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— Você disse que era bom nisso.

Contive um revirar de olhos em resposta àquele comentário, podendo sentir o tom de graça no mesmo. Tentei focar no desenho que fazia na areia, o que, em minha cabeça, era para ser o sol entre as montanhas (e sendo sincero, mais parecia um ovo frito entre dois joelhos). Chutei a areia, inconformado com o resultado, e cruzei os braços, já sentindo o bico se formar em meus lábios.

— Não estava assim na minha cabeça. — argumentei, chutando mais um pouco de areia em pura frustação.

— Se olhar por esse ângulo, parece um rosto, olha... — o de cabelos loiros estava com a cabeça inclinada e os olhos semicerrados, como se analisasse a obra. — Só que o rosto tem dois narizes e um só olho.

O encarei por um momento antes de chutar de leve seu pé, ganhando em resposta uma risada alta. Continuei chutando sua canela até que ele começou a correr, e claro que fui atrás, para pelo menos chutar areia nele. Mas assim que o alcancei, ele circulou minha cintura com os braços, começando a girar e me levando junto, como uma verdadeira cena de filme.

Claro que, como o bobo que ele me deixava, não consegui conter o sorriso gigante que se abriu em meus lábios. Me agarrei no Choi para não cair, mas não me afastei nem um centímetro quando parou de nos girar, ficando com o nariz quase encostando o seu. Ele esfregou seu nariz ao meu, em um beijinho de esquimó, recebendo mais uma risadinha minha em resposta.

Já fazia algumas semanas que aquela se tornou uma cena comum: San e eu na praia, madrugada adentro, após ele inventar uma desculpa esfarrapada para jogar uma pedrinha em minha janela. Não que eu tivesse algo a reclamar, claro; apesar de dormir até o meio-dia depois de voltar para casa, aquelas saídas noturnas faziam com que eu passasse o dia todo esperando pela noite.

E eu não trocaria aqueles momentos por nada. A sensação da areia em meus pés, a visão da lua refletida no mar, o frio gostoso da água ao atingir meus pés, e a forma como meu coração corria toda vez que San sorria, falava ou ria... Era tudo indescritível, e estava fazendo aquele verão valer muito a pena.

Até mesmo os comentários que recebia no dia seguinte, ao chegar em casa, valiam a pena. Coisas como "seu cabelo está uma bagunça; a pegada dele é tão boa assim?" ou "isso no seu pescoço foi um ataque de água-viva?" que eu apenas ignorava, pois já se tornaram algo comum.

E claro que nenhum comentário importava quando, à noite, eu podia sentir os braços de Choi San ao meu redor e seus lábios em minha pele.

— Já está quase amanhecendo... — foi seu comentário após alguns selares, pois aparentemente nossas bocas não conseguiam ficar afastadas por muito tempo. Apenas o puxei mais contra mim, permanecendo de olhos fechados ao sentir o carinho que suas mãos faziam em meu rosto. — Hoje preciso dar aula de natação, por isso preciso te levar mais cedo.

Confirmei com a cabeça, ainda sem abrir os olhos, o abraçando mais forte. Às quintas e terças ele dava aulas de natação em uma instituição de caridade, e precisava estar lá de manhã. Eu me sentia culpado por fazê-lo ficar até aquela hora comigo, mas era pura insistência dele – e claro que eu não oferecia muita resistência.

Ele desceu as mãos de meu rosto até alcançar as minhas, que o prendiam contra mim pela cintura. Fez algum esforço para tirar minhas mãos dali, e ao conseguir, entrelaçou nossos dedos, levando minhas mãos até os lábios e depositando um selar no dorso de cada uma antes de me puxar suavemente para acompanhá-lo na caminhada de volta até em casa.

Infelizmente o tempo era mais teimoso que eu, e passava voando quando eu menos queria, de forma que a caminhada durou pouco tempo, e logo estávamos frente a frente na varanda. Ele provavelmente não entendia a necessidade que eu tinha de tê-lo perto – e sendo sincero, nem eu entendia aquilo –, e eu me sentia bastante ridículo por sentir isso. Afinal, nos conhecíamos há poucas semanas e eu já me apeguei tanto, mesmo sabendo que provavelmente era apenas um lance momentâneo.

Cruel Summer || woosanOnde histórias criam vida. Descubra agora