Capítulo 1

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 Acordar cedo nunca foi meu forte, principalmente depois de virar a noite lendo um livro de auto ajuda que eu jurei que mofaria na minha estante, ok estou realmente desesperada e preciso urgentemente dar uma guinada na minha vida, não que ela seja uma completa porcaria, porque ainda tenho meu irmão, minha única família, para me salvar, mas digamos que nesses últimos dias ele esteja no mesmo barco que eu, por causa de um babaca que preferiu uma traição à ter uma conversa clara e um termino tranquilo.

 Depois de um banho e um lata inteira de energético, eu estava pronta para ir trabalhar. Desde que sai da casa dos meus pais, ler ou assistir animes antes de dormir virou uma rotina, não que eu vá fazer cosplay por ai, mas é a única coisa que me ajuda a esquecer a merda que me trouxe até esse estado mental que tenho hoje.

 Desço as escadas e encontro a pessoa que mais amo nesse mundo jogado no sofá como se ele já não tivesse um quarto na minha casa. Meu irmão ainda mora com meus pais, porém eles não aceitam a orientação sexual dele, e por isso ele passa a maior parte do tempo aqui.

_ Vamos Leonardo, levanta! Eu preciso ir trabalhar e você tem que ir embora. - Disse já jogando ele no chão.

 Antes que perguntem, a única com um nome asiático na minha família sou eu, como se já não bastasse ter sido o trunfo preferido da minha mãe.

_ Porra! Isso é jeito de acordar alguém!? E hoje é sábado!

_ Vai! O único aqui que os pais ainda sustentam é você, então levanta essa bunda e vaza!

_ Antes eu morasse na rua e me sustentasse de esmolas. - Falou baixo.

_ Para de drama, você sabe que eu nunca te deixaria na rua, mas isso não anula o fato de você estar a mais de vinte e quatro horas fora de casa e daqui a pouco dona Cecilia vai colocar até a marinha atrás de você, e mesmo que ela odeie que você goste da mesma fruta que ela, aquela baixinha ainda é sua mãe. E graças a Odin ser mãe ainda está acima de tudo, pelo menos para um de nós. - Sussurrei a última parte apenas para mim.

_ Ela também é sua mãe!

_ A qual é! Você não faz ideia o que aquela maluca fez comigo quando me recusei a casar com aquele engomado. Estamos no século XXI e eu não sou uma mercadoria!

_ Não sei porque você não conta. Guardar esse tipo de coisa ainda vai te matar.

Talvez fosse melhor mesmo.

_ Sai da porra da minha casa que eu já estou atrasada! E se a polícia ou Cecilia bater na porta da minha casa atrás de você, eles vão encontrar um cadáver! - Gritei ignorando o que ele disse.

_ Ok, ok! Não esquece, hoje à noite! - Meu irmão me olha com a sua melhor cara de pedinte.

_ Droga! - Digo me lembrando que havia prometido ir com ele em uma nova boate que abriu recentemente na cidade.

_ Não vem não! Você prometeu e dessa vez não vai fugir!

_ Tá bom, agora bora que eu estou mais que atrasada. - Disse o empurrando pela porta do jeito que estava mesmo.

 Por mais que minha relação com meu irmão pareça agressiva, ela não é, só que nos tratamos assim desde sempre, e em todo esse mundo ele foi o único que sempre esteve ao meu lado de verdade.

 Já eram quase onze horas, e eu como uma ótima funcionaria, já havia completado todo trabalho extra que aquele otário me passou, estava entediada e com fome, infelizmente tenho o péssimo costume de não tomar café da manhã principalmente quando estou sem dormir, então cá estou eu contando os segundos para sair desse inferno.

 A Nova Veículos nem sempre foi um lugar horrível de se trabalhar, a três anos quando entrei aqui o gerente era meio esquentadinho e sem trava, porém nos dávamos bem, deve ser porque tínhamos o mesmo gênio, mas no segundo ano tudo mudou quando descobriram que ele roubava do caixa da loja e uma certa ameba gorducha assumiu o cargo e resolveu que minha existência era incomoda , depois disso foi de mal a pior, eu tenho plena convicção que estou aqui apenas pelo dinheiro, mas esse cara me lembra muito a vaca da minha mãe, sempre me julgando, e isso faz que eu odeie ele ainda mais.

_ Psiu!? Está me ouvindo? - Um homem de mais ou menos um e oitenta de altura, cabelos quase brancos e uma máscara que me impedia de ver mais que seus olhos pretos, me encarava.

_ Me desculpe, estava distraída, no que posso ajudar? - Respondi ainda babando um pouco, mas consegui sorrir para parecer amigável.

_ Ah bom, achei que era surda ou tinha algum problema!

_ Como é que é!?!? Escuta aqui seu... – Fui de zero a cem muito rápido.

Eu realmente sou um monstro com fome.

_ Tá bom, você tem o amortecedor do Taos 2021, essa cidade cheia de buracos acabou com meu bebê.

 O idiota cortou meu xingamento e ainda chamou o carro de bebê? É sempre assim, o que tem de bonito tem de retardado.

_ Primeiro seu tosco de merda, é falta de educação interromper quando alguém está te xingando, segundo não tenho nem sombra da peça que você pediu, você já olhou para esse lugar? Não tem nem um terço das peças necessárias para montar um carro, é obvio que não tem o amortecedor dessa carroça ambulante que você chama de bebê.

 Ele se calou e ficou me encarando, pouco me importei, tinha raiva demais acumulada e o coitado que levou tudo de graça.

_ E aproxima vez que for falar com uma mulher, ou melhor, com qualquer pessoa, GUARDA ESSE EGO NO CU E NÃO "OFENDA" ELA DIZENDO QUE TEM ALGUMA DEFICIENCIA, PORQUE VOCÊ NÃO SABE SE REALMENTE TEM! – A essa altura eu já estava gritando, louca para socar a cara dele, atravessar a rua e ir na quitanda comer alguma coisa.

 Ele me olhou por mais uns cinco minutos como se eu tivesse três cabeças, e eu juro que vi surpresa passa pelos seus olhos, ele tirou a máscara, me pediu desculpas e foi embora. Nem tive tempo de responder por causa do choque.

 O senhor sem nome era muito mais gato sem máscara, lábios finos e rosados, uma pele impecável, uma expressão suave, além de um corpo maravilhosamente definido embaixo daquela regata verde e da bermuda preta.

 Olhei no relógio e já era meio dia, desliguei meu computador, peguei minhas coisas e passei meu ponto, foi quando vi a ameba vindo na minha direção.

_ Soyo, não ache que não vi seu showzinho...

_ ESCUTA! – Minha paciência já tinha ido para o espaço e acabei gritando. – Já passei meu ponto, ou seja, não estou em horário de trabalho. ENTÃO GUARDA SEU SERMÃO PARA SEGUNDA-FEIRA PORQUE EU ESTOU UM FOME DO CÃO!

_ Até segunda então. - Disse sem graça e quase sussurrando, pois eu já havia começado a andar.

 Atravessei a rua, entrei na quitanda, pedi um salgado, um refrigerante e me sentei para comer, é ai que vejo uma certa pessoa entrar pela porta.

_ Você estava claramente muito nervosa. Sabe, nível hard.

_ Era fome. -Respondi simples.

_ Você gostou dele né? - Theo me perguntou como se fosse super normal.

_ Me poupe vai! Uma discussão não pode definir isso. E sem um nome o sonho de nunca mais encontrar ele se torna real. - Comentei feliz pelo babaca não ter se apresentado.

_ Algo me diz que vocês ainda vão se trombar mais vezes. - O moreno me olhou com sua melhor cara de safado, e se eu já não o conhecesse o suficiente cairia fácil nessa rede furada.

_ Que Odin jamais te ouça, e vamos logo que tenho uma casa inteirinha para arrumar antes de sair com um Leonardo com dor de corno e eu ainda nem escolhi a roupa. – Me levantei para ir ao caixa pagar e ir pegar minha moto que ainda estava no estacionamento da loja.

_ Vai lá! Nos vemos na segunda-feira, mas se encontrar o boy de novo me liga. – Disse rindo da minha cara de nojo.

_ Não vou encontrar!

 Virei as costas e fui embora, tinha muito o que fazer ainda.

Sonhos de uma alma SurtadaOnde histórias criam vida. Descubra agora