Escárnio do Destino

Capítulo 1

O interior de São Paulo consegue ser tão incrível, em épocas quentes. Enquanto caminho pela rua, consigo sentir a brisa batendo contra meu rosto molhado de suor. Quando isso ocorre, eu só consigo pensar em como as pessoas conseguem ignorar que o simples fato se viver é algo realmente lindo. A propósito, meu nome é Guilherme Callyan, venho de uma família de espanhóis que imigraram para o Brasil em busca de emprego nos grandes cafezais do sudeste. A minha família não é exatamente rica, embora não possa reclamar de ter me faltado algo. Meu pai sempre me cobrou duas coisas: fazer as coisas certas, com mais atenção e arrumar uma namorada o quanto antes. Eu nunca fui bom com garotas, e ainda aos 16 anos, não podia me gabar de ter sequer beijado uma. Minha sorte com meninas mudou quando conheci a Beatriz Sad, uma garota simpática, que meio sem jeito veio me falar. No início, nossa relação se baseava apenas em redes sociais, contato real era difícil, já que ambos éramos muito tímidos (e com tímido eu quero dizer dos meus problemas de controlar minhas mãos, que parecem querer sair correndo, me deixando ali sozinho, minha mania de coçar a costeleta quando elas começam a falar, ou até mesmo o suor que escorre por todo meu corpo). Quando entrei para o ensino médio, fazia um ano que conversava com a Beatriz, tinhamos planos para nós dois, eu seria um físico renomado, e ela uma grande veterinária. Nossa vida seria perfeita, a não ser por um acaso, e esse acaso atende por Julia. Julia Henry.

Os dias secos de verão, traziam a sensação de que talvez, ser um gelo no inferno não fosse tão ruim. O calor forte, como nenhum outro me fazia soar por apenas piscar os olhos. Em dias como este, eu só pensava em não sair de casa, só queria não ter que sair de casa... mas foi exatamente em um dia desses que conheci a garota. Aquela que, nos meus mais profundos sonhos não imaginaria encontrar.
Era mais um dia comum, daqueles que você chega na escola, toma o café, e entra assistir aula, a grande diferença foi que, ao voltar para a sala de aula, depois do recreio, me deparei com uma garota sentada no chão da minha sala, conversando com o Rafael, (nunca imaginei o quão grato e ingrato seria por Rafael) ao adentrar a sala, ela me diz
-oi, eu sou Julia! -eu com espírito brincalhão respondi apenas -hm, legal. - Talvez, se não fosse por essa resposta, nada teria mudado, seria apenas mais um dia na minha antiga vida monótona. Depois disso, eu fui me desculpar com ela, e minha natureza tímida parecia não se manifestar diante dela, não sei ao certo se isso se dava ao fato de ela não ser tão atraente, ou algo mais. Hoje eu vejo que era algo a mais, perto dela, eu me sentia calmo, em paz, como se a presença dela fosse para mim, um colo de mãe.

Passaram dias, semanas e até meses, e quando me dei conta, a minha vida social se resumia a almoçar com Julia. O tempo que passei com ela, foi maravilhoso, porém, quando me dei conta de que, ela iria me deixar no fim do ano, meu coração apertou. Eram apenas 5 meses para que, a garota mais interessante, inteligente, educada e altruísta que eu já havia conhecido me deixasse, e quando pensei na situação, me dei conta de uma coisa que até então não tinha percebido, eu me apaixonei pela Julia.

O que me encomodava era que eu já havia um compromisso com Beatriz, sim, a garota da web, nós construímos um futuro inteiro juntos, em nossos pensamentos, e não seria fácil acabar com isso. Me via em uma rua sem saída, vendo de um lado, a primeira garota que gostou de mim, que eu mal conversava pessoalmente, e do outro a garota mais incrível que já havia conhecido.

Minha cabeça dizia Beatriz, ela era claramente mais bonita, mas meu coração me dizia Julia, aquela que além de tudo, me fazia feliz. Eu não poderia ser considerado o culpado pelo que estava acontecendo, era tudo muito novo para mim, eu não absorvia tudo claramente, além do mais, era meu primeiro contato com garotas. O destino é algo cruel, por mais que se tente fugir dele, ou o enganar, ele sempre te pega no momento certo...