TRÊS

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- Põe culpa no teu filho, dona Vera - o Dólar falou tomando a minha frente para a cumprimentar a minha avó com um abraço - meteu vários corres nas minhas costas, que eu não tive tempo de dar um pulo na casa da minha coroa e pegar a muda. Mas, mais tarde eu mando um menor vir deixar aqui para a senhora - disse ao beijar sua mão e pedir a bênção.

Esse foi o momento em que eu precisava para respirar. E ignorando ou fingindo não ouvir a pergunta da Gabi, que ainda me olhava curiosa com a jogada fora que o Raposo havia dado, eu respondi a vó Vera passando direto pela morena.

- Ele foi pra mansão com a tropa, vó, disse que vem depois para a feijoada - falei segurando sua mão - a sua bênção!

- Que pai Oxalá te abençoe, meu filho - ela respondeu apertando a minha mão com firmeza, me confortando sobre algo que ela nem ao menos sabia o que era. Ou se sabia, ainda não ousou querer a minha verdade, a minha versão da estória.

- Axé! - eu respondi beijando sua mão, ela logo continuou.

- Acho bom mesmo o Welinton aparecer! Coloca filha no mundo e joga nas costas da idosa aqui, como se criar ele não fosse o suficiente - reclamou me fazendo rir, e logo a Gabi chegou ao meu lado com cara de ofendida - Ajeita essa cara de besta, garota, que tu é pior que o teu pai. Puxou a raça todinha do teu avô, aquele safado!

- O vovô no descanso eterno, vó, e a senhora desmerecendo ele desse jeito - a Gabi falou, relando o ombro dela no meu de propósito, algo que nós fazíamos quando éramos duas crianças descalças nesse morrão. Mas nem mesmo assim ela havia ganhado a minha atenção. Eu estava nervoso, e queria ficar na minha sem ter que sofrer a pressão de contar o que eu sentia por ela. Pelo menos, eu não queria isso agora.

- Olha só isso, - disse soltando as minhas mãos, dando um peteleco na testa da Gabi - não é porque morreu que vai virar santo, Gabriela!

E elas continuaram a falar, e falar enquanto eu me perdia em meio ao mar revolto em que eram os meus pensamentos quando se tratava da Gabriela.

- Chefin, o WT mandou levar a Gabriela pra mansão - o Raposo disse baixo ao chegar perto de mim - Se quiser eu vou no teu lugar, parceiro. Tô te devendo essa.

E antes que eu pudesse responder, a Gabi foi mais rápida e tomou a frente, falando pelos cotovelos como só ela conseguia.

- Ah, que ótimo! Assim a gente coloca a fofoca em dia - ela enlaçou o seu braço no meu e foi andando até o meio fio - Tchau, vozinha, mais tarde eu volto em!

- Volta aqui, garota! Falou que ia me ajudar e já tá tirando o cu de banda - a vó Vera gritou do portão e me fazendo olhar para trás, encarando o Dólar que deu um aceno de cabeça com quem quisesse dizer "Só age naturalmente, parceiro."

E a Gabi saiu correndo, me puxando como uma criança birrenta, mas ao invés do choro era uma risada contagiante que nos rodeava, me fazendo rir depois de tanto nervosismo que passei. Era só ouvir a risada dela que eu me sentia mais leve do que quando fumava um baseado.

Olhei para trás e o Dólar, junto ao Raposo, nos olhavam e observavam ao nosso redor as pessoas que passavam, atentos a qualquer sinal de perigo.

- Porque você 'tá assim, em? - ela perguntou chamando a minha atenção ao apertar o meu braço com as suas unhas de gel, perfeitamente finalizadas.

- Assim como? - disfarcei da melhor forma que pude. Ela era persuasiva, mas conseguir me fazer falar a verdade era outros quinhentos - Bem que o patrão falou, essa maconha 'tá fodendo o teu juízo. Eu tô normal, pô - falei, finalmente direcionando o meu olhar para o dela. Trocar de assunto era a melhor saída para agir naturalmente com ela.

Ela apertou o olhos, me encarando por uns segundos e logo estourou em uma gargalhada sincera, abraçando o meu braço com os seus.

- Ai, o paizinho é tão exagerado! Um baseadinho não faz mal a ninguém, cara - ela disse rindo - e foi só isso a
que eu usei, 'tá?

- Acho bom, tampinha. Acho bom mesmo! - murmurei seu apelido de infância e ela me deu um tapinha ardido no braço me fazendo rir - Alta tu não é, morena! - falei segurando a mão dela que desceu escorregando pelo meu braço, entrelaçando os nossos dedos - 'Tava com saudades de tu já, sua maluca!

Os olhos dela encontraram os meus e um sorriso surgiu em seus lábios, me fazendo sorrir ainda mais. Um sorriso sincero, daqueles que eu só abria na presença dela.

- Bom, agora nós estamos juntos. Podemos matar o que está nos matando - falou em um tom divertido e cortou o nosso contato visual, me puxando para a rua a frente, onde ficava a mansão.

O casarão ficava em uma rua de difícil acesso, em meio a um amontoado de casas, becos e uma escadaria média contornavam o imóvel de parede amarela.

A Gabriela soltou a minha mão no momento em que atravessamos a rua. Passou pelos soldados de cabeça erguida, sem ao menos olhar para nenhum e entrou no beco comigo atrás dela, olhando 'feião para quem quer que ousasse olhar, para qualquer parte do corpo dela fazendo a linha de irmão mais velho, ou pelo menos era o que eu pensava até o Dólar chegar em mim na maior marra de broncudão.

- Segura a tua onda, Chefin. 'Tá parecendo cachorrinho dela, já já o patrão tá questionando o porque de tanto corpo mole perto da princesinha dele - o Dólar me chamou a atenção mais uma vez, parando no beco antes de continuarmos a subir - Conselho é bom, irmão, por isso eu tô te dando um. Não quero ver o teu mal não, porque do mesmo jeito que o patrão quis ver tu bem te dando do bom e do melhor, ele também pode querer o teu mal. Nesse nosso mundo, só quem dá algo de muita boa vontade sem esperar nada em troca é só Deus. Aqui não, 'nego gosta de cobrar dívida e favor prestado, e isso nunca vai mudar, parceiro. E sempre vai ser assim.

- Ah, mais que demora! Vem logo, Caio! - a Gabi gritou da saída do beco assim que o Raposo passou por nós.

- Eu posso ser bobão assim, Chefin, mas nem precisou tu me dizer nada pra ver que tu e a fulana tem alguma coisa - o ruivo falou - o Dólar tá certo no que diz. Eu tenho pouco tempo no crime, mas eu já vi 'nego rodar por muito menos. Sabe dessa porra tanto quanto nós, tu cresceu aqui dentro, merda!

- Eu pensei que fosse para agir naturalmente - fui irônico e o Dólar respirou fundo - 'tá tranquilo, eu já falei que morrer não está nos meus planos. E não é por isso que eu vá rodar ou ir de ralo, já pensou chegar lá no céu e os caras perguntarem como eu morri?!

- Existe momento melhor para piadinhas e ironias, Chefin, eu 'tô te falando um bagulho sério - o Dólar me apontou o dedo - Essa porra é uma lei, tu sabe o que é isso?! Vem de cima da hierarquia e quem estiver acobertando, também entra no desenrolar.

Neguei com a cabeça, soltando uma risada nasal. Eu não estava mentindo quando falei que morrer não estava nos meus planos, e era o que eu iria mostrar para eles agora.

- É o clube da Luluzinha agora? - a Gabi voltou do beco e abraçou o meu pescoço - Que demora, Caio. Eu preciso tomar um banho!

- Vai na frente, toma o teu banho que vou te esperar no andar de baixo! - mandei e ela deixou um beijinho estalado na minha bochecha, indo na frente como eu pedi - Eu vou ficar com a garota, com o morro e o comando dele. E vocês vão subir na hierarquia comigo. Se eu não posso fazer isso do jeito fácil, do jeito difícil eu posso conseguir a garota e tudo o que mais for de interessante em tirar do WT antes que ele pense em colocar a minha cabeça a prêmio quando souber da Gabriela.

Proibida Pra MimOnde histórias criam vida. Descubra agora