Capítulo 15

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A sexta-feira começou com Trey tomando café da manhã comigo e com Jimin depois de dormir lá em casa. Enquanto bebia a primeira xícara de café do dia, observei o modo como eles interagiam e fiquei contentíssima ao ver seus sorrisos de cumplicidade e a maneira discreta como trocavam carícias furtivas.
Eu já havia tido relacionamentos tranquilos como esse, e não soube valorizá-los devidamente na época. Eram namoros gostosos e descomplicados, mas também um tanto
superficiais em certo sentido.
Como ter uma relação mais profunda se você não conhece os recantos mais obscuros da pessoa amada? Era esse meu dilema com Taehyung.

O Segundo Dia Pós-Taehyung havia começado. Minha vontade era ir até ele e pedir desculpas por tê-lo deixado. Queria dizer que ele podia contar comigo, que eu seria toda ouvidos, ou então ofereceria um consolo silencioso caso fosse preferível. Mas eu estava envolvida demais emocionalmente. Fragilizada demais. Morrendo de medo de ser rejeitada. E saber que ele não se abriria para mim só fazia esse medo crescer. Mesmo que nos acertássemos, eu sabia que só ia me magoar não o tendo por inteiro, tentando conviver apenas com o que ele decidisse compartilhar comigo.
Pelo menos no trabalho estava tudo bem. O almoço comemorativo que os executivos nos ofereceram por termos conseguido a conta da Kingsman me deixou feliz de verdade. Senti que era muita sorte minha trabalhar em um ambiente tão positivo. No entanto, quando ouvi que Taehyung também tinha sido convidado — apesar de ninguém esperar que ele aparecesse —, voltei para minha mesa em silêncio e me concentrei só nos meus afazeres pelo resto da tarde.
Passei na academia a caminho de casa, depois comprei ingredientes para fazer fettuccini alfredo para o jantar e crème brûlée para a sobremesa — uma comida bem pesada
para me deixar num coma induzido por carboidratos. Esperava que o sono me oferecesse uma trégua dos questionamentos que percorriam ciclicamente meu cérebro, na esperança de que a manhã de sábado chegasse bem depressa.
Jimin e eu jantamos na sala, com palitinhos, uma ideia dele para me agradar. Ele falou que o jantar estava ótimo, mas nem ouvi. Saí do transe quando ele ficou em silêncio também, e percebi que não estava sendo uma companhia muito boa.
- Quando vão sair os anúncios da campanha da Grey Isles? - , perguntei.
- Não sei, mas escute só isso... - Ele sorriu. - Você sabe como os modelos costumam ser tratados — somos descartados como camisinhas usadas numa orgia. É difícil se destacar, a não ser que você namore alguém famoso. O que do nada virou meu caso, desde que aquelas fotos minhas com você começaram a pipocar por toda parte. Entrei por tabela no seu relacionamento com o Taehyung. Você fez com que eu virasse um objeto cobiçado.
Dei risada. - Nisso eu não ajudei, não.
- Bom, mas com certeza mal não fez. Enfim, eles me ligaram para fazer mais algumas fotos. Acho que estão a fim de me usar por mais de cinco minutos.
- Precisamos sair pra comemorar - , provoquei.
- Com certeza. Quando você estiver pronta para isso.
Acabamos ficando em casa vendo Tron — o original, não o remake. O celular dele tocou vinte minutos depois do começo do filme, e eu o ouvi falando com um agente.
- Claro. Estarei aí em quinze minutos no máximo. Ligo pra você quando chegar.
- Conseguiu um trabalho? - , perguntei quando ele desligou.
- Pois é. Um modelo apareceu chapado para uma sessão noturna de fotos e precisam
de um substituto. - Ele olhou bem para mim.
- Quer ir junto?
Estiquei as pernas no sofá. - Não. Melhor ficar por aqui.
- Tem certeza de que está tudo bem?
- Só preciso de alguma coisa pra distrair a cabeça. Só de pensar em me trocar já fico
cansada. - Eu não me incomodaria de usar minha calça de pijama de flanela e minha
camiseta velha de dormir o fim de semana todo. Como estava machucada por dentro, o conforto exterior era uma necessidade para mim. - Não se preocupe comigo. Sei que ando confusa ultimamente, mas eu me arranjo. Pode ir, e divirta-se.
Depois que Jimin saiu, todo apressado, pausei o filme e fui até a cozinha pegar um vinho. Parei no balcão, passando os dedos nas flores que Taehyung tinha me mandado no fim de semana anterior. As pétalas caíam como lágrimas. Pensei em cortar os caules e usar o aditivo que veio junto com o buquê para aumentar sua vida útil, mas não fazia sentido me apegar a elas. No dia seguinte, iria tudo para o lixo, a última lembrança de meu relacionamento igualmente condenado.
As coisas com Taehyung haviam ido mais longe do que em relacionamentos anteriores que duraram mais de um ano. Eu sempre o amaria por isso. Eu sempre o amaria, e ponto final.
Mas, algum dia, talvez isso não me causasse tanta dor.

EM REVISÃO - All Yours (Toda Sua) Livro 01 [K.T.]Onde histórias criam vida. Descubra agora