05. Dear God

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A música do capítulo é Angel, do Judas Priest.

Boa leitura!

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05. Dear God.

Angel, put sad wings around me now
Anjo, ponha suas asas tristes em volta de mim
Protect me from this world of sin
Me proteja deste mundo de pecados
So that we can rise again
Então assim podemos recomeçar novamente

Na manhã que se seguiu, Lily não teve tempo de esperar Harry para o café da manhã, e a julgar pela hora que o filho havia ido se deitar, ela achou que ele não acordaria cedo mesmo. Dessa vez, foi um dos melhores motivos que ela poderia esperar. Finalmente aquele piano havia soado novamente entre as paredes daquela casa, inundando o local onde a escuridão e o pavor já foi tão presente.

A viúva de James Potter há muito já havia feito todas as orações que conhecia em agradecimento a Deus. Apesar de ser uma mulher bastante devota, era bom não confundir com fanatismo. Era uma das poucas mulheres da sua geração que foram criadas a partir dos princípios católicos certos, e era uma mulher feliz por sua mãe não ter transformado a religião em uma seita, um tabu cheio de dogmas.

É verdade que é quase uma ironia, uma contradição de fato, usar as palavras 'catolicismo' e 'liberdade' na mesma sentença. Mas para Lily, tudo isso era perfeitamente conciliável. Prova disso, é que já tinha acertado as contas com seu Senhor em relação à sexualidade do filho. Mulheres geralmente se transformam em verdadeiras leoas quando se tratam de proteger suas crias. E uma mãe sabe, sempre sabe. Harry nunca falou abertamente, mas também nunca fez questão alguma de esconder. O que restava para sua mãe era apenas aceitar e fazer aquilo que nem a ciência sabia explicar: amá-lo incondicionalmente. E esse amor somente elas, as mães, é que têm.

Junto com esse amor, vinha a aceitação e o respeito pelo filho, pelo homem que era Harry Potter. Já dizia a avó dele ainda quando ele era uma criança: os filhos não são nossos, são do mundo, e são o espelho dos pais. Não importava pra ela quem seu filho levava pra cama. Ela estava plenamente satisfeita que ele fosse um bom homem, um bom filho, um ser humano de caráter e que respeitasse os outros. Estava num país liberal quanto a esse tipo de coisa apesar de predominantemente católico, e por isso sentia-se em paz. E sentia em seu coração que Deus concordava com ela.

Harry desceu as escadas da casa de seu quarto até a cozinha, extremamente sonolento. Esfregou os olhos, abriu a geladeira e pegou água. Um enorme copo de água. Aquele líquido gelado invadiu seu corpo de uma forma que o fez sentir como há tempos não se sentia: vivo.

Olhou de longe o piano ainda aberto, as cortinas pareciam dançar para o instrumento conforme o vento batia na janela aberta. Sorriu de canto olhando a cena.

— Vamos devagar com isso, ok? — Ele voltou a fazer o que geralmente fazia: conversava com o piano, tornando-o sempre tão intimo quanto realmente era. — Temos que recomeçar isso, então não fique me olhando desse jeito. — Ele terminou a frase e riu para si mesmo. Passou uma noite incrível e era impossível não ter acordado de bom humor, como há muito tempo não acordava, se sentia disposto também, o que era uma raridade.

Ele voltou ao quarto e entrou no banheiro para lavar o rosto e trocar de roupas. Escovou os dentes e desceu pra tomar café. Literalmente apenas um café. Não sentia vontade de ficar em casa, o que era uma outra coisa diferente de suas escolhas desde que descobriu o que o assombrava. Pegou novamente uma garrafa pequena de água na geladeira e resolveu correr um pouco no parque. Fazer um pouco de exercícios seria bom, sabia que estava enferrujado, não via propósito mais em cuidar da saúde, mas não era exatamente esse o objetivo quando saiu para fazer jogging, apenas queria clarear a mente e sentir seu corpo funcionar. Queria sentir seu coração bater, mesmo que não fosse saudável e nem no sentido literal da coisa em si, ele simplesmente queria se sentir também útil para algo.

Sodoma | DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora