QUATRO

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Eles me olhavam apreensivos

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Eles me olhavam apreensivos. E eu devo admitir, esse era um plano bastante peculiar, insano e sem escrúpulos. E talvez não fosse essa a minha intenção, mas acabar com a vida de uma pessoa que fez tudo e mais um pouco por mim me tornou o inimigo agora. Alguém que eu não queria ser, mas a ideia de ter tudo e principalmente, a garota que eu sempre quis, me deixou suscetível a uma insanidade como essa.

- Ih, se for papo de alemão eu tô fora, parceiro. - o Raposo foi o primeiro a se pronunciar, erguendo os braços em rendição soltando o fuzil na bandoleira - Se for bagulho sujo, tróia formada, eu nem me envolvo.

- Pra uma raposa, tu tá me saindo um belo de um coelhinho assustado - comentei assim que saímos do beco, indo em direção ao grande portão de ferro da mansão.

Passamos pelos soldados cumprimentando todos com a naturalidade de sempre, e assim que entramos o Dólar se pronunciou - E como pensa em fazer isso? Tu tá ligado que nada passa batido pelo WT, acha mesmo que ele não notaria algo acontecendo bem debaixo do nariz dele?! - ele disse, indiferente.

E ele tinha razão. Eu vivi tempo o bastante com o WT para aprender que ninguém poderia enganar ele, e se alguém tentava, não ficava aqui para contar a história. Mas comigo seria diferente, e eu ficaria para contar tudo e mais um pouco, ao contrário do patrão que não teria a mesma sorte que eu.

- 'Tô, 'tô ligado. E é por isso mesmo que irei fazer sem subestimar ele - falei entrando na casa assim que passamos pela área da frente.

- Sei não, Chefin. Eu nadei muito pra morrer na praia, quero isso pra mim não - o Raposo disse, ainda com medo do que poderia acontecer se resolverssemos passar a perna no patrão.

- Estão comigo ou não? - questionei, convicto do que eu queria, cansado do medo e da submissão que o WT impunha contra os soldados mais novos.

- Eu nunca gostei da gestão do mano, seria interessante tentar algo novo. - o Dólar comentou, e soltando o fuzil, ele estendeu a mão para um aperto - Tô contigo, só não vacila comigo. - deixou claro, e eu aceitei o acordo retribuindo com um aperto firme.

- Isso vai dar a maior merda, parceiro, eu 'tô falando - o Raposo repetiu com insegurança - mas se de qualquer jeito eu vou morrer... - disse, pronto para fechar comigo - 'tô contigo, Chefin, mas fica ciente disso - ele recuou - faz um bagulho responsa, que eu não quero ser chamado de alemão não. - me apontou o dedo.

- Me respeita, porra! - falei puxando a mão dele para um aperto - Eu vou fazer um bagulho que ninguém vai saber como aconteceu.

Era o que eu pretendia e esperava fazer, mas não o que iria ou poderia realmente acontecer. Eu não estava fazendo promessas, porque o futuro era uma consequência dos nossos atos. Deus e nenhuma das entidades não tinham nada haver com isso, e eu estava a minha própria sorte, e se é que eu tinha isso. E na moral, eu não poderia ser tão fodido assim.

 E na moral, eu não poderia ser tão fodido assim

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— Não acredito que você ainda não sentou nesse gerente?! Você fala tanto dele que pensei que já era apaixonadinha no bofe — a Bionda praticamente gritou no outro lado da linha

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— Não acredito que você ainda não sentou nesse gerente?! Você fala tanto dele que pensei que já era apaixonadinha no bofe — a Bionda praticamente gritou no outro lado da linha.

Rolei os olhos.

— Nós somos apenas amigos, Bibi. E mesmo se eu quisesse, ele não iria contra a lei da favela por mim — contei enquanto me ensaboava — E ele também nunca deixaria a vida de putaria para se prender a uma menina.

Disso eu tinha certeza. Garotas não faltavam para ele, e com toda certeza elas eram bem mais bonitas que eu. E a verdade era que, mesmo eu querendo muito ficar com ele, nunca teria coragem de enfrentar o meu pai e burlar a ordem dele. Eu e o Caio éramos irmãos, e era assim que tinha que ser. Ou pelo menos, era o que o meu pai queria.

— Prender? Eita como ela quer namorar — gargalhou alto, e só aí eu me dei conta de que havia falado demais — E olha que eu só estava falando sobre sentadas...

— Ai, cala a boca, Bionda. — falei deixando uma risada, ainda que contida, escapar — Que graça tem "sentar" e depois ficar por isso mesmo? Com o Caio... — deixei um riso involuntário escapar ao falar seu nome — confesso que com ele eu quero muito mais que isso.

— Então vai correr atrás disso, mona, vai passar vontade é? — ela questionou em meio ao barulho da lixadeira, e com certeza ela estava fazendo as próprias unhas. Ela era uma ótima nails designer — É melhor correr o risco do que passar vontade, bebê, porque no seu caso com certeza não vai ter arrependimento — disse, deixando o duplo sentido pairando no ar e eu explodi em uma gargalhada sincera, lembrando de como o Caio era um gostoso sem camisa e o cabelo ondulado na régua.

— Com certeza mesmo, eu não teria arrependimento nenhum em sentar no Caio — falei rindo e ela me acompanhou.

— Ai, mona, eu vou ter que desligar. Minha mãe chegou e tá me gritando aos quatro ventos — ela disse apressada e eu logo ouvi os gritos da tia Paloma, o que me fez rir. Não existia mulher mais exagerada que ela nesse mundo — é a Gabi, mãe! Você sabe, da tia Soraya. A senhora tá julgando porque? Casou com bandido também, sou filha de bandido também, eu em!

E segundos depois a ligação caiu. Era assim, as duas não tinham papas na língua e não era coincidência, já que as duas eram mãe e filha.

Neguei com a cabeça ainda rindo, e tirei o celular para fora do box sem olhar para trás e logo liguei o chuveiro, tirando todo o sabonete do meu corpo.

— Não teria arrependimento nenhum em sentar em mim?

Puta merda, e agora?

— Ah, a quanto tempo você tá aí? Você não falou que iria me esperar lá embaixo?! — o enchi de perguntas mudando totalmente o percurso da sua, e logo ouvi passos se aproximarem do vidro do box, me dando o silêncio como resposta.

Eu nunca quis tanto desaparecer como eu quero agora, e melhor, desaparecer sem deixar rastros, como em um passe de mágica, o que era fora da minha realidade mas eu queria tanto...

Proibida Pra MimOnde histórias criam vida. Descubra agora