Camila
Levantei a cabeça para observar o pequeno movimento de pessoas do outro lado da rua e também ver se consigo me desligar um pouco do estresse da faculdade e da minha vida pessoal — que é bem frustrante, para falar a verdade.
Todas as pessoas ao meu redor parecem ter mais o que fazer; mais assuntos para conversar; mais lugares para ir. E eu fico sempre no mesmo lugar, sempre fazendo a mesma coisa e, normalmente, sempre falando sobre os mesmos assuntos. Ridículo.
Até mesmo Ally parou de falar comigo durante essa semana. Ok, pode ser por conta do trabalho que ela está tendo na clínica veterinária, mas eu acho que ela deveria ter um tempo nessa semana agitada para escutar a crise de TPM da melhor amiga dela. É isso que melhores amigas que se conhecem há anos fazem, afinal. Ally não está cumprindo seu papel no momento. Ela não me liga há, tipo, uma semana.
Rolo os olhos e respiro fundo, sentindo meus pulmões enchendo-se de ar e eu, rapidamente, me acalmo. Eu preciso parar de me preocupar tanto quando estou assim, eu fico paranoica. Talvez eu peça comida tailandesa hoje à noite e converse com a minha mãe, já que ela vive falando que nós nunca falamos muito.
— Mila! Ei, espere. — Escutei uma voz ligeiramente rouca me chamar e virei para o lado, encarando Charlie e seus lindos cabelos castanhos, quase loiros. Seus olhos azuis pareciam transparentes com tanta claridade, mas ele não ousa colocar uma mão na frente, pois assim quebraria o nosso contado visual. Charlie Miller é o sonho de consumo de qualquer um. — Eu tive que correr dois quarteirões para te alcançar. Você não me escutou berrar seu nome, Cabello?
— Oh, sinto muito. Eu estava... — Ia completar a frase falando de todos os meus problemas pessoais, mas acho que não ficaria bem. — Distraída. O que aconteceu?
— É uma história engraçada. — Ele começa a falar e eu arqueio uma sobrancelha. — Não sou muito de fazer isso e não sei como começar a dizer isso, também...
— Eu tenho tempo, Miller. — Falei, em um tom divertido. — Pode falar.
— E-eu queria saber se você quer sair comigo na sexta-feira. Se você não tiver nada melhor para fazer, claro.
Meu coração quase saiu pela boca e eu tive que me controlar para não sair pulando pela rua como uma louca. Eu estou com vontade de fazer isso, na verdade. Eu estou esperando por esse momento mágico e quase impossível há seis fodidos anos.
Cruzo os braços contra o peito e vejo que que ele está nervoso para saber a minha resposta. E, tipo, isso é inimaginável. Eu tenho uma crush por esse garoto desde... Sempre.
— Claro. Sexta-feira parece ótimo.
Ele sorriu, completamente aliviado.
— Ótimo... Eu te ligo mais tarde, ok? — Apenas assenti, vendo ele virar e continuar seu caminho até a cafeteria, que fica do outro lado da rua.
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É ótimo morar em Miami, a cidade dos turistas e oportunidades de trabalho. Tão grande e populosa realmente agradável, mas isso até você precisar andar por suas ruas. Devo ter trompado com umas sete pessoas em menos de três minutos. Atravessar a rua é uma tarefa árdua que requer muita paciência.
E esse é o meu problema; eu não sou uma pessoa paciente.
O pior de tudo é atravessar a cidade com a minha mãe. Ela é muito calma e, se alguém xingar ela — o que acontece bastante porque ela é uma barbeira no transito —, Dona Sinu fica calma e deixa a pessoa passar na sua frente. É um absurdo, ao meu ver.
O sinal está aberto, mas não vejo carros nos próximos seis metros, então corro para o outro lado, no entanto, antes de chegar à calçada, um carro preto reluzente buzina em minha orelha fazendo-me gritar. O carro se choca, levemente, comigo; sinto o sangue em minhas veias bombear mais rápido e um gemido de dor escapa dos meus lábios. É como se toda a atmosfera ao meu redor parasse e eu apenas sinto a dor na minha perna direita quando caio sentada no chão.
— Puta que me pariu. — A voz feminina diz, saindo do carro como um raio e indo até o chão, onde eu estou. — Garota, o que você tem na cabeça? Merda?
Eu forço-me a abrir os olhos e encaro dois enormes olhos verdes, que estão se esforçando para não fecharem-se com o sol quente. O cabelo da moça está preso em um rabo de cavalo desajeitado e eu não consigo ver nenhum rastro de maquiagem no seu rosto, como nas outras garotas de Miami. As bochechas fofas e coradas dão um ar delicado nela, mesmo em baixo de tanta roupa preta. Entretanto, sua beleza não consegue tapar a carranca que ela está carregando na cara.
— Você está sangrando. — Ela apontou para a minha perna e só agora eu consegui notar que, de fato, eu estou com um machucado ali. — Você está bem? Sua perna está doendo?
Tento me levantar e dizer que está tudo bem e que posso muito bem ir para casa sem ajuda. Mas, quando tento fazer o movimento para levantar, sinto minha perna doer como o inferno e solto um grito alto, que sai cortando a minha garganta. Isso, com certeza, deve ser um osso quebrado.
— Acho que você quebrou a perna. — A morena de olhos verdes brilhantes falou, sem demonstrar emoção alguma na voz. — Vou te levar para o hospital.
Por mais que eu sentisse que seria a pior coisa que eu pudesse fazer na minha vida, eu assenti. Minha perna estava doendo muito e eu não conseguiria cuidar disso sozinha.
Assim que me ajudou a entrar no carro, a garota sentou no banco do motorista. Ela não falava muito e eu não ousava quebrar esse silencio, também.
— Acho justo eu contar um pouco sobre mim, porque, sabe, eu acabei de fazer alguma cosia errado com você. Então... Meu nome é Lauren Jauregui. Eu trabalho como secretária na empresa do meu pai, não gosto de pessoal e moro com a minha namorada. — Ela falou, desviando o olhar da estrada por alguns segundos para poder encarar-me. — E você?
Fiquei olhando para frente, sem responder. Eu não conheço ela e a mesma acabou de me atropelar. Não é como se eu quisesse começar uma amizade com essa tal de Lauren.
— Você me ouviu e está me ignorando ou é autista?
Eu fervi de ódio quando ela falou isso. Como uma pessoa pode falar isso? Quem essa babaca pensa que é?
Mesmo querendo voar na cara dela, fico quieta. Essa é minha regra, sempre foi, sempre será.
— Segunda opção, hm. Conheço alguns médicos que podem te ajudar com isso, princesa.
— Camila, Camila Cabello. E não vou falar sobre a minha vida pessoal pra uma pessoa que acabou de me chamar de autista e me atropelou há quinze minutos. — Falei, rapidamente, quebrando o silencio que ficou ali. Eu, realmente, não queria que ela ganhasse esse joguinho estúpido.
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Fire And Gold
FanficÉ tão clichê dizer que os opostos se atraem, mas o que posso fazer se aquela garota que ia contra todos os meus princípios e virtudes, me fez acender uma chama dentro de mim ao qual eu desconhecia? Era insano pensar que poderia haver algo entre nós...