Terminado o namoro, mantivemos a amizade. De início a gente ainda ficava, até que ficamos só na amizade - até porque alguns meses depois ela arranjou um namorado novo. Quer dizer, eu achava que era só amizade, porque no fundo mantivemos a relação de Dominação/submissão do namoro: já que cuckold não era uma opção, por conta da nossa ignorância, o jeito foi terminar o namoro, manter a submissão, e arranjar outros caras que a comessem. Quatro anos depois do fim do namoro, uma amiga em comum, que sequer era muito próxima, uma vez me pergunta, na lata: "como você se deixa dominar desse jeito por uma mulher desse tamanho?" Fiquei um pouco chocado com o termo usado: nunca tinha me imaginado dominado por ela, eu apenas... tentava agradá-la sempre, estar sempre disponível, sempre disposto a atendê-la quando quisesse - e a recíproca não era exatamente verdadeira. Também não imaginava que fosse tão evidente minha submissão a quem estava fora (e me pergunto como os namorados dela nunca se incomodaram - quer dizer, talvez porque tinham um fundo submisso também, ainda que não no mesmo grau). Fiquei com vergonha desse comentário da amiga, mas internamente cresceu um certo orgulho que eu não soube explicar. Enfim.
Tão logo terminamos, crescemos os olhos para outras pessoas, claro. E contávamos um ao outro quem era o pretendente da vez. Enquanto eu geralmente estimulava ela a tentar algo, se o cara não se mexia, ou então avisava quem estava interessado nela, apesar de ter começado a sentir ciúmes - ela era bem seletiva. Por outro lado, ela vetava praticamente todas as mulheres por quem me interessava. As que ela me estimulava a tentar algo, eram aquelas que eu julgava não ter chance alguma e preferia nem arriscar (descobri, anos depois, que tinha chance, sim, mas aí eu que fui otário).
Com ela namorando (o que me substituiu e o seguinte - ela praticamente emendava um namoro no outro, ficando com algum cara duas vezes no intervalo. Virei muito amigo dos namorados dela, inclusive levantava a bola deles, comentando que algumas coisas que ela fazia com eles, que comigo não era feito - como beijar depois de beber leite), a conversa dela mudou, claro: não tinha mais caras pra se interessar, o que tinha eram queixas eventuais do relacionamento. As mais comuns eram: os caras não sabiam fazer massagem direito nos seus pés, e eles gostavam muito de comê-la de quatro, posição que ela não curtia, mas cedia, sob o argumento: "afinal, é meu namorado, preciso fazer algo que ele goste também".
A queixa das massagens geralmente vinha em algum momento em que estávamos descontraídos, ela com as solas à minha vista - e eu me controlava, estoicamente, para não compensar a falha do namorado da vez. Quer dizer, isso até ela ter terminado com o primeiro namorado, quando me autorizou a voltar a massageá-la, mas proibiu de beijar seus pés, depois da primeira vez que fiz - e eu, claro, obedeci. De ela ser penetrada de quatro, admito que sentia uma grande humilhação toda vez que ela me contava - aquela coisa de eu não achar que ela devia ficar numa posição que ela própria tinha classificado como submissa. Sentia como uma falha minha ela não estar sempre por cima. E quanto ao fazer algo que o namorado gosta, desconfio que o mesmo foi feito no nosso namoro: a questão, talvez, fosse que ela cedia nesse ponto ao me dominar e me fazer um submisso dela - cada um com suas prioridades.
Da minha parte, eu seguia me interessando por várias garotas e tendo minhas pretendentes vetadas por ela - ou melhor, criticadas, eu que decidia não tentar nada, para não decepcioná-la. Resultado: desde o dia do fim do namoro, por dois anos e meio, não fiquei com ninguém (fora ela, no imediato pós), até não dar conta de tanta abstinência e decidir pagar uma garota de programa - a ex me censurou fortemente quando disse que ia fazer. No programa, não consegui ir além da meia bomba, que não sustentei tempo suficiente pra cinco minutos de penetração. No fim, paguei e não gozei - e saí com muito peso na consciência.
Dali seis meses, meio sem querer, eu ficava com uma garota e a coisa sinalizava um relacionamento mais sério. Foi intenso, mas durou três meses, apenas. Dentre os vários motivos que levaram ela a me dar o pé na bunda foi que por três meses não eu não havia penetrado ela uma única vez, eu não tinha conseguido sustentar uma ereção - mesmo tendo conhecido com ela o que é a tal "boca de veludo". E ela era 100% baunilha de verdade, 100% passiva, e eu completamente inapto para satisfazê-la de qualquer forma, pois também era 100% passivo, incapaz de qualquer atitude por iniciativa própria.
Esse relacionamento fez eu sair um pouco da órbita da ex. Passei a me arriscar com as pretendentes sem pedir a opinião dela antes - duro que conheci umas mulheres que não valia a pena qualquer coisa. Uma delas, que foi quem me apresentou de vez textos sobre BDSM, quando comentei de alguns fetiches que tinha, era uma fascista dez anos antes do movimento ganhar força no país. No fim, saí com três garotas, brochei com todas e, pior, não fiz nenhuma gozar (a ex tinha um modo muito peculiar de ser estimulada, que nunca mais encontrei outra mulher que gostasse). Me autorizei também voltar a sair com trans, depois de seis anos da primeira vez - mas isso fica para a próxima etapa.
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Submissendo - Memórias de um submisso em evolução.
Literatura FaktuOu Como cheguei ao ponto onde estou na submissão dentro do BDSM e por onde gostaria de seguir