Algumas semanas se passaram e eu comecei a levar algumas amigas, incluindo a Ruby, para almoçar comigo e "conhecer" – mesmo que à distância – a mulher por quem eu já me considerava apaixonada. Sempre que me referia a ela, a chamava de Helena, por ser um nome que sempre achei forte, e no meu ponto de vista, representava perfeitamente aquela mulher: doce, madura, elegante e profunda, que eu ansiava por conhecer. Eu sonhava com o futuro que poderíamos ter juntas, imaginando como poderia fazer isso se tornar realidade. Parecia impossível!
O final de ano se aproximava e, com ele, minha crescente preocupação com o recesso. Será que ela tiraria férias? Quanto tempo passaria sem aparecer? Talvez ela nem voltasse! Eu precisava tomar uma atitude rapidamente. Então, tomada pelo maior impulso da minha vida, temendo a possibilidade de nunca mais poder vê-la, sentei em frente ao computador e comecei a escrever uma carta.
Como escrever para alguém que nem se sabe o nome e que não faz ideia da sua existência? Era difícil, mas fiz mesmo assim. Fui sincera, escrevi que sentia que nos conhecíamos de algum lugar e que mesmo sem saber o nome dela, eu a admirava muito, pois seu olhar me passava tranquilidade e confiança. Me apresentei em algum momento da carta, e finalizei com meus melhores votos de Feliz Natal e Feliz Ano Novo.
A primeira parte daquele plano imaturo bolado por uma adolescente impulsiva estava finalizada, a carta estava pronta e impressa. As coisas de repente pareciam mais reais na minha cabeça, como se eu tivesse dado um passo importante e agora só precisava entregá-la. O problema era que apesar da minha imensa vontade de conhecer aquela mulher, eu ainda era a menina tímida que se escondia entre as prateleiras da loja para evitar contato com os desconhecidos no balcão.
O Natal se aproximava e eu estava ficando sem tempo. Queria ter coragem suficiente para continuar meu plano – me odiava por ficar empacada por algo tão bobo – no fim, acabei aceitando que precisaria de ajuda e tive outra ideia maluca para resolver meu problema.
Passei a almoçar diariamente com a Ruby, ela era muito mais cara de pau do que eu. Meu plano era que ela se encarregasse de entregar a carta em meu nome. Era um bom plano e Ruby, como sempre foi mais que minha melhor amiga e até mesmo uma irmã para mim, prontamente topou me ajudar. No entanto, dois dias se passaram e minha Helena não tinha voltado a aparecer. Comecei a ficar ansiosa, temendo que ela já estivesse de férias e eu tivesse perdido minha única chance. Entretanto, no terceiro dia de espera, uma terça-feira, três dias antes do Natal, ela apareceu me arrancando um suspiro aliviado.
Eu já estava comendo quando senti a sensação inexplicável de sua presença, então só precisei erguer o olhar para procurá-la, pois minha Helena certamente estava ali. Passei os olhos pela entrada do restaurante e lá estava ela, cercada de amigos. Seria mais difícil abordá-la para entregar a carta, mas não desisti e sabia que isso não seria um problema para minha amiga. Terminamos de comer e esperamos. Eu sentia meu coração palpitar de ansiedade.
Quando a morena se levantou e foi à fila do caixa, me levantei e a segui, parando atrás dos amigos dela. Era o momento ideal, Ruby a abordaria quando ela saísse do restaurante e eu ainda estaria na fila enquanto Helena esperaria os amigos. Tudo estava saindo como planejado, então respirei fundo para me concentrar.
Não tirei os olhos da cena, Ruby a alcançou, falou algo e entregou a carta. A mais velha abriu um grande e lindo sorriso no mesmo momento em que o amigo dela finalizou o pagamento. O caixa me chamou, porém, antes de conseguir avançar, meu coração saltou pela boca ao vê-la abraçando minha amiga.
A tremedeira se tornou ainda mais evidente enquanto eu pagava a conta e mil coisas passavam pela minha cabeça. Primeiro, aquilo finalmente estava acontecendo. Era um passo inestimável em direção ao meu conto de fadas e estava acontecendo bem ali, do meu lado. Segundo, era pra eu ter recebido aquele abraço. Passei meses sonhando com esse momento, mas fora minha amiga quem o recebera, simplesmente por eu ser uma tímida idiota, incapaz de entregar uma simples carta para a mulher que eu amava. Isso fez meu coração doer tanto, que depois daquilo, eu só conseguia sentir raiva de mim mesma, da minha vergonha, da minha covardia e, principalmente, da minha infantilidade.
Elas ainda estavam conversando quando saí do caixa, o que fez o nervosismo tomar conta do meu corpo. Sem pensar ou me controlar, entrei no banheiro a poucos metros da saída e encarei meu reflexo no espelho.
O que eu estava fazendo? Minhas bochechas queimavam, vermelhas. Eu suava frio e meu coração parecia bater tão forte que meu corpo inteiro pulsava no seu ritmo acelerado. Respirei fundo outra vez e prometi para mim mesma que aquela era a última vez que minha timidez me privaria de momentos como aquele. Se eu não conseguia nem começar aquela história, então não adiantava ficar fantasiando com meu conto de fadas.
Tentei controlar minha respiração e saí do banheiro, dando de cara com uma Helena me olhando com curiosidade. Aquele olhar que fazia meu chão sumir junto com o meu ar. Fui pega totalmente desprevenida e esperei que ela não percebesse que meus joelhos poderiam ceder a qualquer momento.
— Oi, tudo bem? Recebi sua carta, vim te agradecer antes de ir embora — ela sorriu adoravelmente.
Retribui o sorriso, ainda tímida, enquanto andávamos lado a lado para a saída.
— Você vai estar aqui amanhã? — ela perguntou, e dessa vez consegui pelo menos responder que sim. Ela sorriu mais uma vez. — Nos vemos amanhã, então, obrigada de novo.
Dessa vez, ao terminar a frase, era eu quem estava em seu abraço. Fechei os olhos por um segundo e pude jurar que estava nas nuvens. Podia sentir a textura de seu cabelo, seu cheiro adocicado que me lembrava maçãs. Estava acontecendo! Suspirei disfarçadamente e sussurrei um "de nada" tão baixo que nem sei se ela me ouviu.
— Ah, esqueci de me apresentar! Meu nome é Regina Mills.
— Sou Emma — tentei não gaguejar. — Emma Swan.
— Nos veremos amanhã então, Srta. Swan.
Eu sorri e então nos despedimos. Ela seguiu seu caminho, e eu flutuei de volta pra loja acompanhada pela Ruby. Eu estava leve, não parava de sorrir. Agora, meu olhar preferido tinha um cheiro maravilhoso que não me sairia da memória, um nome lindo, e um sorriso mais maravilhoso.
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Aquele Olhar | Swanqueen
Short StoryEmma leva uma vida confortável trabalhando na loja da família e seguindo a mesma rotina todos os dias. Até que seu olhar cruza acidentalmente com o de alguém que marcará sua vida para sempre. É possível se apaixonar através de um único olhar? _____...