PRÓLOGO

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CHEFIN

O ditado era certo, e por vezes, era a realidade de vários moleques que moram na favela. Inclusive, injustamente essa foi a minha. Eu não entendia o porque isso foi acontecer logo comigo. Eu era um moleque bom e não tinha culpa do que o coroa fazia fora de casa. Mas a mulher que eu chamava de mãe não parecia entender isso e sem se importar, me fez pagar o preço mais caro.

Fui humilhado, tomei uma coça e fui escurraçado para fora de casa, posto no meio da rua para nunca mais voltar como um animal. E se pá, os animais tiveram um tratamento melhor que o meu.

Estava desolado, não sabia mais o que pensar sobre o meu futuro. Faminto e incerto, eu recorri a minha melhor amiga naquele dia. E mesmo sabendo que ela não poderia fazer muito por mim, pedi ajuda do mesmo jeito. Foi quando os soldados do WT me enquadraram, e sem saída, tive que ir junto a eles ao encontro do chefe, vendo a Gabi ficar para trás. O que eu não esperava era ter a oportunidade de uma vida melhor onde eu menos esperei.

Eu havia sido abandonado pela a minha mãe, e assim como diz o ditado, o tráfico me adotou abrindo portas das quais eu nunca iria conseguir alcançar ou até mesmo abri-las se continuasse com a família que eu tinha.

O WT me acolheu como um filho dele. Me deu casa pra morar, comida, roupas novas, brinquedos, e é claro, escola. Eu tive tudo o que todas as crianças deveriam ter com a idade que eu tinha. Ele havia feito isso por porque se arrependia da vida que ele levava, não pelo dinheiro ou pelo poder, mas pelo que ele tinha que fazer para conseguir. E ele não queria o mesmo pra mim, mas esse pensamento dele foi em vão. Eu fiz sim tudo o que ele queria, mas no fim acabei me rendendo ao tráfico. Reconheço que estou errado e não seria o fim do mundo lutar por uma vida honesta, mas eu não queria isso. Queria mais, e a porta que já estava aberta para mim me pareceu a melhor opção. Eu não precisava, mas escolhi o caminho mais fácil mesmo sabendo das consequências.

No começo o WT não curtiu muito não, mas ele viu que eu tinha jeito pra coisa e acabou cedendo. Hoje em dia eu vivo pra cima e pra baixo nesse morrão com a tropa, na contenção do morro e cuidando da segurança do chefe. E embora eu tenha vivido a maior parte da minha infância e adolescência com o WT, frequentando a casa da mãe dele e tudo mais, eu não conseguia passar muito tempo com a Gabi. Estudavamos em escolas diferentes e aos 12 anos, ela meteu o pé pra ir morar com a coroa dela lá no Leblon.

Sempre mantinhamos contato pelas redes socias, e a nossa amizade continuava a mesma até que chegou o dia que deixei de ser aquele moleque para virar o homem que sou hoje. Com esse bagulho aí de adolescência, puberdade e os caralho, eu e ela nos afastamos um pouco. Mas essa distância só serviu para o destino foder com a minha vida como ele sempre havia feito.

O destino sempre foi um filho da puta comigo, mas eu não esperava por essa boa, e na moral, quem espera uma porra dessa? Me custou um dobrado admitir, mas eu estava fodido e perdidamente apaixonado pela minha melhor amiga, que também era filha do meu chefe, consequentemente, a minha irmã.

- Cuidado pra não queimar o celular com a tua baba, Chefin! - o Dólar me deu uma cotovelada que quase me fez derrubar o celular no chão, me trazendo de volta a realidade de quê eu e ela eramos um amor improvável e talvez, sem reciprocidade - Olha o mole que tu tá dando, parceiro! - falou sério apontando pro celular em minhas mãos com a foto da Gabi na tela.

Ela estava linda em um vestido branco e colado, com alguns detalhes específicos. O sorriso dela me matava e eu não conseguia parar de admira-lá mesmo pela foto. Eu estava nessa a quase uma semana, e as vezes distraído, me pegava sorrindo igual um bobão por apenas olhar a foto dela. E nas nossas conversas pelo twitter, não eram nem um pouco diferente. A melhor parte do meu dia era ela.

- Chato pra caralho, mané! Já sei. Já sei que tô erradão no bagulho, mas e aí - abri os braços fazendo a bandoleira do fuzil remexer em meu ombro - Não posso ignorar isso e seguir em frente, parceiro. Essa porra tá me consumindo, e nem é caô. Eu só queria poder tirar esse peso de não poder falar o que eu quero, e o que eu sinto - falei soltando um suspiro pesado e bloqueie o celular guardando o mesmo no bolso da bermuda.

- Tu ainda vai se foder muito por conta disso aí, Caio. E eu não vou querer nem está aqui pra ver essa porra acontecer - disse negando com a cabeça e logo puxou o balão da orelha, pegando um isqueiro no bolso da bermuda folgada - O WT pode ter te dado uma moral e te tratar como um filho agora, mas tu sabe que nada é de graça nessa vida - ele alertou, e puxando a fumaça ele tragou e logo continuou - Ela é filha dele e tu, irmão, não é. E se tu foder com a confiança e a consideração que ele tem com você, já era, cria. Pode preparar a tua descida pra vala, porque tá ligado que mulher e filha de bandido, vagabundo não mexe. - falou pegando o fuzil, e com o balão entre o dedos ele me deu um tapinha nas costas - Abraça esse papo, Chefin. Ou ele vai acabar te abraçando, quem avisa amigo é.

E ele tinha mesmo razão. Talvez eu ouvisse ele, ou eu poderia arriscar e chutar o balde. Ela era proibida pra mim, mas morrer não estava nos meus planos.

Proibida Pra MimOnde histórias criam vida. Descubra agora