5. Tento

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“Quando pensamos, fazêmo-lo com o fim de julgar ou chegar a uma conclusão;
Quando sentimos, é para atribuir um valor pessoal a qualquer coisa que fazemos.”
— Carl Jung


Ana Rivera adentrou a cabine do capitão, encontrando-o sentado em uma cadeira de espaldar alto, debruçado sobre alguns papéis.

Sob a penumbra que encobria a maior parte do aposento, ainda era possível ver a grande mesa de madeira polida, uma porção de baús e barris amontoados aleatoriamente próximo as paredes, alguns livros antigos espalhados por ali e a grande janela na parede oposta a entrada, agora às costas de Callahan.

Era a primeira vez que ela entrava ali, apesar de já estar naquele navio há quase cinco dias. No geral, não era permitido a outros tripulantes permanecer nos aposentos do capitão, a não ser quando convidados.

Quando notou sua presença, Vítor gesticulou para que ela sentasse a sua frente, o que ela fez, permitindo assim que a fraca luz das velas revelasse seu rosto.

— Prometi a você que poderia escolher seu caminho assim que ancorássemos novamente em terra firme. – falou já sem olhar para ela, em seguida, estendeu um dos papéis até que este estivesse ao alcance de sua visão.

— Atracaremos amanhã em Lanzarote.

A expressão em seu rosto parecia neutra, mas sua voz deixava escapar um leve toque de hesitação. Ana estreitou as sobrancelhas ao notar que o papel que ele oferecia era um mapa. Ela o pegou e analisou por um segundo.

— Ilhas Canárias... – falou mais para si mesma.

— Você me disse que eu deveria reavaliar o significado de escolhas... Chamei-a até aqui para me certificar de que conhece o suficiente de suas opções antes de fazer a sua.

Ana voltou a fitá-lo e ele pareceu medir as palavras por um momento, em seguida ficou de pé e olhou através da janela ao voltar a falar.

— Caso escolha ficar nessa ilha, podemos providenciar alguns suprimentos que ajudarão a mantê-la até que encontre seus próprios meios de fazer isto. Muitos negociadores de mercadorias costumam passar por essa região, poderiam lhe ser úteis quando decidir partir novamente.

Ele se calou mais uma vez e a encarou gravemente, apoiando as costas no batente da janela antes de prosseguir em tom mais sério.

— No entanto, deve saber que não só mercadores costumam ir até lá. Se decidir ficar, estará por sua própria conta... Sabe usar uma espada?

— Nunca precisei tentar.

Ela respondeu com o cenho franzido, mas não se envergonhava por não saber fazê-lo. Apesar de sua vida inteira ter sido inconstante e muitas vezes perigosa, se orgulhava de nunca ter usado de meios violentos para proteger a si mesma ou aos outros.

Infelizmente agora os tempos eram outros. Ela estaria sozinha. Não poderia contar com seu pai ou amigos e sabia que a cada dia se tornava mais perigoso para pessoas como ela circularem livremente.

Vítor suspirou lentamente, ainda a estudando com os olhos e depois levou uma das mãos até a própria cintura.

— É tarde para conseguir ensiná-la. Mas, em todo caso, quero que fique com isto.

𝑰𝒏𝒗𝒊𝒄𝒕𝒖𝒔Onde histórias criam vida. Descubra agora