E o sol parecia a lua

14 2 6
                                    


A terra é uma pedra silenciosa.

A lua é uma pedra silenciosa.

Há gente que é uma pedra silenciosa.

Primeiro terreno.

Apesar de pesar, aceitar o passar

a eternidade de um amor de shopping, passa

a eternidade de eternas amizades, passa

a eternidade de um mês, passa

a alegria e o medo, pesam.

Casam-se e chamam de casa certos dormitórios, até que a chama acabe.

Há que tem coragem de trocar, há quem tenha preguiça, há quem tenha covardia.

Tenho astigmatismo, mas vejo muito e sinto muito também

essa pobre pedra silenciosa em translado rotativo, obediente ao seu girar.

Na sua crosta o caldo político, religioso, filosófico, ideológico, com fome, dor e guerra;

Como sarar o mundo?

mas tudo é muito simples...

Se tivesse nascido na china, seria muito chinês como é brasileiro.

Pensaria, comeria, falaria como chinês pensa, come e faz.

O teu pensar é da terra de onde nasceu, mas meu pensar é sem pátria, de um reino em construção.

Há certos humanos apátridas e sou um construtor vulcânico.

Gostaria de dar-te algo legível, mas não há.

Tudo que tenho é dessa pátria, que pesa em suas modulações.

Apátridas! Je vous salut! All of you are welcome. Ubuntu.

Nosso via é pedir exilio... as molduras não nos servem bem.

Segundo terreno

Sair dessa pedra silenciosa, dá um passo ao escuro e claro universo.

Na subida caem as moedas, os cordões, a história e o celular.

No súbito subir ao súbito parar suspendido, sem nenhuma gravidade.

Vejo-a, pedra silenciosa. E pra quê tudo isso? Não sei, nessa hora cai a filosofia.

O seu brilho, suas avenidas e casas, vejo-as miúdas... cada vez mais miúdas,

Meu corpo segue, não há como impedir, só segue, cada vez mais longe,

mas a filosofia volta à terra, pequeno meteorito atraído pela sua gravidade.

Meu corpo segue, não há como impedir, só segue, cada vez mais sem onde.

Num lugar onde se sobe para baixo e para qualquer canto, é sem onde,

E todo lugar é norte e sul, em perspectivas maiores, cai a geografia

Não tem cima, nem baixo, só o espaço, sem gente, sem precisar de nenhuma sociologia.

Eu giro, giro muito, enjoou e vomito, este não cai, nem sobe, nem se derrama.

Vomito gente inteira, livros, hóstias, apetites, paixões e apegos. Vomito.

Esse peso, essa massa que me mal formava, me deixa mais fluido, leve,

A luz agora tem seu poder, atravessa-me e me rapta em sua velocidade,

E o sol parecia a luaOnde histórias criam vida. Descubra agora