17 | Sapatos de Vênus

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29 de agosto de 1987

De alguma forma, Severus se viu caminhando ao longo do rio imundo com Granger, segurando uma bandeja cheia de madeira doce que ela afirmava que a ajudaria a preencher os trechos de sombra seca do jardim. Por alguma razão maluca, ela queria plantas trouxas para espalhar entre os presentes extraordinários de Algie.

Olhando para ele por cima das plantas que ela carregava, Granger deu-lhe o mesmo sorriso que ela vinha dando há semanas. Demorou para construir, como se ele fosse algum tipo de segredo que ela tivesse acabado de descobrir. A reação dela à poção de desaparecimento do glamour dele não lhe disse muito, no final. A enorme curiosidade intelectual era apenas Granger sendo Granger. Esses sorrisos, no entanto. Eles eram alguma coisa.

Não que ele tivesse esperança de interpretá-los. Ele teria se sentido mais confortável decifrando as reações dela a ele se acreditasse que ela estava planejando sua morte, se fosse honesto consigo mesmo. Todos os seus instintos habituais não se traduziam exatamente neste cenário. A possibilidade de pedir conselhos a Narcissa surgiu e saiu de sua mente novamente. Provavelmente não era sábio. Ela aceitou a despedida com calma e graça, mas isso seria levá-la longe demais.

Severus não lamentava ter terminado as coisas com Narcissa, não importando se as coisas com Granger alguma vez avançassem além... do que quer que estivessem fazendo atualmente. Qualquer fogo que uma vez ardeu entre Severus e Narcissa claramente se extinguiu; eles não se aventuravam além do xadrez e da conversa desde... quando? Páscoa? Melhor deixar bastante espaço entre a morte do seu caso e o início da segunda guerra. Como Narcissa era casada com Lucius, ela corria risco suficiente de ser usada como peão pelo Lorde das Trevas. E Severus nunca escolheria salvar Narcissa em vez de ver o verdadeiro fim do assassino de Lily.

O que Lily teria pensado de Granger? Quando Severus tentou imaginar a provável reação dela, a única coisa que ele conseguia imaginar era Lily como ela era aos 13 anos, rindo e provocando-o por ter uma queda. Um punho de ferro familiar apertou o peito de Severus, tão forte como se tivessem se passado dias em vez de anos. Merlin, mas ele sentia falta da amiga.

— Você sabe se a terceira edição de A História Trouxa da Grã-Bretanha, de Ingrid Lazaro, foi publicada? — Granger perguntou, a voz dela uma intrusão bem-vinda em seus pensamentos. — Vou me contentar com a segunda edição, se for preciso, mas a terceira é melhor.

— Não tenho ideia. Por que você pergunta? Você não pode precisar disso.

— Prometi a Charity que encontraria alguns bons livros sobre trouxas para ela antes de partir para Hogwarts. Perguntei à sua mãe em minha última carta se ela tinha alguma recomendação, mas ela disse que está terrivelmente atrasada na leitura de qualquer coisa que não seja ficção.

— Espere. Pare. Em sua última carta? Você tem se correspondido com minha mãe?

—Sim, um pouco.

— Bons deuses, por quê?

— Porque ela me respondeu quando lhe enviei um bilhete dizendo que esperava que seu aprendizado estivesse indo bem até agora? — Seu tom incerto fez com que parecesse uma pergunta. — E então eu escrevi de volta para ela e aqui estamos.

Granger se tornou amiga por correspondência de sua mãe? Bem, isso era perturbador.

— Além disso — Granger continuou, — a magia que ela está aprendendo é absolutamente fascinante. Eu não tinha ideia do que estava envolvido no controle da Seção Restrita. Hogwarts: Uma História apenas toca no básico.

Havia algo no modo como seus olhos se iluminavam quando ela falava sobre aprender algo novo que quase fez seu glamour desaparecer, como se ela tivesse tomado uma dose da poção que ele preparou para ela. O que ela não tinha feito desde aquele dia no barracão dele – nem uma vez. Maldita falta de consideração da parte dela.

The Poison Garden| SevmioneOnde histórias criam vida. Descubra agora