Ao acordar, o filme de todos os acontecimentos passaram em minha cabeça, me senti arrependido mais uma vez. Então decidi abrir de vez o jogo com Julia, e finalmente foi feito. Ela não demonstrou ódio, não demonstrou raiva, apenas compreendeu meus sentimentos, o que de certa forma foi uma surpresa para mim. Então fui embora, deixando ela entre os lençóis.
Chegando na minha casa, me deparei com Laura brincando com Filipe, aquilo me tocou fortemente, então chamei eka pra conversar e me abri com ela, sobre tudo o que havia acontecido, me declarei arrependido ajoelhando no chão e esperei pelo perdão dela, que logo veio quando ela pegou com as duas mãos no meu rosto, me levantou, e com a maior ternura do mundo me beijou, e eu a beijei, como se ela fosse a última mulher do mundo, e realmente ela era, a última do meu mundo.
Dois meses se passaram, e tudo corria bem, era o nosso aniversário de dez anos juntos, então fomos comemorar, eu, Laura e Filipe, tínhamos planejado ir para o cinema, pegar a sessão das seis, e depois irmos jantar, depois do jantar, Filipe iria para a casa da tia, irmã de Laura, e eu e ela teríamos nossa verdadeira comemoração.
Como de costume, eu com meus planos quase infalíveis, teria ido tudo bem, se não fosse pelo quase. À aproximadamente duas horas atrás, estávamos saindo do cinema, indo em direção ao carro de Laura, quando me deparei com Julia, ela estava aparentemente passando pelo outro lado da rua, e caminhando paralelamente a nós, quando chegamos no carro, ela nos notou, e veio na nossa direção, atravessando a rua, daquele momento até agora eu fiquei muito, mas muito ingrato a Rafael, aquele que fez com que eu conhecesse Julia.
Quando ela chegou em minha frente, com aquele sorriso malicioso marcante, Laura perdeu a cabeça, e após por Filipe dentro do carro, veio até a gente discutir com Julia. Ela chegou à tempo de ouvir Julia dizer aquilo que seria uma das últimas coisas que, tanto eu, como ela, iríamos ouvir, mas eu me lembro claramente, e até agora, após duas horas, elas ressoam em minha cabeça "se você não vai ser meu, não vai ser de mais ninguém, me desculpe, eu te amo muito".
O engraçado da vida, é que ela faz de tudo, para que todas suas tentativas fracassem, eu fiquei sem rumo na minha vida durante muito tempo, e quando finalmente entendi que minha vida era Laura e Filipe, o destino estava lá, quieto, com seu ar de escárnio, apenas esperando, para rir de minha desgraça. Novamente.
Após pronunciar aquelas palavras, Julia sacou uma arma de sua bolsa, e disparou dois tiros contra mim, o qual um foi no peito e outro resvalou na cabeça. Depois disso, ela se suicidou, dando um tiro dentro da própria boca.
Os poucos momentos que estive consciente, vi uma multidão se aproximar, várias pessoas ao telefone, chamando a ambulância ou a polícia, quem sabe, e a todo momento, Laura me manteve apoiado com a cabeça em seu colo, aos prantos, ela dizia continuamente que iria ficar tudo bem, ela dizia não para me confortar, mas para confortar a si própria. Meu filho, aquele que eu sonhei em mudar o destino, se aproximou e ajoelhou ao meu lado, com cara de espanto, não chorava, não esboçava qualquer reação, parecia estar em estado de choque. A minha vista turva não me permitia distinguir muito mais que isso. Após passar um tempo, chegaram duas viaturas da polícia.
Antes de apagar totalmente, usei minhas forças que me restavam para falar com Laura. -está uma noite agradável, embora um pouco fria, pode me abraçar um pouco mais forte ?- então senti ela me apertar enquanto soluçava a cada lágrima que caia em minha testa. -não fique assim, escute, você ta bem ?- ela me fitou espantada, então me respondeu, com lágrimas caindo de seus olhos -sim- não consigo me lembrar das expressões que ela fez após isso, pois meus olhos não se mantinham abertos, ela só não deixava de me apertar, eu continuei a falar para que ela não ficasse mais preocupada, mesmo com dificuldades -já faz um bom tempo que estamos juntos, e sabe, você continua aquela mesma garota que conheci, que namorava outras garotas- ela riu, e enxugou os olhos, e eu continuei -saiba que enquanto esse coração bater, ele será seu, ele sempre foi, durante esses dez anos- ela falou para que eu parasse de falar, para guardar forças. Depois disso senti os lábios macios dela tocando os meus, e eles conservavam a mesma maciez de dez anos atrás.
Após isso eu apaguei. Sabe aquela história de que sua vida passa diante de seus olhos nos últimos minutos de vida, acho que não é mentira. Eu ouço o choro desesperado de Laura, sinto batidas no meu peito, talvez um ato desesperado de Laura para me fazer voltar a vida, consigo ouvir o som dos telefones tocando, as pessoas cochichando, os carros passando pela rua, o barulho das buzinas, e ouço também o som da sirene lá de longe, se aproximando pouco a pouco, de repente para, e eu sinto algo me tocando, talvez essa sirene fosse da ambulância e agora eu estou sendo examinado. Minha respiração que já não estava boa, agora está bem pior, eu consigo sentir meu pulmão inflando e murchando a cada respiração. Sinto um frio imenso, acho que tiraram Laura de perto de mim, a dor não é nem de longe o que mais me preocupa, o sono, esse sim, está me tomando aos poucos, me lembra as tardes ociosas as quais eu ficava deitado em minha cama, apenas esperando o sono chegar, dessa vez é bem diferente, eu não quero dormir, tenho de resis... resistir pela... Lau...ra...
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Escárnio do Destino
RomanceO livro conta a história de um jovem, que pensa ter decoberto a mulher de sua vida, mas mais do que isso, ele descobre aquela que iria mudar seu futuro.