Último Natal - Mikannie

Cacto Natalino

Pijama confortável, muitas guloseimas, um bom vinho e o celular desligado. 

O plano para sobreviver ao natal deste ano está sendo cumprido com sucesso, só falta escolher algo legal para assistir e passar o tempo até que finalmente o Ano Novo chegue novamente e as pessoas voltem a ser normais, sem toda aquela baboseira de fim de ano. 

Claro, na primeira semana sempre tem aquelas metas absurdas que todos acham que vão cumprir, mas todos sabemos que não é bem isso que vai acontecer. Eu mesma não tenho nenhuma. 

Na verdade, talvez eu tenha uma: viver o ano de 2022 com o menor nível de estresse. Se é que isso é possível. 

Já estava com o dedo cansando de tanto procurar um filme ou uma série decente para assistir nos catálogos online. A última coisa que eu queria era assistir algo que lembrasse, mesmo que remotamente, um romance. Ou pior, esses filmes natalinos ridículos que me dão ânsia de vômito só de pensar, mas que claro, sempre estão lá em destaque na parte de cima. 

Depois de vasculhar a terceira plataforma de streaming sigo já sem esperança para a quarta, até que me deparei com um título familiar: Dr. Seuss’ The Grinch,

E minha nossa, é sério que me compararam a essa coisa verde? Esse bicho é horrível!

Ah, mas a Historia, a Hitch e o Eren vão ver só quando eu encontrar eles!

Quem assiste uma animação bizarra dessas? 

Mikasa…

Então me lembrei que esse era um dos filmes favoritos dela, e bem, algo que uma pessoa como ela gosta, não pode ser tão ruim assim, pode?

Movida pela curiosidade, apenas apertei o play. Aparentemente, apenas se trata de  mais uma animação qualquer feita pela indústria do entretenimento para extorquir os pais.

A história se passa em uma vila chamada Quemlândia, e minha nossa, não tinha um nome melhor? Mas apesar da escolha horrível, ela retrata perfeitamente como as pessoas ficam nessa época, hipócritas e demasiadamente emocionadas com um simples feriado.  

E aparentemente, o único ser sensato dali parecia ser o tal do Grinch, que também odeia músicas natalinas e até se esconde do natal… 

— Ah, meu Deus, eu sou o Grinch! — Tapei minha boca diante da constatação. — É, até que eles não estavam errados… — Ri sozinha. 

Continuei assistindo o filme morrendo de dó do coitado do Grinch por ter que lidar com esses surtados pelo natal. 

— Eu te entendo, Grinch, eu te entendo… Se eu pudesse, também acabava com o natal.

Continuei assistindo o filme e precisava admitir que até que era divertido. Então, entendi porque ele odiava o natal, assim como eu, ele também guardava uma grande decepção em si, no entanto, ele conseguiu superar isso. Eu por outro lado, não tinha grandes expectativas quanto a isso… 

Como superar a traição do meu namorado e do meu próprio irmão?

Talvez fosse justamente por conta do Rainer que eu estava mais decepcionada. Essa era a época em que as famílias se reuniam e demonstravam todo o seu amor, mas o meu irmão decidiu me apunhalar pelas costas. 

De repente, escutei o barulho da campainha tocar, o que me pegou completamente de surpresa, afinal, não estava esperando ninguém. Fiquei um bom tempo ponderando entre atender e me fingir de morta, até que finalmente resolvi abrir a porta, deparando-me com um entregador segurando uma enorme caixa branca com um laço vermelho.

— Senhorita Annie Leonhart? — O homem perguntou e eu confirmei. — Tenho uma encomenda para  senhorita, poderia assinar?

— Ah, claro!

Assinei o papel que ele me deu e fechei a porta, curiosa para abrir de uma vez e descobrir o que era, e principalmente quem havia mandado. Só esperava que não fosse nenhuma gracinha do Bertholdt e muito menos do Rainer, ou eu ia deixar de lado toda a minha aversão ao Natal e iria até Marley só para chutar o traseiro deles!

Coloquei o embrulho sobre a mesa e abri a caixa.

Era um cacto!

Porém, não qualquer cacto, um cacto natalino! 

Todo decorado com bolinhas, laços, papai noel, boneco de neve e até um pisca-pisca. Claro, só poderia ser a Mikasa! 

Procurei pelo cartão e encontrei o envelope branco com uma carta escrita à mão, sempre tão amável e especial...

“Querida Annie, 

Sei que o natal passado não foi dos melhores para você e creio que qualquer coisa  que te lembre remotamente à data te trará recordações ruins. Você não sabe como eu queria poder fazer alguma coisa para que isso não acontecesse ou que para tudo de ruim fosse varrido da sua vida, porque você é uma pessoa incrível, tem uma energia tão contagiante que me deixa fascinada, e ainda por cima, é incrivelmente linda!

Uma pessoa como você não merece nada menos do que tudo que há de mais extraordinário nessa vida. Então, decidi ir atrás desse cacto e espetar alguns dedos, decorando-o, para tentar alegrar pelo menos um pouco o seu dia, ou torná-lo menos pesado. 

Sei que pode parecer difícil, mas se possível, gostaria de te pedir para esquecer o que aconteceu no natal passado. Não por eles, aliás àqueles dois desejo que nunca mais tenham uma ereção na vida e ainda assim acho que estou sendo muito boa! 

Mas por você...

Não porque você deva perdoar, ou porque é natal… De forma alguma, mas porque você merece que a sua vida seja repleta de felicidade e que cada segundo dela seja preenchido com bons sentimentos apenas. Você merece essa segunda chance. 

E por mais que no natal passado você tenha dado o seu coração a alguém que não merecia, saiba que, esse ano, existe alguém disposto a conquistá-lo e espantar todas as lágrimas da sua vida.

Com alguém me refiro a uma certa engenheira de cabelos pretos… 

Ps: não fique brava por eu ter parafraseado uma música de natal, por favor. 

Com amor, 

Mikasa Ackerman.” 

Após terminar de ler a carta, peguei o meu celular e disquei para um dos primeiros números da lista. Até que depois do quinto toque, ouvi a voz feminina já tão familiar. 

— Alô? — Escutei do outro lado da linha. 

— Historia, você sabe o endereço do Eren?

Contínua...