Capítulo 6

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Wilhelm não soube quanto tempo havia demorado para se recuperar, mas a rua já se encontrava praticamente deserta e o único som que se destacava naquele vazio, eram as risadas que vinham de dentro do estabelecimento. Quase no automático, ele se levantou e chamou o primeiro táxi que apareceu em sua frente. Ele seguiu todo o caminho em silêncio, com apenas uma música qualquer tocando no rádio do taxista, preenchendo o vácuo.

Logo ele estava no hotel. Seu concierge estava na entrada, como sempre a postos para atender qualquer solicitação de seu hóspede. “Boa noite, senhor. Percebe-se que já é bem tarde e o senhor parece cansado. Tem algo em que posso ajudar?” O rosto de Wilhelm realmente não estava nada bem.

“Mande um calmante para o meu quarto, por favor.” Wilhelm respondeu sem interromper seu caminho em nenhum momento. Mateo logo percebeu que ele não estava bem e se retirou rapidamente para atender ao pedido.

Wilhelm subiu para seu quarto e quase na mesma hora, entrou para tomar um banho. Ele poderia muito bem encher sua banheira com uma das melhores espumas de banho e relaxar na água aquecida, mas sempre que ele se via diante de um problema, era a água gelada que saía fortemente do chuveiro e atingia sua pele que o ajudava.

Com as gotas caindo sobre seu corpo, ele não percebeu a incrível vista da cidade iluminada através da janela que estava a sua frente. Ele não percebeu quando a porta foi batida repetidas vezes até que a voz de Mateo soou do outro lado do quarto avisando que o calmante estava sobre a mesa. Ele não percebeu quando seu corpo reuniu forças para vesti-lo com um roupão e deitá-lo na cama.

Ele continuou observando o teto por alguns minutos em silêncio, apenas pensando em todo o fuzuê dos últimos dias. Apenas pensando naquele estranho que se revelou em sua frente, em sua pior forma. Como pode, alguém que o protegeu tantas vezes, deixá-lo no abismo da escuridão, pronto para mergulhar no mais profundo pavor?

Wilhelm havia acabado de se mudar de cidade, entrando em um universo totalmente diferente. Ele se via grato por isso, pois algumas situações foram deixadas para trás e ele pôde ter um recomeço. Na época, Wilhelm estava com dificuldades para ver as cores da vida depois que seus amigos o deixaram. Por muito tempo ele se perguntou o que havia feito de errado, mas até os dias de hoje ele não havia encontrado a resposta. Em consequência disso, ele se fechou e não se permitiu se aproximar das pessoas.

Desde criança, Wilhelm sempre se encantou com a moda e era para seus desenhos que ele recorria sempre que precisava de distração. Logo na primeira semana de aula, alguns cartazes estavam sendo postos em toda a escola anunciando o espetáculo de boas-vindas: Fantasma da Ópera. Abaixo do título, estava o pedido de pessoas para se inscreverem na montagem da apresentação, desde os atores até a produção.

Wilhelm logo se animou e superando sua timidez, foi até o teatro onde estavam as pessoas para se candidatarem. Muitas delas estavam sentadas pelas poltronas, enquanto outras andavam pra lá e pra cá. Havia uma fileira na frente que estava preenchida por pessoas mais velhas que Wilhelm imaginou ser o júri. Ele não sabia com quem devia falar para se propor a construir os figurinos e se encontrou mais perdido ainda quando ouviu uma voz vindo do palco, ecoando pelo enorme salão.

No meio do palco, se encontrava um garoto moreno, com o rosto brilhante e seus curtos cachos caindo um pouco sobre a testa. Sua voz era como a de um anjo enquanto ele cantava a música tema do espetáculo. Wilhelm simplesmente parou na frente de todos que ali se encontravam e ficou admirando. Suas pernas se estagnaram até que a música houvesse terminado e suas mãos estivessem rapidamente aplaudindo o garoto que estava com um sorriso estonteante no rosto. Todos no teatro aplaudiam, mas Wilhelm sentiu como se só estivesse ele e aquele menino em sua frente.

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