Capítulo 1

1.9K 113 16
                                    

Você acredita que é possível se apaixonar por um único olhar? Bem, eu, Emma Swan, fui obrigada a acreditar que sim.

Era horário de almoço na loja da minha família, onde eu trabalhava desde os quinze anos. Já levava quase dois anos sentada atrás daquele bendito balcão. Fiz amizade com muitos clientes e meus melhores amigos trabalhavam comigo. Costumava almoçar com meus pais em um restaurante perto dali, mas, naquele dia, eles tiveram um imprevisto e não conseguiriam chegar a tempo. Para não atrapalhar o horário de almoço dos demais funcionários, pediram que eu fosse sozinha, meia hora mais tarde do que o combinado. Eu fui a contragosto, mesmo sem gostar de fazer nada sozinha. Caminhei até lá contando os passos, tentando controlar a insegurança. Por ser muito tímida, eu sempre andava cabisbaixa.

Entrei no restaurante e me arrastei até a fila do self-service pegando um prato por puro instinto, ergui a cabeça por um segundo no mesmo instante em que o destino resolveu que seria engraçado brincar comigo. As opções de salada estavam bem na minha frente e era só pegar o que me agradava, colocar no prato e seguir a fila como sempre fiz. No entanto, dessa vez fui impedida de seguir minha rotina. Ao erguer o rosto, antes mesmo de colocar qualquer folha de alface no prato, fui atraída para o preto de um profundo abismo dentro do mais belo olhar que já vi em toda minha vida. Eu não sabia absolutamente nada sobre a dona daquele olhar. Só sabia que ela estava na fila do outro lado, de frente para mim.

 A sensação era de que nossas almas estavam dançando através daquele olhar. Sem conseguir conter a onda de eletricidade que passou pelo meu corpo, minhas mãos tremiam. Tudo o que me atingiu foi sua imensidão e profundidade. Parecia que aquela mulher tinha um universo inteiro dentro dos seus olhos.

Segui a fila sem prestar atenção, apenas para não me desvincular daquele olhar hipnótico. Quando estava quase chegando às sobremesas, notei meu prato vazio. Peguei uma carne qualquer mal vendo o que fazia, apenas para aproveitar meus últimos segundos admirando a dona daquele olhar.

As duas filas se uniram em uma única indo em direção à balança. Eu a deixei passar na minha frente e ela deu um breve sorriso em agradecimento. Logo em seguida a perdi de vista.

Até mesmo o rapaz da balança que já me conhecia, perguntou se eu estava bem, afinal, não tinha me servido de quase nada. Estava tão extasiada que minha mão ainda tremia quando peguei o cupom para o pagamento.

Fui até uma mesa num canto qualquer e me sentei  tentando entender o que eu sentia. Por que um simples olhar me desestabilizou tanto? Como tinha me tirado do eixo daquela maneira? Será que eu estava ficando maluca?

Respirei fundo tentando soltar o ar devagar. Comi um pouco, mas meu estômago ainda se revirava. Voltei à loja ainda tensa e sentindo que precisava conversar com alguém. Talvez, se contasse aquilo em voz alta, eu pudesse perceber que estava fantasiando demais. Era só uma mulher, com os olhos mais lindos que eu já pude ver, nada além disso.

Por sorte o dia estava muito movimentado, então pude ocupar minha mente e minhas horas com os clientes e o trabalho, embora minha concentração não estivesse das melhores.

Como de costume, faltando quarenta minutos para o fim do expediente fui para a frente da loja com Ruby, minha melhor amiga e colega de trabalho. Gostávamos de observar o movimento da avenida enquanto conversávamos no final do dia, e aproveitei o momento para finalmente desabafar. Contei sobre o ocorrido na hora do almoço e ela ficou super curiosa, me fazendo um milhão de perguntas. Eu nem sabia explicar a maioria das coisas; só de lembrar daquele olhar, parecia que o ar iria me faltar outra vez.

De repente, percebi que o universo estava mesmo querendo me tirar a sanidade. Olhando pela avenida, notei uma mulher caminhando em nossa direção, o que seria normal se ela não chamasse a minha atenção, mesmo estando a uns duzentos metros de distância. Pelo caminhar, eu sabia que era ela. 

Comentei com Ruby e ela riu. 

— É impossível reconhecer alguém a essa distância — disse ela. 

Poderia ser verdade em circunstâncias normais, mas aquilo era diferente de qualquer coisa que eu já tinha vivido antes; e quando ela se aproximou, pude confirmar minhas suspeitas. A mulher passou sem me notar, mas eu observei um pouco mais àquela que havia tomado meus pensamentos por toda a tarde. Era claramente mais velha que eu, tinha uma postura elegante e um jeito firme de andar, seu semblante sério não indicava nenhuma antipatia, pelo contrário, parecia uma mulher serena, madura e incrível. Só por vê-la passando senti meus nervos dormentes por horas a fio.

Passei a dedicar meu horário de almoço e finais de tarde para procurar por ela e quem sabe assim encontrar o seu olhar mais uma vez.

Também passei a almoçar sozinha, sempre meia hora depois do meu antigo horário habitual, apenas para ver se a sorte me favorecia naquele dia. Esperava ansiosa pelo momento em que ela entraria no restaurante e então eu entrava logo atrás para vê-la na fila. No final da tarde,  meus momentos na frente da loja se tornaram uma espera ansiosa para vê-la passando do outro lado da rua.

Algumas vezes minha espera era em vão e ela não aparecia, mas todas as vezes que meu olhar a encontrava, meu corpo reagia involuntariamente sempre da mesma maneira: minhas mãos tremiam, minha boca secava e meu estômago revirava. Talvez fossem as tais borboletas no estômago que eu já tinha lido em tantos romances, que me deixaram extasiada, fazendo valer a pena toda a espera e expectativa, para encontrar apenas um olhar por encontro e nenhum contato a mais.

Aquele Olhar | SwanqueenOnde histórias criam vida. Descubra agora