Capítulo 7

40 2 2
                                    

Para cada vez que minha cicatriz parecia estar se curando, ela aparecia e fazia tudo novamente, ela parecia gostar de fazer, adquiriu o gosto por isso, depois do ocorrido durante aquelas três semanas.

Nossa conversa se estendeu em um café, ela estava diferente, não posso dizer que mais madura, porque isso ela sempre foi, o que me surpreendeu desde o primeiro dia que a conheci. A diferença que notei nela, foi uma tristeza no olhar, talvez a mesma que eu adquiri a cinco anos a trás, porém, eu estava me recuperando, e como estava... depois de termos, eu e Laura adotado o Filipe, o mundo parecia ganhar suas cores novamente, até claro, ela voltar, e fazer tudo isso de novo.

Meus princípios e ideais tinham com certeza ido todos buraco a baixo, ela tinha algo especial, não sei dizer o que, talvez o fato de ter sido a primeira garota pela qual me apaixonei, ela conseguia me seduzir com o piscar dos olhos, o estalar dos dedos, ou com simplesmente seu olhar malicioso. E mais uma vez, ela havia me feito trair a Laura, e quero deixar bem claro, que ela foi a única que conseguiu isso, mesmo sendo por duas vezes. A sensação de culpa me corroia por dentro, eu, que sempre quis ser tão certo, ter um relacionamento estável, uma vida profissional estável, tudo estava do jeito que eu sempre desejei, até a Julia começar a aparecer, ela era para mim como a Helena de Troia para Aquiles, o qual, por sua paixão, acabou morto.

Eu tentei terminar esse relacionamento escondido com Julia, juro que tentei. Até porque, por mais que gostasse dela, ainda sim, eu tinha compromisso com Laura, e também gostava dela, gostava de verdade, e ainda por cima, agora tínhamos um filho. Nada parecia funcionar, então, mais uma vez recorri a conselhos, dessa vez não de minha avó, já que ela morava consideravelmente longe. O conselho dessa vez veio de Tito, um amigo de trabalho, ele quem era pai de três filhas e um filho, casado à quatro anos, e costumava a sair com algumas garotas que costumava conhecer no clube de boliche que frequentavamos às sextas a noite. Não sinto orgulho de ter um amigo que traia a mulher, e que, além disso, se gabava por conseguir sempre esconder dela, embora, todos nós do trabalho achávamos que ela só suportava toda essa situação por causa dos quatro filhos. O conselho que ele me deu foi rápido e direto, ia de encontro a raiz fo problema, ele me disse "Simples, você ainda não tem uma vida totalmente formada com a Laura, peça um tempo, explique para ela, e quando ela te der o tempo, você escolhe qual delas vai querer para a sua vida, você vai ter paz para isso". Ele estava certo, eu tinha que me resolver, mas eu já havia me decidido antes mesmo de ele terminar de falar, na verdade, eu já estava decidido desde o momento em que comecei uma família com a Laura, aquele momento foi decisivo para mostrar que eu já não estava preso a Julia, eu tinha não um, mas dois motivos para ficar com Laura.

Eu estava certo de que devia terminar com Julia. Mas era mais fácil falar do que fazer, ver pela terceira vez aquele olhar de que tinha sido magoada, sendo que duas dessas vezes, teriam sido por mim. Não sabia como ela reagiria, mas eu estava decidido. Então eu fui.

Enquanto falava com ela, me passou pela cabeça, todos os momentos que não falei com garotas por medo de ser rejeitado, todas as garotas que me apaixonei apenas por ver o jeito, sem nem ao menos as conhecer, e então eu descobri que o que sentia por ela não era verdadeiramente amor, eu me sentia frustrado, por ela ter sido a garota mais legal que eu encontrei, e não consegui de fato ficar com ela, então eu criei uma imagem dela, como se ela fosse um objetivo inalcansável, e era tão mais fácil gostar dela assim, sem poder ver como ela realmente era, como ela realmente pensava, e o fato de ela se envolver com uma pessoa que já tinha compromisso, era praticamente casado, me fez criar repulsa dela, e não só dela, porque eu também era culpado, eu sentia nojo dela, de mim, e do que havíamos feito, fiquei imaginando a Laura, que tanto gosta de mim, se esforçando para fazer nossa vida mais feliz, cuidando não só do Filipe, como de mim também. E de repente eu percebi que não amei ninguém na minha vida como amava Laura. Quando me dei conta, estava em lágrimas diante da Julia, ela me deu colo, e acabamos nos desfrutando um do outro mais uma vez.

Escárnio do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora