Rude

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Camila

-Então você é do tipo estressadinha - a tal Lauren debocha logo depois.

Não falo nada. Não é como se eu fosse ficar batendo papo com a estranha sentada no banco do motorista, ao meu lado. Principalmente por eu ter percebido que ela se dava muito bem com esse negócio de ironia. Eu já a odiava por isso.
Não, penso. Odiar é uma palavra muito forte. Eu apenas não fui com a cara dela.

-Você sempre faz isso? - a voz rouca dela ecoa nos meus ouvidos e eu involuntariamente a olho.

-Isso o que? - pergunto confusa e ela balança a cabeça de um lado para o outro.

-Deixar as pessoas falando sozinhas. Sabe, isso não é muito educado - ela fala com o mesmo tom de antes.

-Tudo bem, Lauren Jauregui que mora num apartamento com a namorada. O que quer saber de mim? - forço uma voz entediada e ela ri fraco.

-Sei lá. Quer dizer, não é como se eu fosse te fazer um interrogatório - ela dá de ombros - Fala o que você acha que precisa falar.

Ok, vamos ver. Devia eu contar para ela que eu era filha de pais milionários que praticamente me trancavam em casa nas sexta-feiras à noite; que eu estava feliz da vida por ter sido convidada para um encontro com Charlie Miller e que minha mãe provavelmente ficaria dando pulinhos quando eu lhe contasse essa novidade? Ou talvez dizer que eu havia começado a fazer aulas de piano porque achava música clássica a coisa mais linda de se ouvir, mas que ao mesmo tempo eu tinha minha playlist lotada com músicas do Artic Monkeys e Imagine Dragons? Provavelmente, não.

-Parece que minha perna vai cair - falo por fim - Acho que preciso dizer isso.

Ela para o carro, devido ao sinal vermelho no semáforo, e olha pra mim. Me observa como se tentasse descobrir se eu estava brincando ou falando sério, e quando eu menos espero, ela solta uma gargalhada.

-Confesso que estava esperando por algo mais profundo - ela brinca, com as mãos no volante -Mas levando em conta que eu acabei de te atropelar, isso é o máximo que vou ouvir de você.

Se eu me importasse com o que quer que seja que ela está pensando sobre mim nesse momento, eu estaria enlouquecendo. Causei a primeira errada impressão, e isso era comum se tratando de mim.
Mas mesmo não ligando, mesmo não estando nem aí para os pensamentos dela e só querendo chegar logo ao hospital, eu me sinto uma idiota.

-Desculpa, tá? - eu falo antes de pensar duas vezes.

-O quê?

-Eu disse desculpa...

-Eu escutei o que você disse - ela me interrompe - Só não sei por que você quer que eu te desculpe.

-Por ter sido rude - respondo.

-Rude - ela repete - Eu odeio essa palavra, é meio boba.

-Eu estou falando sério - insisto e ela me olha de soslaio.

-Eu também - ela diz eu rio internamente - Não se preocupe em ser grossa comigo, já sou acostumada.

-Mesmo? - pergunto e ela sorri.

-Mesmo - Lauren responde.

A velocidade do carro diminui, e antes que eu pergunte mais alguma coisa, percebo que o Hospital Central de Miami está na mesma esquina em que Lauren estaciona.
Quando me mexo para abrir a porta, sinto um braço me impedir e encaro Lauren.

-Não quebrei meus braços - falo para ela.

-Mas quebrou a perna, e duvido que consiga andar até a porta do hospital - ela fala decidida e eu reviro os olhos - É sério - sua voz fica mais grave e eu levanto as mãos me rendendo.

Fire And GoldOnde histórias criam vida. Descubra agora