diário de crônicas existe?

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Esta não é uma obra de caráter ficcional nem interessante. É um diário de crônicas, mesmo que talvez isso não faça sentido, porque diário é um gênero, crônica é outro...

Enfim, pra que escrever uma coisa que não é ficcional se eu só mexo com isso e por que perder o meu tempo postando textos que não serão interessantes pras pessoas do Wattpad? Eu vou tentar responder isso em primeira mão.

Tudo começou numa sessão de terapia — uma sessão de um ano lá atrás. Eu estava falando pra minha antiga psicóloga, Márcia, sobre os meus bloqueios de escrita, o que era um dos temas mais frequentes da minha análise. Acho que estava dizendo algo assim: "tem vezes que eu planejo toda a cena, escolho o espaço, seleciono quais personagens têm que participar e sobre o que elas vão conversar ou como vão agir, mas quando chega a hora de escrever, essas personagens não aparecem. É como se eu tivesse feito uma festa pra qual ninguém fez questão de ir. E eu termino o dia sozinha naquele cenário, com a esperança de que no dia seguinte elas apareçam e aproveitem a festa antes que eu derrube tudo".

Coitada da Márcia. 

Eu nunca soube se ela realmente entedia essa minha dor de cabeça ou se só a achava extremamente fútil, principalmente com toda a metáfora da festa. Mas depois que eu disse isso, ela falou: "se você é escritora e quer escrever, por que não tenta jogar o planejamento de lado e deixa a escrita fluir?". Pra ela, isso fazia todo o sentido, claro, mas não pra mim.

Porque, quando se trabalha com uma narrativa, você precisa respeitar o enredo e manter a coerência do que está sendo contado. Não dá para tirar ideia da bunda e deixar rolar, até porque a história não é sobre mim. 

A questão é que talvez eu precise escrever algo só sobre mim. Tirar ideia da bunda num dia que estou sozinha na festa e quem saiba assim eu descubra por que as minhas personagens e suas histórias estão me evitando.

Então já temos uma resposta para a razão de escrever não-ficção: eu preciso deste diário de crônicas. Agora vamos ao porquê de estar postando no Wattpad quando poderia muito bem deixá-lo numa pasta aleatória do computador, já que ele não é interessante.

Acho que ninguém nunca soube disto, mas desde que comecei a escrever histórias eu posto na internet. Quando não sabia da existência do Wattpad, aos dezesseis anos, eu postava capítulos de um livro de fantasia no Tumblr — uma espécie de blog que ficou conhecido por suas putarias secretas. Depois de um tempo, migrei pro Wattpad. Terminei o livro de fantasia aqui, desisti dele, comecei a escrever "Sua loucura" e nunca mais parei de postar conteúdo desse universo. 

Ou seja: eu estou extremamente habituada a escrever e finalizar postando o que eu escrevo em algum lugar. Sou o tipo de escritora que não consegue deixar nada pra mim por muito tempo. Ou eu posto pra todo mundo de uma vez ou mando para as minhas amigas leitoras. Eu nem reviso mais. Quando acabo de escrever um capítulo ou qualquer texto, eu simplesmente jogo ele pro "mundo". É como se fosse uma prova do que eu passei fazendo nas minhas últimas duas ou seis horas (mesmo que ninguém queira saber o que eu faço com o meu tempo). É como se eu fosse uma mulher num processo de parto: ela grita, sua, faz força até ver estrelas, e o filho vem pra essa bagunça que é a vida, passando de mão em mão enquanto chora de raiva porque ela o expulsou do útero (mesmo que o mundo não precise de mais uma vida insignificante). É como se eu fosse uma menininha com um desenho novo dizendo: "toma, é isso o que eu consigo fazer de melhor, agora me deixa livre pra fazer o próximo!" (mesmo que ninguém queira saber da obra de arte de uma criança).

Este diário é extremamente insignificante para qualquer um que não seja eu. 

Infelizmente de mim só existe uma.

Mas, olha, até que a Márcia não estava errada... Talvez seja bom deixar a escrita fluir. Hoje não consegui escrever nenhuma das minhas histórias — nem mesmo quis criar a festa, por saber que ninguém viria... Só que alguma coisa transformei em palavras, consegui ser escritora depois de passar uma hora pensando que não, e alguma coisa eu criei: um diário de crônicas...

Vamos ver o que mais consigo tirar de mim por aqui. 

O que se passa na cabeça dela?Onde histórias criam vida. Descubra agora