Boy almighty

833 61 22
                                    

Camila

Acelero meu passo, depois de checar o celular e chegar a conclusão de que estou fodidamente atrasada.
Morar em Miami não é a melhor opção para alguém que está sempre com pressa, levando em conta os semáforos a cada dois metros e as pessoas que não tem o mínimo de paciência requerida. Pior ainda se você estiver a pé, de salto alto e suando devido aos possíveis 70º graus que fazem nesse exato momento. São as consequências de não ter tirado a carteira até agora, meus caros.

Nada pode ficar pior, penso.

Avisto o restaurante, que tem as paredes inteiras feitas de vidro, o que possibilita que eu enxergue o interior do ambiente sem nem estar lá. O horário marcado era 2:30, e cá estou eu ás 2:46, esperando que o sinal feche para que eu possa atravessar a rua e me desculpar com Charlie. Vejo a luz vermelha acendendo no semáforo, e os carros param. Solto um suspiro de alívio, e caminho pela faixa de pedestres, sem ver o táxi que está tentando furar a fila passando pelo acostamento, logo ao meu lado. E é aí que o mundo dá um tapa na minha cara, como se dizendo "tudo sempre pode ficar pior".

Meu olhar se desvia para o taxista. Desgraçado, filho da mãe. Era como se ele tivesse mirado na poça de lama de propósito, apenas para rir da minha cara de idiota ao ver meu vestido branco se transformando em marrom.

Sem querer arrumar confusão no meio da rua, continuo andando, rezando para que Charlie não estivesse numa mesa perto da janela e visto o pequeno ocorrido.

Na porta do restaurante, o senhor de terno que me recebe me olha de cima a baixo com uma cara estranha. Não era para menos. A única parte visível do meu corpo que não está suja é meu rosto.

Ignoro os olhares, e passo meus olhos pelo lugar, procurando por Charlie, sem sucesso.

Talvez ele tivesse cansado de esperar e decidiu ir embora, isso não me deixaria nem um pouco surpresa e tampouco seria a primeira vez que isso acontece comigo.

Mas então felizmente - nem tanto - vejo Andrew, o líder do grupo de dança da cidade. Seu corpo está inclinado na mesa onde Charlie está sentado, conversando num tom aparentemente muito íntimo sobre algo extremamente engraçado, dada a expressão em seus rostos.

O garoto tem cabelos encaracolados e castanhos, e olhos tão azuis que qualquer pessoa é capaz de se perder neles. Ele tem exatamente o corpo que se imagine de alguém que passa horas num estúdio de dança, eu sinto uma certa inveja toda vez que olho para suas pernas e percebo que elas são mais bonitas que as minhas. Andrew não devia ter mais de 19 anos, e era uma das pessoas mais bonitas que eu já tinha visito na minha vida inteira. Se ele não fosse gay, eu até o consideraria como uma possível paixonite.

Charlie nem me nota, parece muito mais interessado na conversa que está tendo com o garoto. Eu deveria ter ido lá, saber o que estava acontecendo, de onde eles se conheciam e porque pareciam ser tão próximos. Mas não deu tempo de fazer nada disso.
Andrew sorri, e então puxa delicadamente o rosto de Charlie para perto de si, dando-lhe um beijo nos lábios.

Paraliso, e sinto como se meus pés estivessem grudados no chão, me impedindo de fazer qualquer coisa. Que merda acabou de acontecer aqui?

Lauren

Passo a fita por cima do papelão, fechando mais uma caixa cheia de LP's. Coloco-a cuidadosamente junto com as outras caixas, num canto da minha sala. Estão sendo empilhadas, e alguns homens estão as carregando para fora do prédio.

Oito meses. Esse é o tempo recorde em que moramos no mesmo lugar. Já me acostumei e nem me apego mais a apartamentos, lofts e casas.
Rebecca não tinha feito faculdade, e por isso vivia fazendo uns bicos em lanchonetes e lojas de shopping, o que apenas garantia que não cortassem nossa luz todo mês. E trabalhar para um jornal quase falido não fazia de mim uma milionária. Então, alugamos um lugar no qual podíamos ficar e que não custe mais que $200 por mês.

Quando o proprietário começa a reclamar que o pagamento está atrasado, mudamos para outro lugar, e esse é o ciclo. Vivemos desse jeito há uns dois anos e meio.

Bufo ao perceber que ainda há muito o que fazer. Ainda não tínhamos esvaziado a cozinha, nem empacotado meus livros.

Tento não olhar muito para Rebecca, ela não parece estar no seu melhor humor no momento.

-Com quem você estava hoje? - Rebecca pergunta abruptamente, como sempre.

-O que?

-Quando te liguei, hoje a tarde. Ouvi a voz de uma garota - ela fala sem paciência.

-Era eu, Rebecca - falei, abusando da sorte de ela não estar gritando.

-Não estou brincando - ela para o que está fazendo para me encarar - Quem era?

-Camila - bufei - Eu não a conhecia até hoje, quando eu meio que a atropelei no caminho pra cá.

-Você atropelou a menina? - Rebecca pergunta.

-Não exatamente "menina". Ela só é um pouco mais nova que nós - falo - Não passei com o carro por cima da cabeça dela, mas ela acabou tendo as duas pernas machucadas. Tive que levá-la ao hospital para saber se havia quebrado alguma coisa.

-E ela está bem? - me surpreendi com a pergunta.

-Aparentemente, sim - respondi - E não se preocupe, ela não é lésbica. A propósito, deve estar num encontro com um garoto agora.

-Eca - Rebecca diz e eu rio.

-Tente adivinhar quem é o garoto - eu a desafio, e ela encolhe os ombros, como se dizendo que não sabia - Charlie.

-Charlie? - ela fala alto - Ela não sabe que ele é....

-Não. Ela não sabe de nada, e não estou falando sobre ele ser gay - digo, com uma voz mais séria.

-Eu vou matar o Charlie, ele se arrisca demais - Rebecca esconde o rosto com as mãos.

-Deve ser genético - sorrio.

++++++

Olá, amizades. Por favor nos desculpem pela demora para postar esse capítulo, de verdade. Além das milhares de provas do colégio, ainda tivemos simulado, o que acabou dificultando que escrevêssemos mais rápido.

Sim, "nós". Eu (Natália) e a Mariana estudamos juntas e escrevemos essa FANFIC, sem saber do que isso vai dar. Esperamos de verdade que vocês gostem do que escrevemos, porque gostamos do que fazemos, e queremos que vocês dêem suas opiniões, críticas - e quando gostarem, elogiem, porque adoramos isso sjdndj.

Podem me chamar de Nati, ou do que vocês quiserem (não abusem, sou moça de família).

Prometemos que o próximo capítulo não vai demorar tanto pra sair - ouviu isso, Deus?. Até mais, gente :)

Fire And GoldOnde histórias criam vida. Descubra agora