0.1 - A (not so) random friday

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You took a swing, I took it hard


— Eu não vou bancar seu pombo-correio a noite inteira, Lily — reclamou Marlene, colocando a bandeja com força na mesa e estendendo de malgrado um guardanapo.

Lily sorriu para a amiga como se pedisse desculpas antes de se esticar para pegar o pedaço de papel, tentando não transparecer que estava animada demais. Marlene quase revirou os olhos. Era nítido que a amiga estava doida para continuar trocando bilhetes com o cara do outro lado do bar, usando como meio de transmissão sua melhor amiga e garçonete, Marlene McKinnon.

— Deixe de ser chata, Lene, estou só esperando o convite oficial para me juntar a ele no balcão.

— Por que você simplesmente não vai até lá? — Marlene perguntou como se fosse óbvio porque, para ela, era. Se quisesse alguma coisa, não tinha problema algum em tomar atitude. Já Lily, parecia gostar desse jogo longo de sedução e de esperar o outro ceder.

— Ah, ele se auto convidou para cá! — celebrou a ruiva, ajeitando rapidamente os fios do cabelo. Marlene quase não conseguiu se manter séria ao pensar no contraste que Lily Evans era durante o dia e durante a noite.

Em horário comercial, Lily era uma jornalista que, embora recebesse pautas horríveis de um jornal de quinta categoria em Londres - como reportar canos estourados e fazer obituários -, prezava pela seriedade para tentar ser respeitada diante do chefe horroroso que possuía.

O tom de seriedade que ela tentava passar incluía: nunca demonstrar fraqueza diante de qualquer colega de trabalho, usar roupas que poderiam facilmente ter pertencido à mãe do padre da pequena Paróquia da cidade e tentar ser tratada como uma profissional de verdade. De todas, a última era a mais impossível e a mais triste de se ver.

Todo esse esforço fazia com que Lily vivesse completamente à beira do estresse, portanto, Marlene se sentia aliviada em ver a amiga finalmente usando alguma cor - uma blusa de gola alta verde, que, contrastando com o tom acaju de seus fios, a deixava no clima perfeito para o Natal, além da saia xadrez que recebera de presente da McKinnon no ano anterior e uma bota vermelha nada discreta - e que estivesse se permitindo flertar com um estranho do outro lado do bar.

— Marlene, me traz um Moscow Mule. Sem muito gengibre, porque você sabe que eu não sou a maior fã — pediu Lily entredentes, enquanto acenava e sorria para o homem alto e de olhos escuros que vinha em sua direção.

— Você acabou de pedir um chopp, Lily — observou Marlene, se divertindo com o nervosismo da amiga. O homem parou no meio do caminho para conversar com um conhecido e Lily aproveitou para virar o copo de chopp. Marlene assoviou, arregalando os olhos âmbares, rindo da situação. — Alguém está criando coragem para levar o moço para a cama mais tarde.

Lily olhou para Marlene com ar de indignação, mas logo balançou a mão e deu de ombros. As duas se conheciam bem demais para tentarem fingir suas reais intenções.

— Eu preciso me divertir e encher a cara antes de ficar enfurnada o Natal inteiro naquela porcaria de redação com o idiota do Slughorn lambendo o chão que o babaca do Snape pisa.

— Porra, Lily, você realmente precisa amar o que você faz para continuar naquele lugar. Eu já falei para você pedir demissão e correr atrás de alguém que te valorize de verdade.

— Diz a garota com uma voz incrível, mas esconde isso — rebateu a ruiva, arqueando a sobrancelha. Marlene revirou os olhos, agarrando a bandeja contra o corpo e mexendo nos fios loiros de maneira impaciente, apenas para tentar se distrair daquele assunto irritante.

Bulletproof | BlackinnonOnde histórias criam vida. Descubra agora