Cartas para Sol • Tempo + Senhorita

Despedidas nunca feitas entre profecias criadas da nossa dor;

#AmareloEAzul

Sol,

Até o fim do eclipse não tínhamos notado o que criamos para o mundo. Porém quando eu retornei ao meu corpo físico original, as estrelas ao meu redor já se posicionaram diferente, formando um dos rostos que eu cuidaria para o resto da minha existência. O som que minhas companheiras emitiram também eram novos e me deixaram catatonico no período que escutei aquela voz. Perturbador, talvez, mas completamente insano.

E quando nos encontramos naquele mesmo dia, aproveitando a movimentação lenta dos nossos corpos celestiais, eu sabia que havia algo de estranho. Sua pele estava pálida e seu dedo apontado para o nosso céu, tremendo violentamente.

- Ele... O céu... Tem um rosto... E... O que fizemos?- Você me perguntou e eu pisquei várias vezes, tentando encontrar alguma culpa em nós.

- Nós?- Franzi a testa - Como assim nós?

- Lua, quando nós nos unimos, você percebeu flechas de luz? - Tu perguntou, então neguei lentamente, então você suspirou com agonia. O seu brilho de felicidade parecia ter sumido e sido abraçado por uma onda de preocupação.

- Sol e Lua são astros separados por motivos maiores, crianças!- Estremeci assustado junto a ti quando a flor mais brilhante emitiu voz- Desculpe pelo susto, mas alguém precisava comunicar o que está acontecendo.

- Você... você... fala?- Perguntei ainda em choque e a flor riu serenamente.

- Levando em conta que um lugar onde Lua e Sol se transformam em figuras humanas, ter uma flor de estrela falante não é nada incomum!- Olhei para você, esperando encontrar choque, mas sua presença estava tão escassa e encolhida que me voltei a ti.

- Sol?- Toquei seu braço.

- Como assim há motivos para nós dois ficarmos separados?- Seu questionamento foi rápido e a flor se encolheu lentamente.

- Querida, nós duas sabemos que a sua fonte de luz e calor fornecem vida àqueles humanos. Quanto mais vocês quiserem estar juntos, mais existirão momentos como hoje. E mesmo que esse evento seja belo, as novas vidas irão depender de vocês separados!- A flor diz com uma voz baixa e eu engulo a seco com a informação. - Ainda mais depois de hoje...

- O que refletimos?

- Almas gêmeas!- Olhei para ti e você olhou para mim. Nós dois compreendemos que aquela criatura que refletimos não era para ter sido criada.

- E o que há de tão errado nisso? Não foi algo refletido de maneira ruim... - Tentei argumentar, mas a flor negou antes de apontar para o lago ao nosso lado.

E a água nos mostrou o porquê aquilo era tão ruim. Nosso reflexo foi criado da maneira em que nosso inconsciente desejava, atribuindo pequenas qualidades de nossas personalidades a eles. Contudo, aquela união trouxe sentimentos severos a um fluxo de energia que andava por nosso lar: um deus invejoso que imitava a vida.

E temendo aquela imperfeição que se fazia forte; aqueles detalhes peculiares que se completavam, ele condenou nossos dois garotos a se encontrarem entres as diversas linhas temporais.

Na primeira linha, um permaneceu sendo céu e o outro humano. Na segunda linha um era um violinista judeu em um tempo de guerra e o outro apenas jovem demais para compreender que o mundo era cruel. Na terceira linha, ambos se perderam em suas dores internas e um se deixou levar pelo mar. Na quarta linha, o primeiro era um estudante solitário e o outro um guitarrista com medo de ser verdadeiro.