08 | Cicuta

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5 de julho de 1987

Fawkes saiu pela janela aberta da sala de estar, pairando sobre as roseiras que ladeavam o caminho da frente de Albus. Tanta pressa geralmente significava um visitante – alguém que provavelmente arrulharia para Fawkes. Os joelhos de Albus rangeram quando ele se levantou de sua poltrona favorita. Como esperado, uma convidada estava com a mão no portão de ferro forjado no final do jardim. Hermione. Mantendo-se nas sombras, Albus observou seu familiar cumprimentar a mulher do futuro.

— Olá — Hermione disse.

Fawkes, reconhecendo um alvo fácil quando o via, pulou de um arbusto de lilases para um poste de cerca e piscou para ela, implorando. Hermione o cedeu acariciando sua cabeça.

Albus suspeitava há muito tempo que as fênix tinham sua própria versão de Legilimência. Era como determinavam o valor dos seus companheiros, como sabiam quais amigos eram leais e quais eram falsos. Fawkes gostava de Severus há anos, embora Severus quase certamente negasse.

Hermione sustentou o olhar de Fawkes como se eles estivessem travando uma conversa silenciosa. Alguns momentos depois, Fawkes soltou uma canção baixa e triste. O formigamento na pele de Albus o lembrou de algo que sua mãe costumava dizer sobre arrepios inexplicáveis. Alguém está andando sobre meu túmulo.

De tal distância, Alvo não conseguia ver as lágrimas brotando nos olhos de Hermione, mas captou o movimento da mão dela enquanto ela enxugava as lágrimas. E então Fawkes fez algo que não fazia desde a visita de Olivaras, décadas antes: arrancou uma das penas da cauda.

Oh. — Fungando, Hermione aceitou o presente. — Obrigado.

Bem. Lá estava. A prova de sua lealdade a Albus. Deve ter sido ele quem a mandou desta vez.

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6 de julho de 1987

A cozinha de Charity era vários graus mais quente que o resto da casa – mais quente do que ficar do lado de fora sob o sol do meio-dia. A camisa de Severus grudava em sua pele enquanto ele entrava no vapor roxo que embaçava o ar. Granger se equilibrou em um pé em sua estação improvisada de fabricação de poções e coçou a parte de trás da perna nua com o outro pé. Ela tinha dois caldeirões em movimento ao mesmo tempo. Um caldeirão de estanho em ruínas estava na pia, com a base completamente arrancada.

Albus havia alterado o rosto e o cabelo de Granger de forma irreconhecível, mas o corpo dela ainda era o mesmo - ou Severus presumiu que fosse. Ela estava com vestes volumosas de professora na primeira vez que ele a viu. Suas curvas suaves sugeriam alguém que passava muito tempo enrolada em livros, o que certamente combinava. Enfiando a varinha no bolso de trás do short trouxa, Granger pesou uma pitada de pétalas de flores picadas. Aquilo era um pote de penas de coruja? Ela estava tentando curar um dragão doente?

— Você está finalmente preparando sua resposta à minha última poção? — Severus perguntou.

Granger pulou, mas não deixou cair uma única pétala extra na balança.

— Sim. — Ela se mexeu para bloquear a visão dele dos outros ingredientes. — Sem trapaça. Você não pode ver até que esteja terminado.

— Estou muito agitado — disse Severus em voz monótona. — Onde está Charity? No galpão dela?

— Presumo que sim. Não a vi o dia todo.

Quando Severus se inclinou sobre a bancada para limpar a condensação da janela, ele avistou uma pena dourada e escarlate que absolutamente não vinha de uma coruja. Estava numa garrafa com rolha, protegida por um vidro grosso.

The Poison Garden| SevmioneOnde histórias criam vida. Descubra agora