ASTRID MCCARTNEY
Crianças com certeza são as pessoas mais sinceras e persuasivas que existem no mundo. A prova disso eram as diversas cabecinhas pensantes à minha frente, que me faziam perguntas bastantes indiscretas e que conseguiam me convencer a deixá-los de folga cinco minutos antes do fim da aula ou a não passar lição de casa.
Trabalhar como professora do ensino infantil era um desafio, geralmente era preciso conter a bagunça, fazê-los realizarem as tarefas e em algumas oportunidades, me divertir com eles.
Se eu colocasse no papel todos os questionamentos daqueles anjinhos, metade deles seria algo relacionado a minha vida amorosa. Crianças sempre têm o dom de perguntar a nós se temos namorados.
Eu não tinha. E nem passava em minha cabeça ter um, afinal meus relacionamentos sempre foram uma tragédia, que resultava em um coração quebrado e esse coração era o meu.
Demorei muito para colocar em minha cabeça que o amor não era para mim, porque por mais que eu procurasse por um cara perfeito, meu dedo podre indicava para um idiota qualquer.
Então por ver das dúvidas seria mais fácil e menos estressante ficar sozinha do que mal acompanhada.
— Professora! — ouvi a voz doce de Clara me chamar.
A garotinha de olhos castanhos e grandes, cabelo preto e liso, cortado em chanel aproximou de minha mesa, carregando a folha branca que eu tinha entregado para todos os alunos fazerem a atividade que eu tinha pedido.
— Oi, Clarinha! — estiquei meus lábios em sua direção, dando um sorriso carinhoso.
A menininha era uma graça, sempre foi bem comportada, nunca fez qualquer tipo de estripulia e tinha boas notas.
— Você não vai escrever uma carta? — sua pergunta me pegou de surpresa.
Abri a boca para responder que não, mas não o fiz.
— Todo mundo está escrevendo uma cartinha para o Papai Noel, então acho que você também deveria escrever uma. — ela deu um sorriso fofo.
— Minha fase de escrever cartinha para o Papai Noel já passou, querida. — expliquei, com um sorriso nos lábios.
— Claro que não, professora. — exclamou sisuda. — Todo mundo do mundo pode escrever uma cartinha para o Papai Noel. — sacudiu a cabeça. — Até a professora.
Comprimi os lábios, dando um sorriso fraco.
— E você já escreveu? — cruzei os braços sobre o peito.
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MAGICAL CHRISTMAS
Short StoryAos vinte e cinco anos, Astrid McCartney não acredita mais em Papai Noel e nem que o Bom Velhinho presenteia quem escreve cartas. Bom, isso até a noite de Natal. Quando um desconhecido aparece em seu apartamento, com sua carta em mãos, Astrid não sa...