Capítulo 3

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Narrado por Cupido

  Antes de vir habitar a Terra o meu pai explicou-me que existem diferentes tipos de homens. Os canis latrans, os aquila, os anthophila e por fim, os cuniculus.

   Os canis latrans tem como símbolo o coiote, animal que simboliza a malícia, confiança e o artificial. São aquele grupo de pessoas que nasceram com todas as possibilidades de escolha e mesmo assim não se preocupam com mais ninguém. Não necessariamente pessoas de posse mas aqueles que não sabem o quão difícil é viver sem tudo o que têm e acabam julgando os mais fracos. Pessoas cruéis, corruptas e egocêntricas. Os mais fáceis de lidar, porque basta tirar um pouco de suas posses que já entendem o pecado que fazem.

   Os aquila, é o meu grupo preferido. O seu animal simbólico é a águia. Animal da coragem, iluminação e visão do interior. São aqueles que enfrentam as dificuldades de cabeça alta e não ocorrem a caminhos mais fáceis para chegar em seus objetivos. Pessoas que vêm as capacidades de outras e utilizam-nas para o bem comum. Este grupo tem como características cooperação, revolucionarismo e persistência.

   Já os anthophila eu considero como o grupo que deveria existir em de maior dimensão. Tem como símbolo a abelha. Este animal simboliza trabalho árduo em harmonia e a comunicação. Este grupo é aquele que luta pelos seus sonhos de forma legal sem perturbar os outros. É uma população que tem os seus problemas e às vezes enfrenta e outras apenas esquece de certos desejos por ser difícil de alcançá-los. São pessoas que respeitam os outros, são responsáveis e obedientes.

   E por fim, os cuniculos. Representantes do coelho. Animal pequeno, presa de muitos outros animais, representa o medo, a agilidade e fragilidade. Este grupo não são apenas pessoas com medo, e sim aquelas que passaram por imensas dificuldades e não conseguem resolver sozinhas os seus problemas, normalmente pessoas pobres, depressivas, com traumas entre outros. São pessoas que simplesmente não arriscam mais.

   É com os cuniculos que eu trabalho principalmente. Meu pai ensinou que estas pessoas podem mudar de grupo se eu e os meus irmãos conseguirmos encaminhá-las para o lado certo. Eu trabalho com a parte de relações, mas os outros têm áreas diferentes e assim nós mudamos o mundo.

   Infelizmente Júlia está neste último grupo por minha culpa, não era para ela ter ficado com o Roberto. Eu acertei mal a flecha e agora tenho que consertar, mas já estou a ver que não vai ser tarefa fácil.

   Comecei a correr atrás dela e rapidamente apanhei-a. Quando a garota viu o que tinha acontecido começou a correr mais e mais rápido, só que ela não sabia que eu não me canso por ser um anjo.

   Depois de um tempo ela estava a transpirar e parou de correr pois estava exausta. Pegou em sua água e sentou-se no banco, que por coincidência, foi o mesmo aonde começamos a falar. Sentei-me ao lado dela.

-Já podemos falar? - disse finalmente, mas ela ainda estava com a respiração ofegante e não conseguiu responder-me.

  Ela fez sinal para aguardar e então eu peguei naquela gerigonça que os humanos usam agora todos os dias chamado telemóvel e vi as horas. Já estava atrasado, mas eu tenho que resolver isto. Tirei uma foto minha e mandei para o meu pai pedindo desculpa.

-Fala - ela disse por fim quando recuperou-se.

-Queria saber se tens visto o Roberto.

-Antes disso... - ela fez uma pausa para beber água - vais ter que explicar-me tudo.

-Explicar tudo? Mas que tudo?

-Quem é o teu pai? Como conheces Roberto? Como sabes sobre mim? - ela disse aquilo tudo como se fosse óbvio.

O Anjo CupidoOnde histórias criam vida. Descubra agora