A madrugada abraçava a cidade com sua graça habitual. Um não-habitante sequer diria ser a mesma Tantris, que se recusava a parar durante o dia, vendo o que suas novas fábricas a pleno vapor eram capazes de fazer. De dia, o coração daquela cidade labutava; de noite, ele repousava.
Tantris, para infortúnio de alguns dos membros mais antigos de seu coração, quisera começar diferente de suas vizinhas no país de Constantia. Os primeiros meses de 1890 traziam ventos de mudança vindos do outro lado do oceano. Constantia seria somente mais um país no continente americano a ser contaminado pelo progresso mecânico.
Entretanto, ainda em Tantris, nem todos os seus galhos aderiam ao porvir. No oeste, a tradição e o progresso pareciam batalhar para ver quem sairia vencedor. Lá, a noite continuava a mesma das lembranças de quem não tinha memória curta. Os grilos cricilavam, sapos coaxavam, pontos de luz dançavam pelo ar e as luzes das janelas se apagavam uma a uma. A maioria simplesmente soprava a chama da vela.
No escuro, os cachorros latiam afoitos para o ruído dos passos chapinhando na lama para longe. Quebrando a tradição, o dono dos cães correu para fora em posse de uma espingarda. No escuro, nada ouviu além dos animais e do baque de um corpo contra o solo.
E a noite continuava, mostrando que nem tudo permaneceria como sempre.
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Submundus (DEGUSTAÇÃO)
ParanormalDISPONÍVEL COMPLETA NA AMAZON E KINDLE UNILIMITED CRÔNICAS DO SUBMUNDO #1 Gabrielle Katsaros vive um dilema. Como sobrinha do líder de seu clã, seus tios pretendem enlaçá-la em um casamento com Lucas, o filho mais velho da rica família Cortázar, de...