Até que ponto seria ruim ela não saber como reagir dentro do próprio sonho? Se pertencia a ela, não deveria temer. Afinal, comandava tudo por ali, não é mesmo?
Poderia se convencer disso, ainda assim se intimidaria com aqueles olhos claros a mirando com tamanha desdenha. Muito menos controlara os arrepios que passeavam por suas costas, e o leve sono que sentira em uma busca incessante de fugir daquela situação constrangedora.
Na sua mente havia uma vozinha, baixinha e teimosa, que insistia em retomar as rédeas do sonho.
Não se intimide!
Não tenha medo!
Nada é real aqui.
Para alguém que agira imprudentemente para salvar a irmã em um assalto ao mercado ao ponto de levar tiros, por que haveria de temer um personagem de jogo? Ainda mais dentro de um sonho!
A decisão fora tomada.
Erguendo os ombros e engolindo em seco, Ayla retribuíra o olhar com austeridade ignorando por completo as demais vozezinhas chatas e medrosas em sua cabeça.
― Estou aqui por algum motivo, não é mesmo?
Excelente! Sua voz não falhara e fora assertiva. Um passo dado.
Rafael, por outro lado, não mudara sua postura e muito menos parecera acreditar em suas palavras. Mantivera a proximidade com certa ameaça, despachando por completo aquela aura gentil e cavaleira de pouco.
― Me pergunto que motivo seria esse, já que conhece aquele nome.
― Ora essa, conheço vários nomes.
― Como você conhece o Levi?
Ayla suspirara baixo sem desviar os olhos dele. No seu espreitar de amêndoas, ela não desistira de sua liderança no sonho.
― Faz diferença como eu conheço? Por acaso sou algum tipo de ameaça para esse sonho?
Ele emudecera. Afastando-se da garota, Rafael mantivera os braços cruzados e o olhar desconfiado sobre ela, porém não lhe dirigiu uma palavra. Depois de alguns minutos mergulhado ao silêncio, finalmente abrira um singelo sorriso ao inclinar a cabeça.
Nos alto falantes espalhados pelos corredores soava o toque de recolher. Ayla chegara a dar um pulinho na cama ao se assustar com o repentino som de uma antiga cantiga.
― Faz um tempo que repete sobre estar sonhando, deve ter batido a cabeça naquela queda. Durma aqui essa noite, já deixei um bilhete para a enfermeira avisando sobre seu estado.
Queria questioná-lo sobre sua desconfiança, e tantas outras perguntas pipocavam em sua mente, no entanto Ayla ficara quieta. De fato estava cansada, e desejava voltar para a sua realidade depois daquele sonho tão exaustivo e maluco.
E, claro, frustrante.
Se fosse para sonhar com um personagem do jogo, deveria ser Levi e não o Rafael. Não que desgostasse do rapaz, mas os demais paqueras estavam bem abaixo do vilão. Não tinha jeito.
Provavelmente sua mente não havia compreendido o quanto era fissurada naquele infeliz.
― Tenha uma boa noite, senhorita. Venho vê-la amanhã cedo.
Assentindo em resposta, a garota tirara os sapatos e se ajeitara na cama soltando um prolongado suspiro. Quando suas costas finalmente encontraram aquela superfície macia e aconchegante, o sono lhe abraçara docemente.
Mal conseguira manter os olhos abertos por mais tempo, e assim que os fechou adormecera. Caíra no mais profundo sono esperando despertar de seu sonho em uma cama de hospital, ao lado de sua família.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Fantasma Monocromático
RomanceMonochrome Ghost é o jogo se simulação preferido de Ayla Bittencourt, e seu único passatempo depois de se trancafiar em seu quarto por seis meses. Quando é noticiado um update do jogo, ela não perde tempo em garantir o seu e passar mais de doze hora...