Capítulo 12

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Quanto mais Sara permanecia em silêncio, olhando para ele com leve choque, mais Simon se arrependia de ter voltado para ver sua irmã. Ele manteve os braços em volta de si mesmo, sabendo que era a única coisa que o mantinha firme agora, e baixou os olhos para seus sapatos quando o intenso olhar parecia demais.

Ele tinha sido tão estúpido. Por que ele pensou que Sara iria ajudá-lo? Ele não merecia ser ajudado.

"Simon..." Sara murmurou, parecendo confusa. Ela balançou a cabeça levemente e limpou a garganta, deixando todas as suas perguntas sem fazer por enquanto. Ela olhou por cima do ombro para o corredor vazio e depois para seu irmão. "Por que você não entra?"

Simon olhou para ela surpreso com essas palavras. Ele esperava que Sara lhe desse algum tipo de desculpa e o dispensasse. Em outro momento, se ele estivesse com raiva como costumava estar, ele teria atacado Sara, mas não agora. Ele estava cansado de se esconder atrás de sua raiva, especialmente porque ele sempre estava com raiva de si mesmo.

Sara abriu mais a porta, convidando Simon a entrar. Ele entrou hesitante, sentindo como se estivesse pisando no passado. Ele não vinha aqui há anos, mas parecia exatamente o mesmo, caloroso e acolhedor como sempre. Essa tinha sido a melhor casa que Simon já teve. Quando ele morava com seus pais, ele sempre sentiu que estava constantemente sufocando, esperando o momento em que pudesse se libertar. Seus pais também não tinham facilitado as coisas para ele – eles nunca se incomodaram em negar que só o aturavam até que ele tivesse idade suficiente para ir embora. Seu apartamento atual era um lixo, um refúgio mais do que um lar, algum lugar onde ele pudesse se esconder do mundo e afundar em sua própria angústia sem que as pessoas o incomodassem. Mas essa... essa casa era tudo o que Simon imaginava que uma casa fosse. As memórias de viver com a sua irmã e finalmente sentir que ele era parte de uma família amorosa foram empurradas para o fundo de sua mente quando se tornaram muito dolorosas para pensar.

Sara o guiou até a cozinha, que também parecia exatamente como Simon se lembrava.  A única mudança parecia ser os desenhos na porta da geladeira, presos por ímãs. Ele teve que morder os lábios para conter as lágrimas – suas sobrinhas tinham idade suficiente para andar, falar e desenhar agora. Ele tinha perdido tanto...

Sara o olhava afetivamente, mas a preocupação tomava conta de si. Os irmãos não entravam em contato há anos, ela não conseguia entender o que ele queria agora. Não que ela tivesse ficado infeliz com a visita, na verdade, ela se sentia aliviada.

"Fica a vontade." Disse Sara, soando um pouco estranha. Simon não podia culpá-la.  Ele sentiu a tensão também. "Vou fazer um café e podemos conversar."

Simon assentiu com cuidado. "Sim, eu... eu gostaria disso."

"Ok." Sara apontou para a mesa da cozinha e Simon se sentou na beirada de uma das cadeiras.

Simon se forçou a soltar as mãos e as apertou contra a superfície da mesa, tentando acalmar seus tremores constantes. Ele não tinha ideia do que iria acontecer a seguir, ou o que Sara iria dizer ou fazer com ele.

Eu fiz a coisa certa.

Se ele tinha feito a coisa certa, por que ele se sentia tão doente?

Sara o observava enquanto procurava o café no armário. "Você tem se alimentado ultimamente?"

A pergunta confundiu Simon por um momento. Ele se lembrou de acordar essa manhã e se forçar a comer apenas uma maçã que ele mal deu uma mordida. Lembrou-se de ter bebido no dia anterior e vomitar todo o álcool e pílulas que estavam em seu organismo. Ele não conseguia se lembrar de uma única refeição. "Eu... não. Não desde... uhm..."

Sem dizer nada, Sara caminhou até a geladeira e a abriu. Ela olhou para dentro por um momento, e então tirou várias coisas, antes de ir para a despensa e fazer o mesmo.  Simon olhou para ela por um segundo, mas então voltou os olhos para suas próprias mãos. Parecia mais fácil assim. Parecia mais fácil ignorar que ele e sua irmã eram praticamente estranhos agora.

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