Champagne Problems

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Em plena década de 1950, Louis e Harry não podem permanecer juntos, ainda que seu amor seja incalculável.

Tamanho: 1.700 palavras

Tags: Friends to lovers; College; 1950; carta

Avisos: Homofobia, e já aviso que é meio triste


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Querido Louis,

Te escrevo sentado em uma poltrona velha, desgastada e terrivelmente desconfortável em um vagão que ruma a Paris. Reservei um assento no trem da noite para que pudesse apenas digerir essa angústia. Se é que um dia serei capaz disso. Há algumas pessoas agitadas, apesar da madrugada dar seus sinais de vida, algumas crianças chorando e homens conversando. Há também alguns sonolentos, que descansam suas cabeças no estofado marrom e cochilam serenamente.

Para ser honesto, não sei qual deles é pior. Acho que tenho inveja de sua alegria e de sua tranquilidade, sabendo que nunca mais as terei longe de seus braços. E é por isso que te escrevo, para que, caso um dia seu coração permita, possa me perdoar por minha covardia. Porque eu soltei sua mão enquanto estávamos dançando e te deixei cabisbaixo na escada dos dormitórios da faculdade. Jamais serei capaz de esquecer seu rosto me clamando para ser forte.

Mas, meu amor, eu sabia que te perderia na primeira vez que escutei meus pais se referirem a você como um "problema trivial". Eu sei o quanto eu deveria lutar e o quanto você merece o maior dos esforços, mas eu jamais poderia te trazer para esse purgatório que carrego em meu sobrenome. Te amo demais para te ver sofrer, mas acho que o machuquei da mesma maneira, não?

Acredito que você queria fazer uma surpresa, mas eu sabia sobre o anel de noivado de sua mãe no bolso do seu casaco, tão escondido quanto a minha foto que você carrega na carteira. Eu sabia também que nunca poderia te prender a mim e ao caos que carrego, do mesmo modo que nunca poderia te dizer não se me propusesse. Por esse motivo, eu fugi, como o covarde que sou. Seu coração era de vidro, meu amor, e jamais me perdoarei por tê-lo deixado cair por problemas triviais.

Me lembro do dia em que você disse aos seus pais que não estaria disposto a se casar com a dama a qual a mão lhe foi concedida, pois estava a procura de um senhor para amar. Me lembro também de como me olhou sobre a mesa ao pronunciar as últimas palavras, e como me senti preenchido ao saber que este senhor era eu.

Sua irmã deixou a taça de champanhe cair no chão, sendo o estilhaçar do cristal o único som do salão de sua casa. Estávamos lá para o final de semana, há apenas três meses atrás, mas me parece uma vida toda. Devo confessar que além de orgulho e amor, senti inveja de ti naquele momento, pois queria ser tão forte quanto para encarar minha família assim como confrontou a sua, sem abaixar a cabeça nem mesmo aos berros de seu pai.

Você me disse que precisava contar a eles, que não conseguia guardar isso para si, não mais. E que o faria durante o jantar em comemoração ao seu vigésimo segundo aniversário, mas no fim ninguém estava celebrando. Quando as coisas começaram a sair do controle, com os gritos e o choro de sua mãe, eu me desesperei e tive vontade de correr até você, mas não podia, aquilo pioraria tudo. Até aquele momento eu era apenas seu colega de quarto de Cambridge, que havia sido convidado para a festa.

Eles não sabiam de nosso amor e de como dançamos por noites a fio pelo chão do dormitório ao som de Edith Piaf, mesmo que nenhuma multidão nos aplaudisse.

Foi por isso que roubei a garrafa de Dom Pérignon, que você havia trazido, de cima da mesa e apenas aguardei até que pudesse te abraçar como queria. Eventualmente, eles nos deixam sozinhos naquele salão, cercados pela mesa de madeira maciça coberta por comida, riqueza e podridão. E apesar de tudo, esse foi o momento que mais me assustou, porque você estava em silêncio e permaneceu assim até que voltássemos para a universidade, ainda naquela madrugada.

Long Story Short | l.s.Onde histórias criam vida. Descubra agora