Seja meu Alpha🌿

240 20 3
                                    

O mundo é podre. As pessoas são cruéis e indiferentes perante a sua dor. Ninguém realmente se importa com o próximo. As pessoas nascem sozinhas e morrem sozinhas. Não há empatia, não há amor, não há esperança. Tudo que existe é um vazio imenso dentro do coração.

Seu olfato apurado era o que lhe guiava em meio a neve a procura do caminho para o vilarejo. Precisava avisar aos outros sobre os demônios e que eles destruíram sua família, sua vida. Ele precisava se apressar, mas sua visão estava turva e faltava-lhe se nos pulmões. Era difícil andar, também o corpo estava todo dolorido.

Seus pés ardiam com o gelo da neve, o rastro de sangue deixando para trás saia de suas pernas; as vestes rasgadas, o corpo marcado e cheio de feridas. Restou-lhe somente a camisa para cobrir o pouco de dignidade restante e o seu haori xadrez preto e verde. Os brincos de hanafuda balançavam com o vendo e neve, seus cabelos ruivos também. Estava frio e sua voz não saia, por mais que tentasse, ela não saia em busca de socorro.
Arrastava-se segurando nas árvores e se apoiando em seus enormes troncos, porém, uma hora as pernas cederam e veio ao chão. Ouviu lobos uivarem, sentia o cheiro deles e de sangue - era o seu sangue - misturado com esperma - era daquele maldito que lhe tocou.

Talvez não fosse tão ruim morrer ali. Só havia sobrado ele mesmo, o resto da sua família já se foi, sem piedade.

As feras se aproximaram, iriam devora-lo, pedacinho por pedacinho igual aquele homem o devorou, antes tivesse lhe matado depois de usá-lo. Por que não o matou? Essa era a sua maior dúvida. Queria ter morrido ao lado de sua mãe e irmãos, mas não, o pouparam... Era por que nasceu ômega? Era isso? Aquele homem só queria se divertir com seu sofrimento? Ainda mais agora que era um ômega solteiro e sozinho, um ômega órfão? Odiou tanto essa ideia.

Mas não fazia diferença, morreria pelas patas dos lobos que viviam na montanha onde morava de qualquer forma e eles já estavam ali o cercando e, chegando cada vez mais perto. Antes de fechar seus olhos e poder dormir enquanto sua carne seria dilacerada, sentiu o cheiro de feromônios de um alfa. Então, não viu mais nada.

O alfa afastou os lobos do ômega, verificou se havia pulsação e se ainda respirava. Ele ainda estava vivo. Pegou no colo e correu com ele para o vilarejo, onde estava e voltou para a hospedagem. As pessoas o olharam com a criança ômega em seus braços, mas não ousaram dizer nada e ele, indiferente, foi para o seu quarto.

Acabou cuidando do ômega. Limpando-o de suas feridas e colocando-o com roupas novas, deitando-o em cima do futon, cobriu-lhe por ser inverno. E ficou esperando a noite chegar para que pudesse caçar sem a tempestade que se formava lá fora.

A criança ruiva abriu os seus olhos no meio da noite. Sentia uma dor terrível em todo o seu corpo, especialmente entre suas pernas e barriga. Sua respiração era baixa e seu corpo estava febril. Olhou o teto e os arredores. Infelizmente ainda estava vivo e havia um alfa ao seu lado, que lhe encarou.

- Não se esforce... - disse calmo com sua voz grave. - Está seguro agora.

Não o respondeu, nem precisava, na verdade, não conseguia, sua voz não queria sair. Somente as lágrimas desceram e os soluços foram os únicos sons a saírem de seus lábios finos e rachados. Seu emocional e físico estão esgotados.

Seus soluços ecoaram o cômodo e o alfa se levantou, saindo do quarto, deixando-o ter o seu momento, pois podia somente imaginar o que ele tinha passado. Era algo considerado "comum" ômegas sofrerem todo o tipo de abuso. De serem usados. Basicamente serviam apenas para procriar, cuidar da casa, dos filhos e obedecer a seus alfas (e em casos raros, seus betas). Não havia muitos trabalhos que aceitassem ômegas e os que eram órfãos tinham o terrível destino de se tornarem escravos.

CarmesimOnde histórias criam vida. Descubra agora