Fire And Gold

Old Friends Sweet Memory

Lauren

Camila é uma pessoa um tanto indecifrável. Seus olhos me fitam do sofá, me observando beber uma xícara grande de café. Não consigo entender se ela é apenas tímida para iniciar uma conversa ou se está esperando que eu diga algo, embora a segunda opção seja mais provável.

-O que foi? - decido perguntar.

-Não vai perguntar se quero café? - ela fala.

-Já perguntei isso, e você disse que não - digo, porém a morena já está de pé e caminhando até a cozinha.

-Eu sou a visita. Sempre vou negar, e você vai insistir - ela pega uma xícara no armário, sem perguntar se podia mexer ali.

Reviro os olhos quando enquanto ela enche sua xícara.

-Ei, não revire os olhos pra mim - ela diz num tom brincalhão e eu rio, revirando-os outra vez.

Quando ela bebe o primeiro gole de café, me calo. Camila faz uma cara feia e fecha os olhos, como se não aguentasse sentir aquele gosto.

-Está tão ruim assim? - pergunto um tanto irritada. Ninguém nunca reclamou do meu café.

-Está sem açúcar - ela esclarece.

-Eu sei disso, é um dos motivos por estar tão bom - tomo outro gole, arqueando as sobrancelhas para ela.

-Odeio café sem açúcar.

-Você é fresca - digo como se fosse óbvio.

-Você devia tratar melhor suas visitas, Lauren.

-"Eu devia" muitas coisas - brinco e ela bufa, levando sua xícara até a pia.

A morena passa por mim, tentando se fazer de brava e falhando. Quando ela anda seu shorts acaba subindo algumas vezes, e sem querer me pego olhando para a sua bunda. Em minha defesa, é meio impossível não olhar.

-Quem é a garota entre você e Rebecca? - ela diz e por um minuto não sei do que está falando.

Olho na direção em que está apontando e vejo um porta-retrato. É uma foto minha e de Becca com Normani, sua melhor amiga - por quem não sinto muito simpatia - três anos atrás, esquiando no Canadá. Becca tem um dos seus melhores sorrisos, e Normani faz um daqueles biquinhos que odeio. Minha expressão se resume em um sorriso falso, facilmente justificado por o que tinha acontecido minutos antes da foto ser tirada.

Naquela época, tínhamos decidido que precisávamos de um tempo sozinhas, longe de tudo. Seria nossa primeira viagem como um casal, onde não teria mais ninguém para nós atrapalhar, e aquilo significava o mundo pra mim. No dia anterior ao nosso embarque, Normani ligou para Becca perguntando o horário de vôo. Foi aí que a bomba explodiu.

Nunca gostei muito de Normani, mas sempre a tolerei. Afinal ela era a melhor amiga da minha namorada e eu não podia simplesmente sair por aí berrando que eu achava ela uma puta. Mas se meter na nossa viagem já era demais.

Fiquei calada e não reclamei, pois não queria magoar Becca. Dois dias depois, quando já estávamos esquiando, entreguei minha câmera à Normani e pedi que ela tirasse uma foto minha com Becca, pois queria guardar de recordação. Ela me olhou como se eu fosse maluca, e fez um drama maior que a morte de Romeu e Julieta. Perguntou o que eu tinha contra ela, pois tinha olhado para ela com cara feia durante a viagem inteira, e não queria sequer aparecer numa foto com ela.

Becca disse que Normani estava certa, e todas nós devíamos aparecer - e ela inclusive colocaria num porta-retrato. Não protestei mais, porque sabia que brigar com as duas não daria em nada. A partir desse dia meu ódio por ela aumentou cada vez mais.