Girls

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Camila

Um pequeno filme passava-se pela minha cabeça naquele exato momento, entretanto, as memórias não eram tão agradáveis de se relembrar. Eu senti todos os músculos do meu corpo paralisarem; um estranho formigamento nas minhas bochechas coradas; meus olhos ficaram extremamente abetos, dando a leve impressão que poderiam saltar do meu rosto a qualquer instante e eu conseguia escutar meu coração batendo nos ouvidos e garganta, causando-me a sensação de que eu poderia me engasgar.

Bem na minha frente, eu tinha a cena mais estranha que eu já vi. Não que eu nunca tenha visto um casal se beijando antes, muito pelo contrário, mas eu nunca pensei em ver o garoto que eu gostava fazendo tal coisa. A primeira coisa que passou pela minha cabeça foi a voz de meu pai, dura e sempre soando rude — mesmo quando tentava ser delicado —, pois ele, de fato, havia falado para eu me afastar de Charlie; o velho vivia dizendo que tinha alguma coisa nele, a qual eu não iria querer. Talvez apenas eu e minha mãe fossemos cegas o suficiente para não ver isso ou fosse os instintos aguçados paternos que meu pai mantinha. Minha paixonite aguda também não me ajudava a encarar a verdade.

Comecei a imaginar, pela primeira vez, Charlie e Andrew juntos, como um casal de verdade. E quase desmaiei com a onda de puro pânico que me invadiu.

Só percebi que estava encarando eles há muito tempo quando o homem do caixa abriu um leve sorriso para mim, tentando chamar minha atenção. Ele já havia repetido a pergunta umas cinco vezes e eu não escutei nenhuma das tentativas. Respiro uma, duas, três vezes para sair dos meus devaneios e olho de reflexo para a mesa uma última vez, para ver se ainda não fiquei louca por conta de toda pressão da faculdade ou se não perdi muito sangue quando a moça do carro me atropelou.

Charlie e Andrew continuavam ali, sorrindo e trocando carícias. Eu deveria ficar completamente puta da vida, arrastar a cara dele pelo chão do restaurante e depois pisoteá-la com meus saltos, e fazer o mesmo com Andrew. Mas no momento simplesmente não parecia valer a pena. Charlie parecia feliz ali e eu não iria estragar isso, — muito menos sabendo que a família dele é tão rigorosa quanto a minha. Eu poderia lidar com ele em qualquer outro momento. E também não queria estragar minha imagem fazendo birra em um restaurante chique com um garoto que acabou de plantar um enorme chifre na minha testa. Porque seria muito mais divertido fazer isso em um lugar mais público, afinal.

— A senhorita está esperando alguém? — A voz calma de um dos atendentes soou e, dessa vez, eu consegui escutá-la claramente.

Virei meu corpo para o lado em um giro rápido, tapando a grande mancha marrom do meu vestido com os braços, em forma de um grande abraço de urso. Abri um sorriso calmo em direção ao moço, tão calmo que poderia passar a impressão de que eu estava dopada ou qualquer coisa do tipo.

— Não, obrigada. Não tenho nada para fazer aqui. — Ele franziu o cenho, sem entender o que eu havia dito, porque, diabos, nem eu entendi direito o que eu quis dizer. Eu apenas me dirigi a porta e fui andado lentamente, quase mancando, devido ao acidente que Lauren me causou há alguns dias. Não olhei para trás me momento algum, deixei a cabeça levantada e segui meu caminho.

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Então, como se não fosse bastante sofrimento e tapas na cara para uma noite só, a bela Lei de Murphy aplicou-se em mim, novamente. Eu estava sentada na calçada, poderia ser facilmente ser despercebida — as luzes dos postes batiam sobre os prédios altos, causando enormes sombras sobre meu corpo, privando-me de ver pessoas ao meu redor e elas de me verem. Mas era bom assim, eu estava devastada demais para querer que as pessoas me olhassem. Meu casaco estava todo molhado e um vento frio batia, fazendo-me tremer constantemente. Realmente não podia ficar pior depois disso tudo.

Fire And GoldOnde histórias criam vida. Descubra agora