Capítulo 2 - Fatídico assalto no mercado

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Dentro do carro, Ayla não desviava os olhos da janela. Parecia capturar cada detalhe da cidade à noite em uma concentração invejável, se não fosse por seus lapsos de vez em quando. Arregalava os olhos amendoados como quem tivera uma geniosa ideia, e então puxava o celular para anotar algo no bloco de notas.

No entanto, tudo o que se passava em mente eram estratégias para encontrar uma mísera brecha. Aquela que serviria para desbloquear o final romântico com Levi Belchior em seu jogo.

Passara a tarde inteira buscando uma forma de conquistar o bendito final, sempre caindo no final desastroso. Sempre falhando. Clicara tanto no botão recomeçar, que seu mouse chegara a falhar algumas vezes, em outros momentos automaticamente dava uma resposta quando deveria testar outras.

As seis horas em frente de computador sem levantar, sem comer e até mesmo sem beber água resultaram em plena frustração.

Quando sua irmã mais velha lhe chamara para irem ao mercado, foi como um sinal de que ainda estava viva apesar da irritação. Sair até a garagem e respirar fundo a fizera se lembrar de que ainda estava viva.

E mesmo ao estacionar o carro na garagem do mercado, tendo ela descido do veículo e pegar o carrinho, Ayla continuava a matutar sobre as rotas.

― Desgruda desse celular ― Resmungava a irmã mais velha ao pegar o aparelho e bloquear a tela enfiando-o, em seguida, no bolso de sua calça ― estamos numa missão agora.

― E qual seria?

― O terror de todos aqueles que são desacostumados com a vida domiciliar. O pesadelo daqueles que desejam economizar seus salários ― Dramaticamente ela puxara um pedaço de papel do bolso, erguendo-o para a irmã caçula ― Lista de compras.

Segurando o riso, Ayla empurrava o carrinho sem desviar os olhos da irmã.

― E por acaso somos alguns deles? Dos que se sentem aterrorizados por esse meliante, quero dizer.

― Infelizmente, minha cara irmã desvairada, somos parte de todos eles. ― A irmã aproximara o rosto do ouvido da caçula, e apontara com o indicador discretamente para a mãe, que caminhava mais a frente ― nosso objetivo é verificar a data de validade e aproveitar as promoções. Assim, mamãe ficará feliz.

― Meninas, por onde devemos começar?

Quando a mãe virara para trás, as irmãs apenas desceram os olhos para os itens da extensa lista de compras.

― Deixe o bolo por último, se não vai estragar caso demoremos na compra.

― Tem razão, vamos começar pegando a caixa de leite?

Seguindo a sua função de empurradora de carrinho, Ayla se mantivera quieta três passos atrás de sua mãe. Mesmo que o seu celular estivesse no bolso com as anotações do jogo, sua mente trabalhava incessantemente na busca de uma solução.

Estava inconformada, certamente, em não ter encontrado a rota romântica de seu personagem preferido. Seu orgulho estava ferido, pois sempre se julgara conhecedora de seu perfil. Deveria saber, ou intuir, quais respostas aumentariam a intimidade com o infeliz.

Ainda que fosse do seu desejo fazer fumaças saírem de suas orelhas de tanto pensar, não dera continuidade. Quando bufara pela quarta vez recebera um olhar repreendedor de sua irmã, em uma mensagem clara de que seu chocolate seria roubado caso continuasse a bufar.

Pegando a lista de compras e anotando alguns itens no celular, Ayla caminhara pelos corredores do mercado para adiantar as compras. Só retornava para o carrinho quando seus braços estavam cheios de produtos, e os ajeitava antes de sair para o próximo item ou empurrar o carrinho para perto de sua mãe.

Fantasma MonocromáticoOnde histórias criam vida. Descubra agora