2° capítulo

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    Acordo com a porra do barulho de passarinhos, abro as cortinas e caminho até o banheiro fazendo minha higiene pessoal.

     Faria uma visita a empresa dos Shelby's. Provocaria uma distração, Thomas sairia de seu escritório enquanto algum capanga meu descarregasse as balas da pistola de Shelby que fica no bolso de seu casaco o deixando indefeso e com a garantia que não iria me ferir.

     Opto por vestes discretas e um chapéu. Passo pela sala de jantar cumprimentando Pietra. Dom, meu motorista me esperava em frente ao meu Bentley, abrindo a porta para que eu entrasse e logo em seguida dando partida no mesmo.

     Chego em um lugar mais afastado e permaneço no carro. Um homem vem em nossa direção fazendo um sinal a Dom.

     — Está na hora senhorita- ouço sua voz, e logo me retiro do carro.

    Caminho pelo local pouco iluminado, subindo as escadas, um homem de meia idade, cabelos grisalhos, olhos castanhos me aborda, interessado em saber o que uma mulher em meio a tantos homens num lugar como aquele desejava.

     — Olá, me chamo Emma vim de Paris e queria conversar com o Sr. Shelby.
Ele se afasta indo em direção ao escritório e me anunciando. Thomas faz um gesto com a mão permitindo que eu entrasse.

      Entro na sala, fechando a porta atrás de mim. Thomas se levanta ficando perto da janela, me analisando de cima a baixo.

     — Fiquei sabendo do seu irmão. Fiquei feliz por me receber - quebro o silêncio que antes se fazia presente no ambiente.

    — Você veio de Paris não é?- ele me pergunta ainda de pé, enquanto sento na mesa de seu escritório ficando cara a cara com ele

     — você conhece Paris? - pergunto

      — eu saí de lá em um caminhão - ele caminha perto do cabideiro onde seu casaco repousava - Disseram que você é francesa.

      Dou uma risada nasalada
   - Eu só vim de Paris, não significa que sou francesa - me curvo pra frente apoiando minhas mãos na mesa - adivinha da onde eu sou

   Ele mexe em seu casaco, percebo que ele fez movimentos mínimos mas ainda sim, pude ver ele guardando a pistola e pegando um cigarro e o repousando no meio de seus lábios. Enquanto o acende - Em um caminhão em Paris, eu vi soldados americanos jogando cartas- ele traga, logo soltando a fumaça- falavam como você.
- Você não veio de trem, seu terno está passado, seus saltos estão limpos- ele completa gesticulando com as mãos.- Onde compra seus termos?

   — Tenho um alfaiate em NY, olha- abro meu blazer mostrando a etiqueta- Funati italiano, é meu tio, ele faz ternos em um porão, então cada ponto é dado com sangue.
Desvio meu olhar pela janela e volta a analisá-lo, o olhando de cima a baixo
- ouvi falar que se vestia bem- nego com a cabeça- mas já vi que.. não tanto quanto eu.

    Nós encaramos por uns segundos
—Bom, eu também tenho um tio. Mas só que ele não é do tipo de homem que trabalha em um porão com agulha e linha... Senhorita Changretta.

Dou um sorrisinho de lado ao vê-lo pronunciar meu verdadeiro nome, ele sabia quem de fato eu era.

    — Estou surpresa como foi fácil ficar a sós com você - ele saca a arma, engatilhando-a e a apontando em minha direção.

    — e agora?

    Levanto minhas mãos em forma de rendição, com uma expressão de inocente no rosto, mereço um Oscar pela minha atuação.

   — E agora? Tommy- faço uma pausa- posso chamá-lo assim? Que seja, depois daquele problema que você teve mais cedo hoje na fábrica, enviei um cúmplice de macacão aqui para o escritório- abro meu terno pegando as balas que estavam em meu bolso- ele descarregou a sua arma. Isso só mostra que você tem uma segurança de merda.

Ele abre o pente e vê que realmente não há nenhuma bala.

       — Arthur - pego uma bala e vou colocando em cima da mesa

      — Polly- coloco cada bala uma do lado da outra.

      — Michael Gray.

       — Ada Thorne.

        — John - derrubo a bala propositalmente, pois já tinha o eliminado- ops, esse aqui já era.

       — e por último - o encaro com todo ódio que eu me permitia sentir, mas com a mesma postura de sempre. Não iria me descontrolar- Thomas Shelby. Você será o último, quero ver você vendo toda a sua família morta e tudo isso por culpa sua. Quero ver você no fundo do poço desejando todos os dias estar no lugar deles e se corroendo de remorso e pensar que tudo poderia ser evitado se você não fosse esse ser medíocre que você é.

    Me levanto e caminho até a janela tendo a visão do lado de fora dessa sala.

      — Sabe Tommy- dou uma risadinha e o olho em seus olhos - eu poderia ter te matado no mesmo instante em que entrei nessa sala. Ver a sua fragilidade tornou o meu dia mais feliz- caminho próximo a ele e sussurrando ao seu ouvido- infelizmente dessa vez, você mexeu com as pessoas erradas- me afasto sem perder o contato visual- agora verá que somos piores do que imagina...

    Caminho em direção a porta e antes de abrir a maçaneta lembro de algo

     — Ah, antes que eu vá. Seria muita falta de educação eu não lamentar sobre a sua esposa... e eu sou uma pessoa muita educada sr. Shelby- falo cínica- mas acho que foi melhor assim. Apenas se lembre que a morte dela não foi por causa de uma maldita jóia e sim por você, pelo menos agora ela está em um lugar melhor.

    Dou uma risadinha e saio do escritório, mesmo distante pude ouvir o barulho de vidro quebrando. Consegui o atingir pois sabia exatamente seu ponto fraco.

    Caminho até meu carro e saio dali. Vou para um pub, Garrinson o nome. Sabia que aquele era o bar em que os Shelby's frequentava, mas que saber? Eu tô pouco me fudendo.

PerdiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora