Prólogo

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Casamento arranjado é o antigo GYPSY, porém com nova revisão, nova capa e título. 

 

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O nascimento de Sara

18 anos atrás

SORAIA

Era pequenina, tão linda.

Seus olhos cor de avelã, marejados, estavam fixos em mim como uma conexão inexplicável. Eu a segurava me sentindo realizada e repleta de sentimentos maravilhosos.

Ela era minha... minha promessa... a expressão do amor absoluto, puro e verdadeiro...

Quando me casei com seu pai esperei por um filho por meses, anos. Já havia perdido a esperança de que seria mãe, mas quando menos esperei lá estava ela, crescendo em meu ventre me dando a certeza de que a promessa estava sendo cumprida.

Mês a mês foi um misto de incertezas até escutar o primeiro choro e até este momento: no seu banho de moedas.

— Minha Aurora, minha deusa da manhã — sussurrei em seu ouvido, sem que mais ninguém escutasse o primeiro nome. Somente eu saberia qual era até o dia em que fosse se casar. E ela faria da mesma forma com suas filhas um dia.

Era assim que sua história e seu destino começariam a serem traçados pelos ventos.

Após sussurrar um dos seus nomes, agradeci à Sarah Kalí pelo presente e a dádiva que me concedeu ao gerar minha menina. Em seguida mergulhei seu corpo dentro da bacia com água e com uma das mãos peguei um punhado de moedas de ouro e as deslizei lentamente pelo seu corpo, desejando prosperidade, saúde, fortuna, amor e que em toda sua existência ela fosse feliz.

Ela chorou e sorri diante da imensa felicidade que sentia.

— Não imaginei que poderia ser tão feliz como nesse momento. Eu a amo! — A retirei e aconcheguei-a em meu peito, protegendo-a com meus braços. — Não chore bebê... — sibilei um som na tentativa de acalmá-la.

— Obrigado por ter me dado este presente! Eu a amo com tudo que sou! — Senti a massa corpulenta ficar logo atrás ao mesmo tempo que o hálito quente e a voz grave e pesada chegou aos meus ouvidos.

— Sou eu que devo agradecê-lo. Obrigada por ela, por ser um marido maravilhoso. — Me virei e deixei nossa filha entre nós.

Valter me olhou e, com um lindo sorriso estampado em seu rosto, depositou em seguida seus lábios em minha testa.

— Já soprou aos ventos o nome de nossa filha?

— Sim! — respondi.

Todo cigano tem mais de um nome, o primeiro que somente os ventos sabem, o segundo que é pelo qual somos chamados e conhecidos pela nossa família. Era passado de pai para filho desde o princípio.

— Seu nome será Sara, a princesa, a desejada. No dia em que se casar saberá como a te recebi e a te chamei pela primeira vez — disse baixo, sentindo minha fala embolar em meio ao choro de emoção que estava sentindo.

Quis muito por esse momento.

E toda profecia se cumpriu.

— Soraia, diga o nome que poderemos chamá-la — Valter pediu em um sussurro, me lembrando de que toda nossa família estava ao nosso redor, esperando por esse momento desde o instante em que uma de suas primas profetizou.

— A chamaremos de Sara, a princesa, como nossa Santa Sarah Kalí. — Valter me abraçou enquanto os urros de vivas e os acordes do bandolim, misturados com as notas do violão ao toque do pandeiro, revoaram por todo ambiente em comemoração ao nascimento de minha menina, da minha promessa cumprida.

Sara Rosberg...

Para mim e para sempre minha Aurora, a deusa das minhas manhãs.

— "Thie Avel Hertô" — Que Deus te Salve e te guie! — disse em ROM.

— Que seus dias sejam mais felizes ainda. Sara será uma grande mulher. — Nazira, a prima de Valter, se aproximou e pediu para pegar Sara. Esticou os braços e se prontificou a enrolá-la em uma manta de tear. A entreguei e ainda sorrindo ela olhou diretamente para os olhos da menina em seu colo.

A prima de meu marido era uma linda mulher, conhecida por todos os acampamentos por seu talento em revelar nos jogos de cartas, no nosso tarô.

— Um dia o Protetor cuidará da Princesa com sua vida e dará a ela todo seu amor e seu coração — mantendo toda sua atenção em Sara ela disse e por fim sorriu proferindo algumas bênçãos sobre sua vida.

— Obrigada, Nazira. Jamais poderei retribuir...

— Jamais me agradeça, apenas cuide para que Sara cresça em graça e seja uma grande mulher, não a deixe se desviar do seu caminho nem sequer um dia.

Respirei fundo e assenti pegando novamente minha filha dos seus braços.


Sarah Kalí padroeira e protetora do povo cigano.

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