Maio de 1889
Poucas pessoas caminhavam pela região do píer àquela hora da noite. Pelo movimento, Draven poderia deduzir ser por volta das nove horas.
Um casal passou atrás dele de braços dados, enquanto um sujeito caminhava com sua bengala, observando o relógio de bolso. Seus sentidos sensíveis o faziam perceber até um pouco mais do que gostaria, principalmente quando o assunto era aquele cheiro de pele fresca e o ruído de respirações.
Quem diria que às vezes gostaria de estar sozinho…
Olhou para as águas alguns metros abaixo de seus pés. O mar se movia com seu vai e vem constante, um som relaxante para seus ouvidos. Sempre foi assim, desde que seus olhos ainda possuíam a fraca visão de um humano míope e sua audição era limitada. Gostava de ir até lá e fazer aquilo: sentar-se à borda do píer e observar as águas. Naquela época, no entanto, tinha a companhia do sol queimando sua nuca. Agora, era somente uma lembrança quente.
Ouviu um farfalhar de saias às suas costas e deduziu que alguém se sentou no banco que estava a não mais do que alguns metros atrás de si. Silêncio. Voltou a observar as águas mal iluminadas pelo prateado daquela lua minguante.
― É uma linda vista ― a pessoa no banco comentou repentinamente.
Draven olhou para os lados, vendo que não havia ninguém ao lado ou caminhando por perto. Virou-se para trás, onde não havia ninguém sentado junto da moça ou a alguma distância que poderia ser ouvida. Ela estava falando com ele.
― É ainda melhor durante o dia ― retorquiu e voltou-se para o horizonte do mar, não muito a fim de conversar com uma mundana.
Era cedo demais para se alimentar e preferia não correr o risco de ficar tão perto de alguém que não fosse outro vampiro. As leis do Submundo deviam ser cumpridas à risca, afinal de contas.
― Nunca cheguei a conhecer um vampiro que tolerasse a luz do sol. Não naturalmente.
Draven ergueu as sobrancelhas e virou-se de súbito, surpreso. Analisou a garota sentada no banco, envolta nas dobras de seu volumoso vestido cor de creme. Era uma figura pequena no meio de tanto tecido, tendo o rosto ainda um pouco escondido debaixo de um chapéu com fitas que combinavam com a roupa.
Levantou-se da beira do píer, caminhando até ela com suas passadas longas. Cheirou o ar ao redor, percebendo algo de diferente.
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Submundus (DEGUSTAÇÃO)
ParanormalDISPONÍVEL COMPLETA NA AMAZON E KINDLE UNILIMITED CRÔNICAS DO SUBMUNDO #1 Gabrielle Katsaros vive um dilema. Como sobrinha do líder de seu clã, seus tios pretendem enlaçá-la em um casamento com Lucas, o filho mais velho da rica família Cortázar, de...