e ela me encarou confusa.

Depois de explicar pra Juliet o estranho comportamento de Eric desde que foi internada e principalmente depois que soube da gravidez, ela ficou em estado de choque. Respirou profundamente algumas vezes, mas não deixou que uma só lágrima escapasse.

一 Filha, tudo bem? Quer uma água?

一 Não... 一 ela balançou a cabeça 一 ele... Ele ficou me zoando e me chamando de criança... O Theo até pediu pra ele parar com aquilo, mas eu acabei bebendo e... Eu ... Parecia tudo bem... Eles são irmãos, como ele pode? 一 Ela gaguejou na última frase.

Fiquei com Juliet durante aquela noite, e a fortuna que cobravam a diária de internação pelo menos me trouxe uma cama auxiliar bem confortável.  Mesmo assim, foi difícil pregar olhos percebendo que minha filha revirou a noite toda de um lado pro outro choramingando e soluçando por diversão vezes.

Na manhã seguinte tomamos um café no saguão e quando Juliet seguiu para as suas atividades, decidi conversar com a psiquiatra.

Anna Toff era uma mulher alta de feições ternas e cabelos levemente avermelhados. Na casa dos sessenta anos. Toff era uma neuropsiquiatra conhecida, com diversos prêmios por seus artigos e estudos, os quais, estavam dispostos orgulhosamente em uma estante do consultório.

一 Bem senhor Johnson lhe serei franca, sua filha é uma garota com um temperamento um pouco difícil ela é um tanto teimosa e acha que sempre está certa acredito que isso não seja dado aos acontecimentos recentes.

一 É um jeito elegante de me dizer que eu minei demais a minha filha. 一 Falei e ela esboçou um leve sorriso. 一A Juliet é difícil as vezes, mas ela é uma boa garota, ela é divertida e solidária, e mesmo que pareça ser uma patricinha, cheia de roupas caras e maquiagem, ela é gentil, educada com todos, ama os animais. Ela fez voluntariado no verão passado num abrigo e não foi pra postar no Instagram como as pessoas fazem hoje em dia, ela nem sequer mencionou isso... ela... Você não tá conhecendo o melhor dela agora.

Minha Vida em Perfeitas Escalas - EM ANDAMENTO Onde histórias criam vida. Descubra agora