Capítulo 6

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Narrado por Júlia

  Domingos costumam ser o meu dia favorito da semana, já que é o dia onde eu aproveito para ficar no sofá o dia todo assistindo filmes com a minha família ou então a passear pelo um shopping experimentando mil e uma peças de roupa para decidir só comprar uma, mas neste domingo eu sabia que não ia ser assim.

  Acordei mal disposta. Para ajudar ainda tinha-me nascido uma espinha bem no meio da testa. De qualquer forma tinha que ir trabalhar. Fiz a minha rotina normal da manhã e saí de casa sem cumprimentar ninguém.

  Pelo o caminho até ao mini café onde eu trabalho ensaiei as minhas falas para enganar a Helena acerca do que se passa. A verdade é que ela vive em um mundo perfeito e simplesmente não iria entender nada do que falo. Por mais que eu quisesse desabafar algo ela iria dizer o de sempre: "Vai correr tudo bem" ou então "Lamento ouvir isso".

  Secalhar estou a ser injusta com todos. É possível, mas eu estou realmente farta desta porcaria. Comecei a chorar no meio da rua. Há muito tempo que não fazia isso, parece que todos os sentimentos que guardei durante este tempo aproveitaram o meu mal estar e explodiram para fora. Não consigo mais esconder estes sentimentos.

  Parei de caminhar para tentar acalmar-me, não podia ir atender clientes assim. Encontrei um banco de madeira antigo e sentei-me lá. Fiquei alguns minutos observando as pessoas a passar, atarefadas com as suas próprias vidas caminhando apressadamente para chegar aos seus destinos. E eu, eu deixava a minha vida passar ao lado. Lembrei-me que eu tinha sonhos, tinha desejos e que mais ninguém a não ser eu própria poderiam realizá-los.

  Então levantei-me, eu não podia ficar parada em um canto e deixar tudo o que estava acontecendo de mal na minha vida prejudicasse tudo o que eu amo. Limpei as lágrimas que corriam pelo meu rosto e segui caminho até à cafetaria. Eu estou decidida a fazer o meu melhor.

Quando cheguei a porta do local conferi a minha cara para ver se estava muito inchada. Infelizmente, dá para reparar que isso aconteceu, mas é tão fácil dizer que são apenas alergias que ninguém vai notar. Coloquei o melhor sorriso que posso no rosto e entrei.

  A Helena como uma excelente responsável já estava lá fazendo tudo sozinha. Como sempre pedi desculpas, isto estava a virar uma rotina há pelo menos umas três semanas. Decidi que próximo sábado irei ser a primeira a chegar, custe o que custar.

  O trabalho foi chato, tentei não falar muito com a Helena, visto que estava com esperanças que iria mudar o meu estilo de vida, eu não precisava de conselhos para isso. Eu acho que sei mais ou menos como vou fazer isso.

  Primeiro tenho que ir falar com a Dona Sónia, mais conhecida como "minha mãe". Preciso saber quem é a minha mãe e pai biológicos. Acho que estou pronta para conhecê-los e para mais o Cupido perguntou-me quem era a minha mãe, então tenho de tratar descobrir isso.

  Na verdade eu nem sei para quê que o Eros quer saber sobre eles. Eu nem cheguei a entender o que aconteceu. Só sei que ele nem ficou para comer, ainda bem que não gastei o meu tempo a fazer as pipocas de panela. Eu tinha razão, era só desperdício de tempo.

  Em segundo necessito de falar o que está acontecendo ao meu irmão. Por mais que ambos nunca conversámos civilizadamente acerca do assunto do Roberto, eu já sou maior de idade e não posso ter medo de expressar os meus sentimentos e desejos para ele.

  Em terceiro necessito de esquecer o Roberto, ele nem deve lembrar-se de mim eu preciso seguir em frente. Aproveitar a vida. Eu não beijo uma boca há mais de dois anos, tudo pelo motivo de gostar do Roberto. Eu necessito de descontrair mais. Tenho que trair o meu gostar do Roberto.

O Anjo CupidoOnde histórias criam vida. Descubra agora