ᴄᴀᴍᴘᴏ ᴀʙᴇʀᴛᴏ

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Quando eu acordei, já era manhã, Beatriz estava colocando alguns gravetos na fogueira. Olhei para os lados e não vi Ayra.

–Onde está Ayra e por que não me acordou!? Passou a noite inteira acordada?

Perguntei irritado.

–Não estava afim. Ayra acordou um pouco mais cedo, disse que tentaria pescar em um rio próximo.

A tristeza em sua voz era evidente, o seu olhar para as chamas era como se a sua alma estava distante do local.

–Certo. O que está acontecendo com você Beatriz?

Eu me vi preocupado com ela, e com a nossa missão. Beatriz respirou fundo, levantou-se e saiu andando. Também me levantei e me coloquei em sua frente.

–Você pode me explicar que merda tá acontecendo com você?

Ela me abraçou e começou a chorar. Eu sentei ela no chão e sentei a frente dela.

–Desde o começo, o meu objetivo aqui, nunca foi encontrar essa caixa de merda. Eu estava aqui pelo meu pai e, agora eu pude perceber que provavelmente ele tá morto.

Beatriz abaixou a cabeça e se silenciou, eu não tinha palavras no momento.

–Eu consegui três peixes.

Ayra nos surpreendeu, não havia percebido que estávamos conversando.

–Estou atrapalhando?

Perguntou ela.

–Não... como se sente? Desde ontem.

Pude perceber o seu olhar também vago e distante.

–Eu estou procurando não pensar no acontecido.

Ela colocou peixes envoltos na folha de bananeira dentro da fogueira.

–Agora é só esperar.

Eu peguei de dentro da mochila um mapa. Não fazia ideia de onde estávamos, então eu o mostrei a Ayra.

–Temos dois dias para chegar até o templo.

Para Ayra, aquele mapa era insignificante, ela conhecia a floresta como a palma da sua mão.

–Isso não é bom.

–O que não é bom Ayra?

–O meu pai, contava histórias dessa parte da floresta onde fica o templo. Ele sempre chamou de local proibido. Estamos muito distantes, desse local, usaremos uns três dias para chegar até lá furtivamente, pelos caminhos estreitos, isto é, por dentro de lagos e moitas.

–Não temos esse tempo todo, e a outra opção?

Perguntou Beatriz, pude ver determinação na sua voz.

–O outro caminho, é a parte aberta da floresta, onde os nossos visitantes podem e vão estar, se tivermos sorte, chegaremos amanhã.

–Vamos pelo campo aberto.

Ayra e Beatriz também concordaram, nesse momento eu me vi assustado com a possibilidade de estar levando todos nós para a morte certa.
Os peixes ficaram prontos, Ayra os retirou da fogueira e comemos.
Passado alguns minutos decidimos retornar para a nossa missão. Apagamos as chamas da fogueira e começamos a nossa caminhada.
Pela posição do sol, agora deveriam ser aproximadamente umas 8 da manhã.
A parte da floresta em que estávamos, não tinham muitas moitas, era mais fácil andar, eu sentia que estávamos sendo vigiados e provavelmente estávamos. Não havíamos trocado uma palavra sequer, até que Beatriz resolveu quebrar o gelo.

–Como você conheceu Amália Ayra.

–Ah! Amália é conhecida por muitos povos, uma feiticeira milenar.

–Nossa, interessante.

Sussurei baixo. Pode ter aparentado ser um tom irônico, porém eu realmente achava interessante, eu estava um pouco distante delas então provavelmente não ouviram.
Quando chegamos em um determinado ponto, haviam três pessoas, em pé de frente para a nossa direção, como se nos esperassem.
Um homem alto, careca pele cor branca, trajado com um capuz e manta negra a sua armadura era justa do seu corpo e tinha em sua mão direita uma glaive de ponta dupla, ao vê-lo pude sentir um medo me cortar por dentro. Uma mulher que aparentava ser da mesma idade que Beatriz, sua pele era da cor oliva, seu cabelo era totalmente liso, loiro e perfeitamente trançado, usava uma armadura cor negra, que era nas medidas do seu corpo e deixava seus braços totalmente descobertos, em suas pernas tinham vários coldres com facas, ela tinha um olhar assassino assustador.
E por fim, um rapaz que deveria ser irmão da garota, tinha características semelhantes a ela, a sua armadura também deixava os seus braços totalmente descobertos, mas em suas mãos estavam luvas, ele não portava arma alguma seu olhar era vazio.
Quando olhei para o lado, Beatriz estava com uma expressão de medo, e Ayra demonstrava fúria em seus olhos, a sede de vingança pelo seu pai e o seu povo que havia sido destruído. Amália havia dito para não tentarmos lutar, mas agora não tínhamos como fugir.

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