Capítulo 5

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Narrado por Cupido

  Eu não deveria ter perguntado aquilo. Meu pai contou-me que a Júlia ficou chocada. Fico a cada segundo pensando o porquê de ter sido tão estúpido ao ponto de abandoná-la em uma situação dessas, mas eu estava muito confuso. Eu preciso de esclarecer muitas dúvidas. A Júlia não contem células de amaretona, e por isso, existe algo muito estranho no meio disto.

  Todos os seres humanos têm que ter estas células, então esta garota é um caso particular difícil de decifrar. Isto simplesmente nunca aconteceu.

  Hoje decidi que vou encontrar-me com o Roberto para conseguir entender o ponto de vista dele e o que ele tem feito durante estes anos. E depois à tarde, vou levá-lo a um encontro de reencontro com a Júlia, mas mais pelo motivo de ter que observar os seus comportamentos, é claro. Não quero que eles se apeguem muito um ao outro.

  Como sempre pedi informações ao meu querido pai. Eu não fazia ideia se ele sequer morava nesta cidade ou não, mas vou torcer para que sim para não ter que andar muito, hoje é domingo, eu merecia um descanso.

  Mandei mensagem para o paizinho enviando já o resultado do teste que tinha executado ( Inconclusivo) e pedi as informações da localização do rapaz.

  Roberto estava trabalhando também, pelos vistos não sou o único que não tem descanso aos domingos. Fiquei um pouco animado por saber disso e fiquei mais ainda por saber que trabalha no hospital da zona, então a minha viajem não iria durar muito.

  Em menos de meia hora cheguei ao local e entrei para o setor da geneacologia perguntando a todas as enfermeiras pelo seu nome. Aquele hospital deveria ter pelo menos dois corredores só para essa área, meu Deus.

  Finalmente encontrei a sua sala e fiquei animado, não tinha tempo a perder. Decidi entrar sem avisar ninguém, porque se isso acontecesse iriam dizer que era preciso marcação e blá blá blá.

  Abri a porta do pequeno escritório e deparei-me com uma garotinha de 16 anos lá dentro em consulta, vestindo uma bata azul e com as pernas abertas para o tal Dr. Roberto. Fiquei paralisado durante algum tempo até que decidi tapar os olhos. Ah prontos Cúpido, acabaste de traumatizar a coitada. Ela começou a gritar e eu simplesmente saí envergonhado.

  Algumas enfermeiras e possivelmente a mãe da garota ouvindo os gritos correram até mim. Eu levei um estaladão daqueles na cara e vou ser sincero, eu até que merecia. Pedi imensas desculpas a todos que vieram falar comigo e sentei-me lá de mansinho esperando o Doutor acabar lá o que estava fazendo. Pelo menos a cadeira ficava virada para a parede contrária, então não tem como dizerem que vi algo.

  Todos os presentes no local olham-me feio constantemente, este ambiente está a matar-te, mas realmente foi sem querer. Não pensei que seria possível ele estar com alguém lá dentro. Pelos vistos é isso que acontece em hospitais.

  Depois de algum tempo sou chamado para a sala onde o Dr. Roberto estava. Entrei lá já pedindo desculpa por tudo e mais alguma coisa, e sentei-me em uma cadeira para falar com ele.

-Bom dia, o que era tão importante que o senhor não podia esperar. - ele disse-me com uma cara de superior, ele estava muito diferente desde a última vez que o vi.

  A sua estatura era idêntica, secalhar um pouco mais musculado. Agora usava barba com um cabelo mais civilizado, também já não é mais nenhum adolescente e andava com um ar de mais cansado.

-Júlia, essa que é a coisa importante que precisava falar. - disse apressadamente

-O que tem? De que Júlia estamos a falar? - ele pergunta pegando em alguma caneta para brincar.

-Ahhh Roberto, tu sabes muito bem de quem eu estou falando.

-Ok eu sei sim. - ele falou colocando-se em uma posição mais confortável.

-Por mais que não me conheças eu conheço bem a sua história com a Júlia e...

-E o quê, é o novo namorado? Parabéns! - ele levantou-se para ir abrir a porta para mim - Minhas felecidades, agora pode ir-se embora? - ele começou a ficar nervoso. A sua fala foi rápida demais, demonstrava que estava incomodado com o assunto.

-Não eu não sou o namorado dela. Eu sou o Eros. - fiz uma pausa para que ele se senta-se - bem eu sei que ainda gostas dela Roberto.

-Não tu não sabes. Tu não me conheces! - Roberto começou a ficar irritado e falou em um tom mais alto comigo.

  O garoto levanta-se denovo e ficou a andar pelo seu escritório às voltas, provavelmente a pensar no que eu tinha acabado de dizer.

-A Júlia ainda ama-te. - digo chamando a sua atenção - queria saber se queres encontrar-te com ela.

-Eu simplesmente não posso, não entendes? O Mário ameaçou-me estragar a minha carreira se eu volta-se a falar com ela. - ele referia-se ao irmão mais velho da Júlia e seu antigo amigo.

-Mas tu já tens o teu trabalho, ele não consegue fazer mais nada.

-Eu já fiz muita porcaria na minha vida, é melhor não. - ele estava triste, mas eu não estava com uma motivação de desistir.

  Se o Roberto não quer encontrar com ela, então ela vai ir no encontro dele e se perguntarem será uma mera coincidência. O Cupido não seria capaz de ir contra a palavra de alguém é claro.

  Despedi-me do rapaz e saí do hospital com o intuito de ir para o meu apartamento descansar um pouco. Entrei em meu carro. Meu telemóvel vibra, era uma mensagem do meu pai.
"Só há uma explicação para isso meu filho, faz o teu trabalho que irei falar com Oráculo de Apolo".

  Meu pai havia respondido há minha pergunta acerca das células de amaretona da Júlia. Oráculo de Apolo é o vidente da mitologia grega. Um grande homem com pelo menos umas 90 décadas. Ele é um homem sincero, não tem medo de ser maldoso ou brusco. Então o povo só procura por sua palavra em última ocasião.

  Parecia que meu pai havia ficado preocupado com o assunto por não achar normal este acontecimento, mas é claro que ele não iria demonstrar.

  Depois de algum tempo conduzindo cheguei ao pequeno espaço que havia alugado por algum tempo. Não passava muito tempo aqui, já que passo todo o meu tempo completamente ocupado a convencer o pessoal que são incríveis pessoas e que não precisam de ter medo ou a juntar almas gémeas por aí.

  Enfim, hoje decidi que iria descansar. Abri a porta do apartamento e joguei-me no grande sofá vermelho. O que será que as pessoas fazem quando descansam? Fiquei algum tempo aqui sentado pensando no que iria fazer para descansar, até que tive uma ideia. Eu podia limpar as flechas do meu arco. Há muito tempo que não faço isso.

  Peguei no meu telemóvel e coloquei uma música para alegrar a minha alma. Fui até ao quarto e peguei no meu armário o suporte onde guardava todas as flechas. Todas elas têm datas especiais onde eu tenho que lançá-las, mas tive que adiar isso pelo problema da Júlia ser grande demais.

  Fico pensando na fúria dos outros humanos que já deveriam ter encontrado a sua alma gémea mas por culpa deste incidente ainda não encontraram.

  Procurei pelas flechas atrasadas e já deveriam ter pelo menos umas duzentas. Em apenas dois dias eu já atrasei o amor a quatrocentas pessoas, mas eu não sou de ferro então não tenho que andar a pensar nisso.

  Depois de mais ou menos meia hora eu organizei e limpei as flechas das próximas duas semanas. Acho que vou ficar por aqui, já descansei demais.

  Olhei para o relógio que já passava do final do horário de trabalho da Júlia. Ela iria provavelmente correr hoje denovo, penso que ela não quer estar muito tempo em casa. Então peguei as minhas chaves e fui ter ao seu encontro.

O Anjo CupidoOnde histórias criam vida. Descubra agora