Encontro Inusitado

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Três dias. Três malditos dias haviam se passado e Draco Malfoy ainda não tinha dito uma única palavra para Harry Potter.

Harry estava possesso! Por Merlin, ele estava acostumado a ter a atenção do garoto 24/7 desde os 11 anos de idade. Se tinha uma coisa que Harry podia contar em sua rotina a partir do momento que negou a amizade do loiro, era tê-lo atormentando-o inconvenientemente. Todos os dias. Mas agora, o sonserino simplesmente passou a ignorar a sua existência.

E isso nem era o pior; durante o almoço, Harry o viu provocando um corvino do qual ele nem sabia o nome. O moreno nunca sentiu tanto ciúmes de um desconhecido na vida.

Veja bem, se ele estivesse ignorando todos ao seu redor, seria até justificável. Pois nesse caso, ele teoricamente estaria muito ocupado com seus negócios, tentando demonstrar em ações o amadurecimento que ele alega ter tido em entrevistas, dedicando-se para ser um ótimo aluno ou apenas um filho da mãe bonito. Mas não! Esse tratamento estava reservado apenas para Harry.

Era demais exigir um pouco de atenção? Nem que fosse em respeito à história deles. O moreno achava essa atitude uma tremenda falta de consideração com tudo que já viveram, se lhe permite dizer. Ele ficaria satisfeito até com um mísero bilhetinho por aula! Um. Não precisava de dois. Só um.

Levantou emburrado da cama, vendo que não conseguiria dormir de qualquer forma. Pegou sua capa da invisibilidade e desceu até o Salão Comunal da Grifinória, deixando o quadro da Mulher Gorda muito zangada após acorda-la apenas para sair da sala.

O grifano lançou um Lumus para iluminar seu caminho, andando um pouco até se assustar com um barulho atrás da escultura de cavaleiro próximo ao corredor. Receou que fosse Filch, ou pior, Madame Nor-r-a.

Harry achou que confirmaria suas suspeitas no momento em que escutou um miado curto, mas se aproximando um pouco pode notar que se tratava de uma gatinha cinza, tão mal-encarada quanto.

O moreno tirou a capa com cuidado, tentando chamar a atenção da felina.

— Olá? — O grifinório a cumprimentou, delicadamente, e ela caminhou até ele. — O que você está fazendo aqui sozinha nesse horário, hum? — Harry perguntou, feliz quando a gatinha lhe deu permissão para fazer carinho em seu queixo, ronronando baixinho. — Você é adorável... — Se abaixou para ver o nome registrado na coleira. — Lyra? Que bonito! É o nome de uma constelação. Você poderia ser uma Black, afinal. — Harry riu sozinho, inevitavelmente se lembrando de Sirius.

— Pspsps! — Ouviu alguém tentando atrair a gata do outro lado do corredor, e logo em seguida avistou um loiro aflito andando apressadamente até os dois.

— Lyra! — Draco exclamou, zangado. Harry se afastou assim que o reconheceu, levantando-se e quase engasgando ao notar que o sonserino vestia apenas um hobby curto de seda.

Pensou feliz que, pelo menos agora, seria inevitável não falar com ele.

— Não saia desse jeito! Eu te procurei por toda parte. — Draco repreendeu, a pegando no colo como um neném. — E quantas vezes eu vou ter que te falar para não conversar com estranhos?

Com licença?

— Eu não sou um estranho! — Se manifestou o moreno, irritado. — Sou muito o contrário disso, Malfoy. Embora você esteja me tratando como um. — Murmurou a última parte amargurado.

Draco, que até então estava indiferente quanto a presença do outro ali, levantou o olhar para encara-lo diretamente depois de meses, e Harry pensou que poderia perder o fôlego com o fervor que encontrou nos olhos azuis-acinzentados.

— E o que isso importa para você, Potter? — O loiro questionou, com certa frieza na voz.

Harry de repente perdeu as palavras. Ele sabia; sabia o que lhe importava, sabia o que queria, sabia o motivo de ter esperado ansiosamente durante esses três dias o momento em que o loiro finalmente lhe concederia esse simples gesto de reconhecimento. Mas ele não aceitava, de forma alguma, a resposta daquela pergunta.

— Nada. — Respondeu por fim, suspirando. — Não me importo. — Mentiu.

Draco o observou em silêncio, não sendo capaz de desviar nem mesmo por um segundo depois que olhou nos olhos verdes. Dando-se conta que essa era a primeira vez que se falavam depois de muito tempo, e a julgar pela expressão frustrada e levemente irritada do moreno diante de si, um sorriso lhe atingiu quando ele chegou a uma conclusão.

— Você está com saudade de mim? — Draco sorriu ainda mais após ver o outro arregalar os olhos e esgasgar-se, disfarçando com uma tosse. — Oh, isso já fala por si só. — O loiro zombou, perante a reação nervosa do grifinório.

Harry levantou a mão desesperado, enquanto parava de tossir.

— Não! — Quase gritou, mas abaixou o tom de voz logo que ouviu um quadro ao seu lado reclamar. — É claro que não. — Disse, balançando a cabeça. — É um alívio você finalmente ter saído do meu pé. Só acho esquisito...

Draco ergueu as sobrancelhas ofendido com aquela afirmação, esquecendo-se completamente do ar cômico que pairava entre eles.

— Tem razão, Potter. — Suspirou audivelmente. — Me lembro perfeitamente de passar noites em claro observando literalmente cada passo que você dava nesse castelo através de um mapa encantado porque eu não conseguia sair do seu pé. — Contou, prolongando a história. — Ah, não... espere um minuto! — Levantou o dedo indicador. — Esse era você!

— Vá se danar, Malfoy. — Harry desejou. — Eu apenas estava desconfiado do seu comportamento, e com razão, diga-se de passagem. — Evidenciou.

A alfinetada não afetou em nada a tranquilidade transmitida no rosto de Draco, que apenas deu de ombros e disse:

— Se acreditar nisso te faz dormir melhor a noite.

Harry revirou os olhos por tamanha prepotência, notando que aquele sentimento havia ido embora na mesma velocidade que surgiu.

— O que, exatamente, você quer dizer com isso? — Perguntou, odiando o tom sugestivo presente na voz do sonserino.

Draco sorriu, dessa vez sinceramente.

— Você deve saber melhor do que eu, Potter. — Disse, antes de encara-lo uma última vez e virar as costas segurando a pequena gatinha nos braços.

"Claro que ele também tem que andar rebolando para ressaltar o quão gostoso ele é." — Harry constatou lamentavelmente, observando o outro afastar-se e sumir de vista alguns passos adiante.

Ambos não disseram, tampouco expressaram, mas estavam internamente feliz pelo encontro inusitado que tiveram naquela madrugada.

Accidentally In Love - DRARRYOnde histórias criam vida. Descubra agora