𝗉𝗋𝗈𝗅𝗈𝗀𝗎𝖾

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apresentações
mil novecentos e setenta e um.

Em Borough de Islington, localizada em Londres, um bairro de uma franca paleta de cores frias geralmente predominante se levava à outra realidade agora decorrente ao outono que atingiu diretamente aquela região.

As ruas bem asfaltadas agora foram encobertas gradativamente por folhas secas em tons amarelados e avermelhados, que antes eram habituadas nas copas das árvores colocadas ordenadamente em alguns pontos, que se esbalharam agilmente pele brisa gélida.

Em uns dos bancos do parquinho uma menina desenhava distraidamente em seu blocos de notas sob seu colo, deslizando as pontas dos lápis coloridos em formatos repetitivos que se assemelham à florzinhas delicadas e definidas em seus traços.

Repentinamente, a menina sente a presença de uma pessoa sentando-se em seu lado do banco. Suspirando, ela coloca alguns fios de cabelos loiros claros que caiam desordenamente em seu rosto atrás de sua orelha, erguendo a cabeça para avista-lo.


Era um menino de aproximadamente sua idade. Ele possuía cabelos negros muito bem cuidados que caiam sobre os ombros, encobertos por vestes elegantes. Seu rosto possuía traços aristocráticos e sua pele era um tom alvo, enquanto seus olhos - que estavam focados no blocos de notas dela - eram azuis-acinzentas. 

Embora possuísse uma aparência muito requintada, ele sentou-se preguiçosamente no banco, sem se importar com sua postura. Seus dedos batucavam sistematicamente à borda do banco, assim como seus pés calçados por sapatos tão bem ilustrados que refletim aos seus movimentos ansiosos de vai e vem.

— Oi — ele disse inclinando a cabeça para o lado, tirando-a de seu pequeno transe. — O que está desenhando?

— Ah — ela ofega surpresa, erguendo nervosamente o bloco de notas para uma visão melhor de ambos. — Florzinhas. Eu gostaria que tivessem mais pelo bairro então... fiz.

— Você desenha tudo aquilo que gostaria de ter? — questiona o menino lentamente, erguendo interrogativamente seus sombrancelhas.

Ela pisca e pensa por um momento, entorpecida. Não apenas por ser uma pergunta mais específica, mas sim pelo interesse dele em sua arte geralmente ignorada por todos, justamente em algo utilizado para expressar seus sentimentos, opiniões e desejos mais íntimos. Mesmo que muitas vezes seja inconsciente: como agora.

— Sim, acho que sim — concorda, balançando tímidamente suas pernas suspensas alguns centímetros do chão. Ela sempre costumou ser baixa. — Mas na minha casa pelo menos tem bastante flores, sabe.

— Na minha não há nenhuma — admite ele casualmente. — Minha mãe custuma dizer que elas são fúteis e dão muito trabalho desnecessário com a sujeira.

Um pensamento muito estranho, pensa a menina enrugando o rosto em uma careta como se estivesse acabado de comer algo realmente azedo, fazendo-o rir alto. 

— Se você pudesse desenhar algo em que deseja, o que seria? — pergunta ela interessada, apoiando o bloco de notas novamente sob seu colo.

— Eu não sei desenhar.  — zomba levando a mão à boca, bocejando.

Ela comprime os lábios em uma linha fina e encolhe em ombros ao comentário brincalhão do menino em sua frente, sua expectativa de uma resposta decente esvaziando-se como um balão de ar sem amarração.

Percebendo o semblante magoado dela, o menino começa a ponderar uma resposta por um tempo, logo chegando-se em uma metáfora que lhe agrade o suficiente para designar a ela, esperando, estranhamente, que a anime.

— Um pássaro — ele suspira pesadamente, relutante — É isso que eu desenharia.

— Um... — ela exclama confusa, não conseguindo anexar isso em nada. Ele estava zombando dela ou simplesmente criou uma resposta vaga por não querer responder? A menina enrijeceu o corpo quando a sensação de ter sido inconveniente lhe veio à mente — pássaro? Olha, desculpe, você não precisa...

— Sim, eles são livres. — explica-se simples, embora seus olhos possuíssem agora um brilho diferente que a loira não pode traduzir. — Podem fazer o que quiserem e quando querem. O que mais alguém poderia querer?

Então, antes que ela pudesse falar qualquer coisa sobre, o menino levanta-se dramaticamente em um salto do banco e ajeita desleixadamente suas vestes com as mãos, deixando-a confusa de suas ações abruptas.

— Tenho que ir para casa agora — relata infeliz, olhando diretamente o balanço mais à frente. Havia um menininho muito parecido com ele, embora houvesse ondulações no cabelo e uma estrutura corporal menor, se balançando calmamente lá com uma postura impecável. A loira teve a impressão que se fosse ele, estaria suspenso em alta velocidade sobre o brinquedo, desafiando a lei da gravidade. — Preciso levar meu irmão para casa. Eu pessoalmente não me importo, mas ele é um covarde e quer ser perfeitinho.

A menina sentiu vontade de perguntar mais sobre, porém, a expressão ligeiramente amargurada no semblante dele a prendeu; provavelmente receberia uma resposta seca.

— Ok — exclama a menina posicionando se de pé também e  estendendo a mão com um sorriso suave. — Eu sou Antonella Collalto. E você?

— Eu sou Sirius Black. — ele leva a mão dela em seus lábios deixando-o um beijo casco sem desviar o olhar, fazendo-a corar furiosamente. Seus movimentos eram calculados e parecia saber perfeitamente o que estava fazendo mesmo para sua idade. — Então a gente se vê por aí, Nella.

 — Então a gente se vê por aí, Nella

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𝗴𝗶𝗿𝗹𝘀 𝗻𝗶𝗴𝗵𝘁, 𝗌𝗂𝗋𝗂𝗎𝗌 𝖻𝗅𝖺𝖼𝗄.Onde histórias criam vida. Descubra agora