22 - Forks

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Por mais que aquela ilha fosse um sonho, tínhamos que voltar para a realidade em algum momento, percebemos isso quando os camareiros voltaram com passagens nas mãos, dois dias depois.

Jacob e eu aproveitamos bem nosso tempo juntos, principalmente quando ele perdeu o medo de me machucar, tão certo de que eu estava mesmo em fase de transição. Eu ainda tinha minhas dúvidas sobre isso, mas estava começando a concordar que aquela era a única explicação para muitas coisas, mesmo que essa aceitação trouxesse junto o medo de eu não saber lidar com a transformação.

Quando juntamos nossas coisas em pequenas malas e nos preparamos para nos despedir da casa e do casal que havia cuidado de nós naquela semana, a mulher me puxou pra um canto mais distante e eu fiquei imediatamente ansiosa.

— Você é diferente deles — ela disse com um pouco de dificuldade, se arrastando no inglês. — Eles são frios, mas você...

— A senhora sabe o que está acontecendo comigo?

— Uma mudança — respondeu. — Grande mudança, seu espírito está... crescendo.

Imaginei se ela não quis dizer expandindo, ou algo do tipo. Ela não parecia saber muito de inglês, mas estava se esforçando. Eu não sabia nada de português, então a situação não tinha como melhorar a partir desse ponto.

— Você é pura — a voz dela parecia mais leve enquanto segurava minha mão, ela até sorriu. — Isso vai ser importante, não perca seu espírito.

Assenti devagar, aceitando que não teria mais do que aquele enigma para pensar. Ela não saberia desenvolver melhor e nós tínhamos um voo para pegar, então guardei aquele momento no fundo da mente e segui com eles até a lancha que nos levaria para o continente. O caminho foi silencioso até o aeroporto, onde eles nos acompanharam até o portão de embarque e até ajudaram com as poucas malas. Eu me sentia um pouco confusa com aquilo e não perdi a oportunidade de contar para Jacob quando sentamos nas poltronas da primeira classe outra vez.

— Você acha que ela sabe de algo? — Perguntei quando terminei de falar.

— Eles são indígenas, devem ter suas lendas assim como a minha tribo tem — ele deu de ombros e segurou minha mão.

— Não vejo como minha transformação seria algo tão impactante.

Jacob me encarou e era quase como se pudesse ouvir ele dizendo "você ouviu sequer uma palavra do que eu disse aquele dia?"

— Você é descendente direta do segundo maior alfa que já tivemos história — falou mais baixo para não chamar atenção dos outros. — Se isso tudo for mesmo verdade e você se transformar, seu direito natural seria o posto de alfa na alcateia da reserva, você tem mais poder sobre isso do que a minha família, que contém gerações de alfas.

— Mas e se eu não quiser ser alfa?

— Como eu disse, isso é um direito seu, mas não é obrigação. Eu renunciei o meu posto de alfa e Sam assumiu apenas por isso. Você pode renunciar o direito e ser parte da alcateia dele, ou se exilar voluntariamente.

Percebi que ele mordeu o lábio, um hábito incomum dele que eu só via em momentos de muito nervosismo ou ansiedade. Ele ficou tenso quando falou sobre esse exílio voluntário e não é preciso ser um gênio para saber que ele estava acontecendo algo. O avião começou a decolar no exato momento em que eu me ajeitei para encarar ele melhor.

— O que aconteceu?

— Tive que conversar com Sam antes dessa viagem, avisar ao alfa que estaria longe por uns dias, coisa de hierarquia — deu de ombros, os olhos distantes. — Ele disse que eu não podia vir, ordenou que eu deixasse você por sua própria conta aqui e ficasse com o bando, mas eu não podia aceitar isso. A lei do imprinting é clara sobre separar o lobo da sua parceira, assim como outras coisas como machucar essa pessoa propositalmente.

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