New Wave, Niko's e Nós!

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Arthur Silveira encarava seus quatro amigos que estavam em seu quarto apertado.

Dois deles estavam na cama, Juliano e Théo, e havia Lara na cadeira de rodinhas, em sua mesa de estudos antiga e Caio, no chão, de pernas cruzadas fingindo tocar alguma coisa em um violão invisível. Eles eram amigos desde o fim do ensino médio, há três meses, e decidiram que juntos conseguiriam formar uma banda. Afinal, eles haviam tocado no baile de formandos da escola e todo mundo aplaudiu por mais que educação, Arthur sabia diferencia música boa e música ruim e, eles eram realmente muito bom juntos.

Só que havia um problema agora entre eles: Arthur tinha uma outra vida que não podia mostrar para os amigos. Desde que sua mãe morreu de câncer há dois anos, ele vivia como podia naquele kitnet antiquado, antes trabalhava em uma lanchonete no final da esquina, mas acabou sendo demitido. Desde então, ele precisava pagar o aluguel do lugar senão seria mandando embora e o dono não era lá mil simpatias. Foi então que ele se meteu com pessoas que, em sua opinião, eram bastante estranhas. Era um grupo de caras que ficava perto do supermercado, fumando durante a manhã e logo depois sumiam, mas sempre voltavam no fim da tarde.

Arthur os seguiu uma vez, no final de semana, e soube para onde eles iam.

Era uma boate que ficava um pouco longe de onde ele morava. Na parte mais favorecida da cidade. O Hot. As pessoas conheciam aquele lugar, conheciam principalmente, porque era a única balada gay que havia por ali. O primeiro pensamento de Arthur foi "credo", mas depois, segundos depois, ele pensou "será?"

Ser garoto de programa não estava em seus planos — nunca esteve, sua mãe ficaria horrorizada —, mas as pessoas tinham que se submeter a coisas que não gostavam se quisessem se manter de pé em um mundo que fazia questão de dar uma rasteira na primeira oportunidade. Arthur conhecia as rasteiras muito bem: seu pai lhe deu uma rasteira quando foi embora assim que ele nasceu, deixando sua mãe apenas com duzentos reais furados que não durou nem dois meses. Seus antigos amigos lhe deram uma rasteira no ensino médio ao abandoná-lo quando ele mais precisou.

Ele não queria ser deixado para trás de novo, e estava tentando, de verdade, estava tentando se manter firme e convincente.

— E aí, o que vamos ensaiar hoje? — Juliano, que tinha cabelos lambidos para o lado e negros como a noite, perguntou. Ele também tinha um piercing no lábio inferior, o que só o deixava mais atraente.

— Por favor, nada melancólico — Lara implorou. Ela era boa na guitarra e a voz dela era forte. — Eu não quero ficar rouca após ter metido uma música depressiva num ensaio da tarde.

Arthur revirou os olhos. Sempre acontecia um debate para saber qual música eles iriam tocar naquela tarde. Não houve uma votação para decidir quem era o dono da banda, todos tinham uma certa voz nela, mas sempre era Arthur quem tinha as melhores ideias de ensaio, além de disponibilizar o lugar para fazerem isso. Era ele quem dava conta quando os membros brigavam — e Théo sempre adorava um bate-boca com qualquer um.

— Podemos ensaiar alguma música da Miley Cyrus de novo. Ou Cazuza. Algo do gênero New Wave, de novo?

New Wave era o gênero que eles mais se identificavam, apesar de ninguém mais conhecer tal gênero. O termo surgiu nos anos 80, e engloba o funk e o rock inicial, sempre havia uma pegada mais forte e intensa, com cores e sons elétricos. Uma coisa que eles sabiam fazer bem. Quando Arthur foi explicar o gênero para o pessoal, eles haviam gostado apesar de ninguém ter prestado muita atenção.

Eles gostavam de tocar e faziam isso bem, mas não havia muita concentração em ouvir.

Arthur pegou sua outra guitarra azul e a pôs nos ombros.

• Os Garotos do Hot • (CONTOS ERÓTICOS | Livro Extra dos Irmãos Laurent)Onde histórias criam vida. Descubra agora